O Mobilize Brasil é uma organização que foi criada para estimular a mobilidade urbana sustentável e, logo de saída, estreou com o Estudo Mobilize 2011, primeiro trabalho brasileiro sobre o tema. O Estudo estabeleceu comparações entre algumas capitais brasileiras e permitiu detectar a enorme e escandalosa falta de informações sobre mobilidade nas bases de dados das prefeituras e governos estaduais, com raras exceções.

Entre 2011 e 2016 fizemos três fóruns de discussões, duas campanhas de âmbito nacional (Campanha Calçadas do Brasil e Campanha Sinalize!) realizamos dezenas de palestras e participamos de centenas de matérias jornalísticas em tevê, rádio, internet e mídia impressa. E até ganhamos algumas premiações. Mais importante, publicamos quase 10 mil notícias, além de vídeos, fotos, gráficos, mapas e estudos sobre mobilidade urbana.

Nesse meio tempo muita coisa mudou no cenário da mobilidade urbana no Brasil, a começar pela instituição da Política Nacional de Mobilidade, a Lei 12.587/2012, e da Lei Brasileira da Inclusão, ambas com grandes avanços para reverter a lógica que durante meio século privilegiou o automóvel, com enormes perdas para a vida nas cidades.

Houve também ganhos concretos, especialmente no crescimento da cultura da bicicleta e da infraestrutura para o uso de veículos a pedal nas cidades do Brasil. Hoje já são milhares de quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, além da disseminação de bicicletários e paraciclos em edifícios públicos e privados, e até nas promessas de campanhas eleitorais :-)

Os grandes desafios persistem em dois pontos extremos do sistema integrado de transportes. De um lado, as prefeituras recusam sua responsabilidade de fiscalizar, construir e manter as calçadas públicas, que continuam abandonadas, sujas, desconfortáveis e cheias de obstáculos. Quando cobrados, os prefeitos repetem cinicamente o bordão de que "a manutenção das calçadas é uma responsabilidade compartilhada entre o poder público e os donos e moradores dos imóveis". E nós respondemos com o dito popular "Cachorro que tem dois donos morre de fome", o que explica tudo.

Na outra ponta estão as grandes obras, que não passam dos projetos ou nunca ficam prontas: os monotrilhos de São Paulo, os VLTs de Cuiabá, Brasília e Goiânia, os metrô de Curitiba e Salvador, e as novas linhas do metrô de São Paulo - Lilás e Laranja - continuamente adiadas. Apenas o Rio de Janeiro, que recebeu Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, pode comemorar a construção de dezenas de quilômetros de BRTs, a nova linha Amarela do metrô e o novíssimo VLT do centro.

Em tempo, cabe lembrar que uma das principais reivindicações dos protestos de junho de 2013  - que também acompanhamos aqui no Mobilize - era justamente a melhoria do transporte público. A resposta política à época foi o chamado PAC da Mobilidade, que previa a realização de 328 projetos, dos quais 79 estão em obras e somente 15 foram concluídos.

Nada a comemorar? Claro que sim: o Mobilize tem apenas cinco anos, mas já conseguiu remexer o caldeirão da mobilidade. Parabéns para todos nós que lutamos por cidades mais humanas, saudáveis e divertidas.

PS.: Via Facebook, levamos um puxão de orelhas do professor Lúcio Gregori!
Esquecemos de citar a inclusão do Transporte como direito social na Constituição. Já falamos muito do assunto aqui no Mobilize, inclusive em editorial, mas justamente neste texto de aniversário esquecemos de citar essa importante conquista. Obrigado ao Lúcio!

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