Ciclovias ganham o interior do Ceará

Infraestrutura para ciclistas se espalha em cidades como Sobral, Crato, Juazeiro do Norte e Quixeramobim. Novas vias agradam usuários e comerciantes

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Fonte: Diário do Nordeste  |  Autor: André Costa / Diário do Nordeste  |  Postado em: 02 de agosto de 2016

Ciclovia em Sobral (CE), muito utilizada por estudantes e trabalhadores - Foto: Marcelino Junior

 

Tendência mundial e amplamente difundida nos países europeus, as ciclovias começam a ganhar cada vez mais espaço no Brasil. No Interior do Ceará, a realidade é a mesma. A mudança de vida e a busca por práticas mais saudáveis impulsionaram a necessidade de criação de espaços exclusivos para os ciclistas. Recentemente, o governo do Estado inaugurou, em Limoeiro do Norte, a avenida do Contorno, projeto que contempla uma ciclovia com extensão de 8,7 km, a primeira do Vale do Jaguaribe.

 

Apesar deste equipamento, muitas regiões cearenses ainda carecem de um espaço que disponha de segurança ao praticante. Na região Jaguaribana, onde as bicicletas têm voltado a circular com maior frequência, o desafio é encontrar espaços para a sua prática, segundo a vendedora Valéria Cristine Santiago, moradora da cidade de Russas: "É importante para a segurança do ciclista a implantação das ciclovias em nossa cidade. O fato de não existir nega o direito de escolha de quem opta pela bicicleta com meio de transporte e de lazer, colocando sempre o ciclista na defensiva nesse trânsito onde só se respeita o maior, ou seja, o carro", diz Valéria.

 

Diante dessa dificuldade, ela relata que os ciclistas, tanto os esportivos quanto os de lazer, estão se arriscando nas rodovias. Em Russas eles ocupam os acostamentos da BR-116 e da CE-356, onde não há ciclofaixas. "Eles acabam pedalando em locais não apropriados e tendo que enfrentar o perigo do trânsito pesado nas rodovias. Isso é um constante transtorno", lamenta.

 

Quixeramobim
Na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central, foi iniciada a implantação de uma ciclofaixa. A obra deve permitir maior segurança aos usuários e o investimento já começa a atrair a atenção de usuários. Com uma extensão total de 6Km, o equipamento é construído ao longo do trecho da CE-060 que passa por dentro do perímetro urbano do Município.

 

Até o momento, apenas um quilômetro foi construído. Segundo o agente inspetor da Autarquia Municipal de Trânsito de local (AMTQ), Willame Ferreira, a dificuldade em concluir a obra se deve ao atual momento de crise pela qual passam as prefeituras do País com cortes de gastos. "Não dispomos de muitos recursos e temos dificuldades na aquisição de materiais. Mas acredito que logo isso seja resolvido", disse o agente.

 

Ao longo do próximo semestre, a ciclofaixa, que começou a ser feita em maio deste ano, deve estar concluída. Como ainda está em fase inicial, a obra representa um espaço pequeno em meio ao trânsito intenso de carros do Centro. Mesmo assim, Willame explica que a aceitação do público é considerada positiva. "Com a chegada dessa iniciativa, andar de bicicleta é uma atividade que cresceu muito, tanto para lazer, atividade esportiva como para se deslocar para o trabalho", relata.


O sucesso da novidade pode ser medido pela quantidade de ciclistas lotam as ruas da cidade. Em um ano, conforme dados da Autarquia, a prática cresceu cerca de 300%. "E se duvidar esse número pode ser ainda maior! É gente que usa de manhã, de tarde e de noite e que cobra que a gente conclua o trabalho", frisa.

 

A ciclofaixa é uma das metas do plano Quixeramobim 2020, apresentado em abril deste ano, um projeto social desenvolvido por especialistas de várias áreas que, com a participação da população, busca tornar a cidade um modelo urbanístico no Brasil, a partir de temas como acessibilidade e mobilidade urbana.

 

Desafogo ao trânsito
A importância das ciclovias vai além da prática segura do esporte. O espaço é visto como alternativa para organizar e ajudar a desafogar o tráfego nos grandes centros urbanos. Em Sobral, no Norte do Estado, a utilização de bicicletas é vista pela engenharia de trânsito como uma das soluções para o transporte urbano, sem perder a praticidade no cotidiano. Estas faixas ou áreas agilizam a movimentação de veículos e pessoas, além de estimular o uso das bicicletas como mais uma opção de locomoção.

 

Este município, por exemplo, é cortado por 17 km de ciclovias, áreas separadas por blocos de concreto, e mais 1,3 km de ciclofaixa, espaços separados no asfalto com sinalização horizontal, instalada na rua Caetano Figueiredo, importante via que interliga três bairros populosos, Cohab I e II e Sinhá Saboia. A avenida Senador Fernandes Távora, de acesso à entrada da cidade, por quem vem de Fortaleza, foi a primeira a ter instalada uma ciclovia, em 2006, que interliga o Bairro Sinhá Saboia ao Centro.

 

Outra via também se estende, interligando ao Centro, os bairros Parque Silvana I e II; e Parque Santo Antônio e Dom Expedito. A ciclovia circula por fora da área central, por toda a extensão da av. Ildefonso de Holanda, por onde circulam o Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT) e o trem de carga, que cortam boa parte da cidade.

 

O pedreiro Antônio Paulo Sousa, morador do Bairro Cohab I, se desloca quatro vezes por dia para dar conta do trabalho, no outro lado da cidade. Segundo ele, são cerca de 8 km percorridos utilizando a ciclovia. "Essa faixa que separa o ciclista da área dos carros é uma proteção para quem, como eu, percorre a cidade de bicicleta. Conheço pessoas que já se acidentaram por não utilizar o espaço correto. Para mim, é uma vantagem", disse.

 

Segundo o coordenador de trânsito de Sobral, Julis Guedes, a cidade tem uma média de 85 mil veículos circulando todos os dias, dividindo espaço com motociclistas, que representam 53 mil, desse total. Daí a necessidade de ter a ciclovia como benefício, além de encorajar o ciclismo como um meio de transporte, o que é essencial para desafogar o trânsito pesado e diminuir o consumo de combustíveis para o transporte urbano.

 

O coordenador ressalta, ainda, que as ciclovias em Sobral, assim como em outros grandes centros, têm a vantagem de criar um trânsito mais fluido, diminuindo a incidência de acidentes em função da disputa entre carros, motos e bicicletas pela via; e que obrigam os ciclistas a se moverem no sentido correto do trânsito, evitando acidentes, além de estimular a realização rotineira de exercícios físicos com uma finalidade prática.
 

 
Obras da Ciclovia do Cariri, entre Crato, Juazeiro e Barbalha (CE) - Fotos: André Costa

  

Ciclovia Cariri
Os municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, na região do Cariri, passarão a contar, até outubro deste ano, com um ciclovia que interligará as três cidades que compõe o triângulo Crajubar. A ciclovia é um projeto da Secretaria das Cidades, executado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Ao final das obras, serão 17 km de extensão, facilitando o deslocamento entre estas cidades de pessoas que utilizam a bicicleta como transporte, por lazer ou a trabalho.

 

A obra tem um investimento de R$ 2,6 milhões, oriundos do Tesouro Estadual, e atualmente encontra-se com 25% de execução. O prazo estimado para sua conclusão é de 90 dias. Esta será a segunda maior ciclovia do Estado, ao lado do equipamento de Sobral. A maior está em Fortaleza, na Avenida Washington Soares, com 30Km de extensão.

 

Os adeptos carirenses deste tipo de transporte já contam, desde o ano passado, com uma ciclofaixa, a primeira do Interior. A ciclofaixa de lazer corresponde a um trecho de 6Km da CE-060, na avenida Leon Sampaio, que liga os municípios de Juazeiro do Norte e Barbalha. Aos domingos, os ciclistas ganham uma faixa exclusiva na Rodovia, separada por cones. Estima-se que cerca de 500 pessoas usufruam do espaço todos os domingos.

 

Para o diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Juazeiro do Norte e ciclista há cinco anos, João Almeida, a obra irá fomentar o uso desse modal de transporte, expandindo seu uso para além do lazer, mas também para transporte. João lembra que a ciclofaixa, apesar de importante, é algo pontual, que a região já necessitava há muito tempo da criação de uma ciclovia. Conforme avalia, a estrutura física vai possibilitar maior segurança a quem utiliza a bicicleta, fazendo com que novas pessoas, outrora receosas com a falta de segurança nas avenidas, comecem a praticar o esporte.

 

Somente em Juazeiro do Norte, são pelo menos cinco grandes grupos de ciclistas. O Pedal do Chá é um dos maiores eventos. Toda segunda-feira, cerca de 150 integrantes percorrem 20 km. O mototaxista Josevaldo Oliveira, conhecido como Jô, é um dos líderes da equipe. Em um ano e meio, ele conta que sua vida mudou radicalmente. De sedentário e obeso, a um "atleta", como ele mesmo se define. Neste período, perdeu 32 kg e ganhou muita disposição. "Comecei a praticar por necessidade. Era muito gordo e minha saúde estava em risco. O tempo passou e comecei a amar o esporte", afirma.

 

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