Árvores x fios x calçadas – Burrices Urbanas
Burrices Urbanas

22
abril
Publicado por admin no dia 22 de abril de 2019

ARBORIZAÇÃO URBANA X PASSEIO

As árvores plantadas nas vias e praças públicas são elementos importantíssimos na paisagem para diminuir a temperatura ambiente, criar sombra, embelezar a cidade e contribuir para a redução do efeito-estufa no planeta.
Apesar dessas nobres e vitais funções, seu emprego pode ficar prejudicado, quando não se dá atenção aos cuidados mínimos quanto ao lugar de plantio, manejo, podas etc. Quando essas falhas acontecem, elas acabam “roubando” espaço do passeio e prejudicam a circulação dos pedestres. Vejamos alguns casos.

 

ARBORIZAÇÃO ERRADA OU INADEQUADA

Este é um capitulo dos mais importantes a serem observados na obstrução dos passeios e na degradação da nossa paisagem urbana. A arborização inadequada acaba não cumprindo suas funções básicas e, além de comprometer a mobilidade, pode causar riscos de acidentes às pessoas e prejuízos à cidade. Espécies vegetais mal escolhidas podem causar varias prejuízos à cidade, em que pese a boa intenção de quem as plantou.

RAÍZES AFLORADAS

Raízes invasoras: problema para calçadas e tubulações

É impressionante a quantidade de arvores inadequadas plantadas em passeios públicos, em termos de espécies, portes, sistema radicular etc. Exemplos são o Salgueiro Chorão, Flamboyant, Fícus, Paineira Rosa, Pau Formiga e outras largamente empregadas em nossas ruas e praças. Isso se dá por desconhecimento, improvisação ou amadorismo. São espécies belas e vigorosas, mas que exigem amplos espaços para seu desenvolvimento e esplendor. As raízes dessas plantas, inadequadas para os passeios, afloram à superfície ou destroem tubulações enterradas e todo o pavimento a sua volta, comprometendo a circulação e a segurança dos pedestres.


ÁRVORES X FIAÇÃO

Árvore deformada por poda irracional

Verdadeira guerra vem sendo travada entre os galhos das árvores e a fiação aérea urbana. E isso envolve todas as concessionárias de serviços cabeados, de energia elétrica ou de comunicações.

As podas realizadas para liberar essas fiações, são igualmente criminosas, pois se dão fora de tempo certo e não levam em conta sequer as técnicas mais básicas de poda, comprometendo a beleza das copas, a natureza e o ciclo natural de crescimento das plantas.

Plantar árvores de espécies inadequadas nos passeios, no mesmo lado dos postes e abaixo da fiação elétrica, bem como proceder a podas violentas e inoportunas, só contribui para danificar as arvores, prejudicar suas finalidades, aumentar riscos e comprometer a paisagem urbana.

A solução mais adequada (e custosa) para o problema seria a implantação de cabeamento subterrâneo nessas áreas urbanas, alternativa também mais segura contra acidentes. O custo é elevado, cerca de oito vezes o de uma rede elétrica aérea, mas os ganhos sociais e urbanos são inegáveis.

Outra alternativa é a implantação de redes de distribuição compactas, com cabos isolados e dotados de “grampos” que mantêm os cabos numa área bem mais restrita. Essa opção permite reduzir drasticamente a necessidade de podas.

Área de poda necessária para uma rede elétrica compacta e para uma rede convencional. Fonte: Copel 1995.

MURETAS E CANTEIRINHOS

Os complementos na base das árvores na forma dos “canteirinhos” ou “colares” são um atentado ao bom senso e à sanidade das espécies (vegetais e animais). Não protegem as árvores de choques ou vandalismo, nem impedem o crescimento descontrolado de suas raízes.

Só servem para prejudicar o desenvolvimento natural da planta, atrapalhar a circulação, além de impedir que a água de chuva do passeio possa penetrar melhor na raiz, irrigando-a. Do ponto de vista de saúde publica é sempre um depósito de urina e fezes caninas, sem nenhuma higienização.

 

VEGETAÇÃO AGRESSIVA

A inadequação no plantio, a falta de manutenção e manejo acarretam verdadeiras agressões e desrespeito aos pedestres, que precisam se desviar ou fazer verdadeiros malabarismos para prosseguir nas suas caminhadas, sem riscos. Vejam o limite revoltante e perigoso que chega esses níveis de obstrução e irracionalidade nos exemplos mostrados.


TRONCOS, POSTES E GUIAS PINTADAS

Como se não bastassem as intervenções maléficas já apontadas, algumas prefeituras acabam pintando suas bases com verdadeiras golas brancas, sem nenhum sentido, achando que estão embelezando ou higienizando a cidade.

Pintar ou fazer “gola” em arvores, bem como em postes, guias e sarjetas é uma coisa burra, desnecessária e brega, um defeito cultural, de herança rural, que não contribui em nada para a proteção das árvores, o aspecto de limpeza da cidade ou mesmo o fluxo de trânsito. Serve somente para esconder defeitos ou doenças, além de gastar tinta ou cal inutilmente, ou ainda ocupar mão de obra ociosa.

Essas peças, se deixadas aparentes, nas suas cores naturais, desde que limpas, saudáveis e conservadas, ficariam mais bem apresentadas, como acontece em todas as cidades do mundo culturalmente desenvolvido.

 

PROTEÇÃO DE ÁRVORES PEQUENAS

Quando as proteções de espécies recém-plantadas se tornam necessárias, elas não podem se transformar em obstáculos ou atentados visuais, que chamam mais a atenção que a planta, ou ainda em suportes desmedidos de propaganda dos patrocinadores. Tutores e proteções discretas são recomendados.

PROPOSTAS E CAMINHOS DE SOLUÇÃO PARA A ARBORIZAÇÃO URBANA

As soluções para esses problemas ligados à vegetação urbana passam por varias atitudes. Tecnicamente por projetos corretos, feitos por profissionais habilitados competentes, que especificam as espécies mais adequadas ao lugar, compatíveis com os objetivos de sombreamento, o clima, o solo e a geografia, ao tamanho dos passeios, ao desenvolvimento radicular e do tronco, o manejo e manutenção permanentes, a não pintura das golas brancas, a eliminação pura e simples dos canteirinhos ou muretas, ao uso de proteção somente das arvores pequenas em formação, discretas e com bom desenho.

Há uma infinidade de árvores, frutíferas ou ornamentais, que podem ser plantadas nos passeios e calçadas, sem destruí-los com suas raízes, e que oferecem colorido à paisagem com suas flores e frutos, que por sua vez atraem pássaros.

Claro que devem ser feitas adaptações locais, em função da área disponível, do clima, do solo, mas estas não têm contraindicação.  Há vários manuais disponíveis na internet, mas aqui vão algumas indicações e princípios objetivos:

  • Frutos: quando próximas às vias, as árvores não devem possuir frutos muito grandes, pois pode cair sobre pessoas ou carros;
  • Raízes: não devem ter sistema radicular muito superficial nem muito agressivo, uma vez que podem romper calçadas e prejudicar instalações subterrâneas;
  • Crescimento e fragilidade: evitar aquelas de crescimento muito rápido, pois apresentam madeira mais mole e frágil, e, portanto, mais suscetível à quebra ou queda;
  • Espinhos e toxicidade: evitar aquelas espécies que apresentam espinhos e propriedades tóxicas em suas folhas ou frutos;
  • Árvores e fios: atentar para o porte da espécie arbórea e o local onde será plantada, observando características da copa e raízes, evitando interferências na rede elétrica;
  • Solo permeável: garantir uma área permeável em volta das árvores, permitindo espaço para o desenvolvimento radicular e correta infiltração de água e aeração do solo;
  • Diversidade vegetal: priorizar a diversidade genética nos projetos a fim de evitar a propagação de doenças e propiciar diferentes estágios fenológicos.


BOAS SOLUÇÕES

Abaixo, algumas indicações e soluções para a arborização e detalhes complementares.

Detalhes Complementares: acabamentos bem feitos nos passeios.

O importante é abrir espaço para o tronco e sua irrigação, sem estrangulá-lo.


Na cidade de Mendoza, Argentina, as árvores são irrigadas através das aceguias que conduzem as águas de degelo dos Andes por toda a cidade.

Referências:
Archdaily
https://www.archdaily.com.br/br/880359/20-especies-nativas-para-arborizacao-urbana

Trees are good
https://www.treesaregood.org/portals/0/docs/treecare/Plantio%20de%20Arvores.pdf

Sosma
https://www.sosma.org.br/participe/plante-uma-arvore/

Uesb
http://www.uesb.br/flower/alunos/pdfs/arborizacaoviaria_rede%20eletrica.pdf



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Burrices Urbanas Edison Eloy de Souza é um experiente arquiteto urbanista formado em 1965 pela FAU/USP, com mestrado pela Universidade São Judas. Trabalhou em planejamento urbano, em projeto e construção de edificações, foi professor universitário em várias instituições, e diretor de entidades profissionais, como o Instituto de Arquitetos do Brasil e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Autor de livros e artigos em publicações especializadas brasileiras, Edison é sobretudo um observador atento das belezas e problemas comuns às ruas e praças do Brasil.
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