Cadeirantes de Belém reclamam de calçadas e se arriscam nas ruas

Passeio irregular faz com que cadeirante prefira se arriscar junto aos carros. Segundo lei de trânsito, pessoa com deficiência não pode andar na rua

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Fonte: G1 PA  |  Autor: Ingo Müller  |  Postado em: 14 de janeiro de 2014

Cíntia Costa e Naná Mafra relatam o desafio de and

Cíntia e Naná contam desafio de andar em Belém

créditos: Gustavo Pêna / G1

 

Naildes Mafra, a Naná, faz parte da Seleção Brasileira de Basquete em cadeira de rodas desde 1999. A atleta já venceu campeonatos internacionais e até representou o Brasil nas paralimpíadas mas, apesar do desempenho excepcional nas competições, sente dificuldades em vencer adversários do cotidiano, como as calçadas de Belém (PA).

 

“Infelizmente é muito mais fácil andar pela rua, com o risco de ser atropelada. As calçadas são irregulares, com buracos, elevações, obstáculos e temos que ficar tentando descobrir se do outro lado terá acessibilidade. Para completar, os carros são estacionados no lugar onde deveríamos transitar. Nada é fácil para o cadeirante”, disse a atleta.

 

Segundo Renato Nogueira, proprietário de uma loja especializada em cadeiras de rodas, a maior parte dos clientes se desloca de forma semelhante a Naná, no meio da rua, já que a calçada consegue ser mais prejudicial para o cadeirante do que o ato de disputar espaço com os carros. “Nas calçadas a depreciação do piso é maior do que no asfalto, onde há uma estabilidade melhor para se locomover com a cadeira. Mas é perigoso andar na rua, a pessoa corre risco”, explica.

 

Cíntia e Naná se expõem ao risco ao andar na rua, disputando espaço com os carros (Foto: Gustavo Pêna / G1)Cadeirantes se expõem ao risco ao andar na rua,
disputando espaço com os carros
(Foto: Gustavo Pêna / G1)

De acordo com Nogueira, o modelo “top de linha” das cadeiras de rodas tem motor elétrico, é controlado por um joystick e alcança velocidades de até 12 quilômetros por hora. O preço é salgado: R$ 7,5 mil, bem mais caro que a cadeira de rodas básica, que custa R$ 320. Ainda assim, quem comprar o produto não poderia, em tese, trafegar nas ruas de Belém: o Código de Trânsito Brasileiro não prevê a cadeira de rodas como um veículo com acesso para vias destinadas a carros, motos e bicicletas.

 

Segundo o coordenador de operações de trânsito da Secretaria de Mobilidade Urbana de Belém, Panfílio Lobato, o cadeirante deve transitar pelos mesmos espaços dos pedestres. “A cadeira é um meio de locomoção para portadores de necessidades especiais para equipará-los a pedestres, portanto pode ser utilizada em calçadas, deve cruzar a via em faixas de pedestres, enfim, a cadeira motorizada dá ao PNE os mesmos direitos de circulação de um pedestre”, disse.

 

Problemas nos coletivos

A colega de time de Naná, Cíntia Carvalho, também relata dificuldades fora das quadras: para ela, um dos momentos mais difíceis é andar de ônibus. “Nem todos os ônibus de Belém apresentam adaptação para cadeirantes e deficientes. A porta do ônibus é estreita e as pessoas querem subir junto ou com pressa. A lateral da cadeira imprensa na porta e é arriscado até de quebrar. Infelizmente ninguém respeita muito. Tem parada de ônibus que não tem rampa e o jeito é ficar na rua”, desabafa.

 

Segundo a Semob, existem 1.371 ônibus em Belém, sendo que 839 estão adaptados para pessoas com deficiência – em toda região metropolitana, o número é de 1089 coletivos. Porém, os usuários dizem que nem todos estão em condições. “Alguns equipamentos não funcionam, estão sem manutenção, os cintos de segurança são sujos, não tem lugar para se apoiar. Às vezes vou falar e os motoristas dizem que a responsabilidade não é deles”, relata a cadeirante.

 

Cíntia diz que vagas para deficientes são difíceis de serem encontradas e, quando existem, costumam ser ocupadas por pessoas que não precisam de acesso facilitado (Foto: Reprodução / G1)Cíntia diz que vagas para deficientes
costumam ser ocupadas por pessoas que não
precisam de acesso facilitado
(Foto: Reprodução / G1)

Dificuldade com carros particulares

Mesmo que possua um carro adaptado, com controles manuais, o cadeirante também enfrenta problemas para transitar em Belém: na hora de estacionar seu veículo, todo motorista com dificuldades motoras deveria ser beneficiado por um decreto presidencial de 2004, que estabelece uma cota de vagas de estacionamento destinadas a deficientes, em locais sinalizados e perto das entradas. Na prática, isto não acontece. “Vaga para deficientes é um problema comum em Belém. São poucas, não são todos os estabelecimentos que oferecem essa facilidade”, reclama Cíntia Carvalho.

 

Segundo o decreto, estacionar nestes locais sem necessidade é uma infração de trânsito, passível de multa, mas as pessoas com deficiência dizem que falta fiscalização para inibir a prática. “Infelizmente os órgãos responsáveis não fiscalizam da maneira correta. Quando chegamos em determinado local, a vaga de estacionamento já está sendo usada por pessoas que não apresentam deficiência. Eles dizem que a parada é rápida e cabe a nós ficar esperando”, lamenta.

 

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