Terminal T2, na zs de Manaus: tipologia errada. Foto: Semcom/Divulgação
Sobre terminais de ônibus, primeiro é preciso dizer: Manaus já poderia ter um sistema que não dependesse de terminais de ônibus! Já há muitos estudos sobre tecnologias e logísticas que podem favorecer a mobilidade, como um sistema de Integração Temporal eficiente, em que as pessoas não perderiam mais tempo (horas) esperando para fazer a conexão com outro ônibus. O atual modelo é um atraso de vida, uma afronta à qualidade de vida de todos aqueles, a maioria, que dependem de um sistema assim arcaico.
T2: os pontos mais graves do projeto
Prestes a ser inaugurado, o Terminal de Integração Dois (T2), no bairro Cachoeirinha, zona sul de Manaus, já tem motivos para ser criticado. E um dos principais pontos é justamente a escolha da tipologia de estrutura adotada, um "galpão fechado", para abrigar a população.
Este formato traz desconforto, e faz dessa solução construtiva um desrespeito para com milhares de pessoas, que ali estarão submetidas a uma forte poluição. Com o uso de algumas técnicas para amenizar o forte calor, as telhas metálicas ainda são inapropriadas para nossa região, mesmo adotando telhas "térmicas", provavelmente as do tipo sanduíche, com isolamento térmico e também com o sistema de cobertura zenital, com abertura no vão central.
A edificação foi praticamente toda vedada nas laterais, sem deixar muito espaço para a ventilação cruzada, para a saída de ar quente e da poluição; a altura da cobertura foi aumentada, mas ainda continua a provocar um efeito tipo estufa, abafando o interior. Seria preciso provocar a exaustão (retirada) do ar quente e da poluição do interior, e isso se faz com um bom projeto de conforto ambiental, que preze sobretudo a qualidade interna da temperatura da edificação.
Esta não é uma obra condizente com a necessidade de tempo e conforto dos usuários. Ao projetista, caberia pensar e pesquisar exaustivamente soluções adequadas à região amazônica, como abrigos de ônibus bem estudados e de qualidade arquitetônica e ambientais bem especificadas no projeto.
Wi-fi no terminal
O tema tem gerado discussões, mas instalar wi-fi não quer dizer que o empreendimento seja "moderno" ou tecnológico; é apenas uma oferta de serviço - e por sinal já muito prometida por outros gestores da cidade, que anunciaram a intenção de espalhar sinais de wi-fi em espaços públicos.
Esse tipo de tecnologia deve estar vinculado à eficiência do sistema, neste caso, ao sistema de ônibus. Ou seja, quem usar wi-fi, por exemplo, poderá consultar itinerários, tempos de chegada, serviços informativos e muitos mais. A cidade precisa funcionar de forma autônoma, sem que as pessoas fiquem dependendo de outras para se informar. Manaus é muito atrasada neste quesito de qualidade tecnológica aliada à cidade, principalmente no uso de energia solar, que já deveria ter sido explorado!
Órgãos que deveriam se envolver na discussão
Em primeiro lugar, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU AM), que deveria fiscalizar a obra antes da inauguração, visto que este tipo de projeto deve passar pelo exame de arquitetos experientes para avaliarem e proporem soluções. E não apenas tratá-la como uma obra de reforma - a arquitetura precisa estar alinhada, e os órgãos precisam conversar entre si. Na prática, o que parece é que as secretarias e instituições não se comunicam, e isso é revelador de que a obra não tem qualidade arquitetônica.
Também o Ministério Público pode avaliar questões sobre a qualidade ambiental da obra. Do seguinte ponto de vista: se a preocupação é justamente o que ninguém quer mais voltar a sentir, o calor infernal neste local, então o MP deve questionar quais foram as medidas compensatórias adotadas para minimizar os impactos de vizinhança e ambiental? Construir, ou reconstruir um terminal de ônibus, causa importantes impactos na região; então, o que foi feito? O MP pode avaliar isto, junto com o CAU, ou não?
A valorização de um abrigo de ônibus
Abrigo de ônibus significa proteção, lugar para se proteger. Um refúgio, com conforto que proporcione comodidade para aqueles que estão à espera do transporte coletivo e que, neste intervalo, após transitar pela cidade, possam ter um momento de acolhimento.
Hoje os abrigos projetados para os espaços da cidade são fisicamente minúsculos. De cobertura baixa e projeção pequena, as pessoas que procuram um lugar seguro para esperar o transporte coletivo são acolhidas em uma área escaldante, sem árvores por preto. Também a cobertura metálica é muito utilizada, o que acaba por não serem condicionadas a um conforto térmico desejado.
Os abrigos precisam ser pensados como uma solução de espaço público, que proporcione o mesmo aconchego de como se estivéssemos em nossa casa, onde todos se sintam protegidos sob diversos aspectos.
Leia também:
Centro de Manaus terá bicicletário, mas estrutura dos pontos é questionada
Calçadas, ruas e praças de Manaus são invadidas, por omissão das autoridades
Ônibus precisa ser atraente, diz debatedor do Cidade Expressa na PB