Enquanto cidades modernas abrem cada vez mais espaço para as pessoas e restringem a circulação e o estacionamento de carros na área central, Brasília segue na contramão e retoma projetos de governos anteriores que incentivam o uso do automóvel. Como se sabe, isso apenas intensificará os congestionamentos, a poluição, o estresse e as dificuldades a pedestres e ciclistas.
As imagens do projeto para o final da Asa Norte, chamado de Trevo de Triagem Norte (TTN), evidenciam o viés rodoviarista, voltado ao transporte individual motorizado. Pedestres, ciclistas e usuários de transporte coletivo não aparecem sequer para ilustrar a proposta. A situação já bastante precária a quem se locomove sem carro irá piorar com mais pistas e obstáculos a transpor.
Projeção das futuras vias: nada além de carros Imagens GDF
A Política Nacional de Mobilidade Urbana tem como diretriz a “prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado”. Entre os objetivos da política nacional estão “proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade” e “promover o desenvolvimento sustentável com a mitigação dos custos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas nas cidades”. Quanto à política urbana, o Estatuto das Cidades estabelece entre as diretrizes a garantia do direito a cidades sustentáveis e a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído.
A Lei Orgânica do Distrito Federal dispõe que o transporte público coletivo tem caráter essencial e que o poder público deve estimular veículos não poluentes. Entre os objetivos da Lei Distrital n° 4.566/2011 (PDTU-DF) estão: “reduzir a participação relativa dos modos motorizados individuais”, “desenvolver e estimular os meios não motorizados de transporte”, “proporcionar mobilidade às pessoas com deficiência ou restrição de mobilidade”, “priorizar, sob o aspecto viário, a utilização do modo coletivo de transportes e a integração de seus diferentes modais” e “apresentar soluções eficientes, integradas e compartilhadas de transporte público coletivo no Entorno”.
Contraditoriamente, em notícia publicada em 12/7/2016, o governador Rodrigo Rollemberg afirma que as 26 intervenções no norte do DF (viadutos e pontes) “vão melhorar muito a qualidade de vida, sobretudo de quem mora na ala norte do Distrito Federal”. Ora, não é necessário ser especialista em mobilidade urbana para concluir que a região norte do DF requer um novo modelo de mobilidade urbana, com prioridade absoluta ao transporte coletivo. Qualquer leigo que pare e observe o movimento constatará os problemas: uso desigual do espaço, com muitos carros (a maioria ocupada apenas pelo motorista) e alguns poucos ônibus superlotados. Não há tampouco locais de travessia e caminhos seguros para pedestres, o que obriga as pessoas que chegam nos ônibus lotados a enfrentar um caminho tortuoso e arriscado em meio ao tráfego de veículos.
Como cidadãos brasilienses, esperamos que o governador e os gestores públicos se sensibilizem, revertam o processo de devastação e passem a investir em projetos e ações que tornem o Distrito Federal mais humano, sustentável e acessível. O lema atual é o planejamento da cidade para as pessoas, e não para motores. No movimento de humanização, pistas para carros se convertem em parques e áreas de lazer. Estacionamentos viram praças, hortas e bibliotecas. Parece sonho? Ainda há tempo para essa mudança.
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