A frota dos ônibus da Rede Integrada de Transporte (RIT) tem a idade média definida em 4,5 anos, de acordo com as informações do site da Urbanização de Curitiba (Urbs), empresa de economia mista responsável pela administração do transporte público de Curitiba. Ainda segundo a própria Prefeitura, oferecem melhor desempenho, em função do menor consumo de combustíveis e emissão de poluentes. “Mas os índices de consumo, que servem de base para o repasse do custo de manutenção às empresas de transporte, são os mesmo utilizados em 1987, ou seja, os mesmos de 24 anos atrás”, afirma Valdir Mestriner, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Estado do Paraná (Sindurbano).
“Acredito que o preço da tarifa pudesse ser entre 10% e 15% menor se houvesse o repasse dos ganhos tecnológicos a essa planilha”, afirma. Ou seja, custaria entre R$ 2,13 e R$ 2,25, frente aos atuais R$ 2,50. Mestreiner aponta o atraso tecnológico da planilha como um dos principais fatores responsáveis pelo alto custo da tarifa do transporte público, que no plano real subiu 61,91% mais que a inflação oficial de cidade.
O sindicalista cita que esta planilha considera vários custos, como por exemplo, o de pneus. Ele ressalta que os custos têm como base um cálculo do Ministério dos Transportes, que na época já apresentavam uma defasagem de cerca de 5 anos. “Ou seja, a defasagem tecnológica é de quase 30 anos”, diz.
Mestreiner cita que o porcentual definido pelo Ministério do Transporte para cobrir os custos com a manutenção e desgaste das peças de um veículo era de até 10% do valor do carro. “Mas para uma frota velha. Estes mesmos estudos apontavam um porcentual entre 5% e 6% do valor do veículo, para uma frota nova”, explica. “No entanto, esse porcentual passou para 8,5%, segundo os dados da planilha disponibilizados pela Urbs no processo de licitação realizado em 2009 e que ainda está em vigor”, conta.
O presidente do Sindurbano ressalta que a defasagem tecnológica não se restringe aos pneus, mas a todas as peças e acessórios utilizados. Os veículos novos, segundo as informações da própria prefeitura, quando entram em circulação levam mais conforto aos usuários em função das novas tecnologias agregadas ao desempenho do motor, freio, emissão de gases, etc. “Mas esses benefícios não são considerados na hora de fazer os cálculos dos custos que as empresas têm para manter a frota. E quando mais novo for o veículo, maior será o ganho que o empresário terá”, diz.
O economista Lafaiete Neves, autor da tese que virou livro Movimento Popular e Transporte Coletivo em Curitiba, acrescenta ainda que a frota de Curitiba é exageradamente nova. “É um custo desnecessário”, afirma. Para ele, a idade média da frota poderia ser um pouco maior, sem comprometer a qualidade do transporte, e, principalmente, sem ser um dos fatores responsáveis pelo alto custo da tarifa. Para Neves é um absurdo o preço da tarifa do transporte. “O roubo, que é anunciado como alerta nos alto-falantes dos carros, começa na catraca”, ressalta. O economista afirma que o preço da passagem de ônibus poderia ser mais bem mais barato. “Eu montei uma planilha alternativa, mais enxuta, que reduziria em 30% o preço da tarifa”, conta. Se aplicado esse porcentual aos valores de hoje o preço passaria dos atuais R$ 2,50 para R$ 1,75.
A assessoria da Urbs foi procurada pela reportagem para contrapor as afirmações acerca da defasagem da planilha, mas não retornou.