Considerada tanto a fagulha que pôs fogo no palheiro em junho bem como única conquista graças à revogação do aumento nas passagens (o que não é verdade), o certo é que a “pauta” transporte público tem sido, ao menos em São Paulo, a que mais provocou comichão nas autoridades competentes. Com o fio desencapado dos movimentos sociais a lhes açoitar as costas, os departamentos e secretarias de transportes resolveram arregaçar as mangas e trabalhar.
Centenas de quilômetros de faixas exclusivas para ônibus estão sendo implantadas na cidade, a integração do bilhete único entre ônibus, metrô e trens com preço mensal fixo finalmente saiu, a licitação de linhas foi suspensa para abertura das caixas-pretas das empresas contratadas, e por aí vai.
E mais medidas boas estão em andamento (o que não faz uma certa pressãozinha, não?)
A melhor delas, pelo olhar deste DCM que abraça a causa, foi anunciada ontem por Jilmar Tatto, secretário de Transportes. A integração do Bilhete Único com empréstimo de bicicletas está confirmada para início do próximo ano. Os ciclistas agradecemos!
Não se trata exatamente de um empréstimo. Pela mensalidade de 10 reais, o usuário liberará a bike do cavalete através de seu Bilhete Único e terá direito a uso por 30 minutos até a devolução em qualquer outro ponto de bicicletas (sem número limite de viagens). Ultrapassado o tempo, uma taxa é debitada a cada 30 minutos (tal qual o conhecido sistema já em vigor do Itaú em que, no entanto, é preciso utilizar um aplicativo de smartphone para soltar a magrela). “Queremos que o usuário possa integrar o transporte público com o uso das bicicletas, além das demais formas, de modo a ampliar as possibilidades de escolha de quem anda pela cidade”, disse Tatto.
Testes da iniciativa envolvendo 100 pessoas cadastradas foram realizados desde maio deste ano. A princípio estão previstas 134 estações (mais informações poderão ser obtidas em breve na página do Bike Sampa).
E, pasmem, não parou por aí.
Tida como importante demanda numa cidade que funciona 24 horas por dia, o secretário confirmou também a criação de linhas noturnas de ônibus já para o início de 2014. Um sistema que deve atuar com três frentes integradas: uma acompanhando o trajeto das linhas do Metrô entre 0h e 4h; outra ligando os terminais de ônibus e utilizando os corredores e faixas exclusivas; e mais uma saindo dos terminais mais afastados do centro em direção aos bairros.
A proposta é que o serviço funcione a cada 15 minutos entre terminais e nos corredores, e a cada 30 minutos nos terminais locais sentido bairro. “Queremos determinar os horários de chegada, partida e de passagem nos pontos, que poderão ser consultados pela população pela internet ou nas próprias paradas, para que as pessoas não fiquem esperando a condução por muito tempo”, disse Tatto.
Entretanto, nem tudo são flores.
Algumas linhas de ônibus foram cortadas recentemente, causando frustração e revolta sobretudo na tão sacrificada região do M’Boi Mirim. Um dia antes do anúncio de Tatto, o movimento Passe Livre fez um protesto nas dependências da SP-Trans no bairro do Pari, exigindo a volta das linhas extintas. Após a simbólica queima de catraca, a companhia compremeteu-se em avaliar e elaborar pesquisas acerca de quais linhas poderão ser reativadas. “Eles se sentiram pressionados mas a verdade é que já deviam ter avaliado isso há muito mais tempo. Exigimos uma data e pelo menos conseguimos um compromisso da parte deles”, disse Mayara Vivian, do MPL.
Numa cidade do tamanho de São Paulo, o transporte público é questão prioritária e exige o empenho que nunca havia sido demonstrado. Parace que as coisas começam a andar mas não se pode parar nunca.
Pedala, Tatto!
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