Macapá: ruas largas e calçadas inacessíveis

Colaboradores da Campanha Calçadas do Brasil em Macapá comentam a situação de acessibilidade e caminhabilidade na capital amapense

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 09 de agosto de 2019

Trecho da Rua Guanabara, em frente a uma garagem d

Rua Guanabara, em frente a uma garagem da polícia civil

créditos: Vanessa Nascimento

Capital mais ao norte do Brasil, localizada na linha do Equador, a cidade de Macapá reúne quase 500 mil habitantes  nos 6.503 km2 de seu município. A cidade integra a Região Metropolitana de Macapá (RMM) junto com os municípios de Santana e Mazagão, que passam por um processo de conurbação. No total, cerca de 510 mil habitantes vivem da região metropolitana.

 

Uma equipe de colaboradores voluntários aderiu ao desafio de avaliar a acessibilidade e caminhabilidade nas ruas de Macapá, dentro da Campanha Calçadas do Brasil 2019 há alguns meses. Participaram da ação as estudantes de arquitetura Amanda Ferreira Martins e Vanessa Helena Pires da Costa do Nascimento, ambas da Universidade Federal do Amapá (Unifap), além de André Luis Costa da Silva, estudante de engenharia da Unifap e membro do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de Transporte e Geotecnia (NPTTG) da instituição. A pedido do Mobilize Brasil, em entrevista por email, André Luis comentou as avaliações realizadas e a situação do pedestre na capital amapaense. 

 

Em que condições a equipe de Macapá encontrou a cidade quanto à possibilidade de uma pessoa caminhar ou circular com uma cadeira de rodas?
Segundo as análises dos avaliadores, as condições de tráfego para uma pessoa com cadeiras de rodas se mostraram precárias em todas as áreas de Macapá, devido às irregularidades das calçadas, obstáculos e até mesmo à largura dos passeios destinados aos pedestres. E isso, claro, inviabiliza o fluxo contínuo das pessoas, mesmo daquelas que podem caminhar normalmente. Durante a preparação do trabalho de avaliação procuramos localizar projetos ou propostas da prefeitura para melhorar essas condições, mas não encontramos nada que seja de conhecimento público. 

 

De que forma foram selecionados os locais e quanto tempo levou esse trabalho de avaliação?
Conforme a recomendação do formulário de avaliação, nós priorizamos o entorno dos edifícios públicos com grande fluxo de pedestres, ou locais com intensa utilização do espaço público. Além disso, optamos por áreas que estão em grande expansão urbana, no caso a Zona Norte de Macapá. 

 


Rampa fora dos padrões de norma  Foto: André Luis Costa da Silva

 

Em relação ao que viram no trabalho de campo, vocês acham os critérios adotados nos formulários foram adequados para avaliar a caminhabilidade em Macapá? Poderia dar um exemplo?
Os critérios do formulário da Campanha são de uma abrangência adequada, mas obviamente nem todas as realidades de cidades têm as características que foram propostas para se avaliar. Por exemplo, mapas e placas de orientação não existem nem sequer nos pontos turísticos da cidade, talvez porque a administração pública não veja isso como uma prioridade em seus investimentos. E a população não tem referências para exigir esse tipo de sinalização. Além disso, sentimos falta de uma avaliação específica para o piso tátil, que é negligenciado na maioria das calçadas da cidade.  

 

"Em Macapá, as pessoas veem a mobilidade ativa como última opção. E isso se deve às péssimas condições da infraestrutura"

 

Olhando agora para o resultado final das avaliações, o que a equipe concluiu sobre o cuidado público com as calçadas e outras infraestruturas para o pedestre? Que solução urbanística ajudaria a melhorar a caminhabilidade nessas áreas?
Os edifícios públicos, praças, parques e outros equipamentos mantidos pelo Estado deveriam ser os primeiros a se adequar às normas vigentes, servindo de exemplo para os demais. Geralmente os órgãos federais avaliados têm melhor estrutura, enquanto as edificações estaduais e municipais contam com uma estrutura inferior, mesmo naqueles locais com grande fluxo de pessoas, como a Maternidade Mãe Luzia e o Hospital de Emergência Osvaldo Cruz, por exemplo.  Se esses órgãos públicos têm esta infraestrutura tão precária, a população não será motivada a gastar recursos para melhorar as calçadas em suas casas. Ficou claro que o poder público não dá a mínima importância para o assunto: falta orientação para a população, falta informação e não há assistência técnica dos órgãos de controle. 

 

Que propostas seriam adequadas para melhorar a caminhabilidade?
Em geral, as pessoas em Macapá veem a mobilidade ativa como última opção. E isso se deve às péssimas condições da infraestrutura. Vou listar alguns pontos: Na arborização, falta planejamento e há grandes espaços intercalados sem nenhuma vegetação. Numa cidade quente como Macapá, isso desmotiva a pessoa que queira caminhar em vez de usar um carro. Em relação à acessibilidade, tanto as rampas como o piso tátil são raros na cidade e, quando existem, são construídos fora das normas. No item mobiliário urbano, observamos que vários trechos não contam com nenhum apoio para descanso ou abrigo aos pedestres; e os existentes sofrem com a falta de manutenção. Por fim, não há aqui nenhum mapa ou placa para orientação do pedestre. Como proposta, deve-se iniciar campanhas de conscientização e a elaboração de cartilhas que orientem as pessoas sobre as dimensões adequadas para as calçadas, sobre como dispor o mobiliário urbano, materiais adequados e também a indicação de espécies de árvores. Acho que tudo começaria por esse ponto: educação e informação.

 

Conheça a equipe de Macapá



Amanda Ferreira Martins
é acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap), coordenadora de Finanças e Patrimônio do Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da Unifap e estagiária no Projeto Macapá 300 anos



André Luis Costa da Silva
é acadêmico de Engenharia Civil,  monitor-bolsista e membro do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de Transporte e Geotecnia na Universidade Federal do Amapá (Unifap). É também diretor geral da organização Engenheiros Sem Fronteiras  - Núcleo Macapá



Vanessa Helena Pires da Costa do Nascimento
é acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap), bolsista do Provic -Unifap  e estagiária no Projeto Macapá 300 anos

 

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