No início do mês o pesquisador Diarmid Campbell-Lendrum pedalou 560 km para viajar de Genebra a Paris, onde foi realizada a 2ª Conferência Global sobre Clima e Saúde. Ele coordena a equipe de mudanças climáticas e saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) e decidiu fazer o percurso de bicicleta para chamar a atenção da opinião pública e autoridades para a principal causa das mudanças climáticas, a poluição, que além de gerar o aquecimento global, ceifa cerca de 7 milhões de vida por ano em decorrência de doenças como câncer de pulmão e acidente vascular cerebral.
Nestes dias de inverno e inversões térmicas, o ar poluído afeta a saude de milhões de pessoas que vivem nas grandes cidades brasileiras, onde outros milhões de carros, motos, caminhões e ônibus jogam diariamente toneladas de gases e material particulado. Pedestres, ciclistas e, especialmente, passageiros de ônibus urbanos sofrem os efeitos desse lento envenenamento coletivo: olhos vermelhos, tosse, respiração ofegante e outros sintomas. Pergunta simples: por que não reduzir a circulação da frota de veículos automotores nas cidades, pelo menos nestes dias de ar mais sujo?
Uma resposta positiva (e limpa) ao desafio da mobilidade vem do Rio de Janeiro, que começa a operar o VLT Porto Maravilha, sistema leve sobre trilhos de nova geração. É sim um bonde, porém mais moderno. Os usuários parecem muito satisfeitos com a qualidade do novo transporte público, que é silencioso, elétrico e circula a uma velocidade baixa, coisa rara nas cidades brasileiras contemporâneas. Esperamos que o exemplo seja reproduzido em outras localidades do país para o bem das pessoas.
Ruas mais silenciosas, calmas, com boas calçadas, são o caminho para as cidades do futuro, mostra a experiência recente. Assim, é louvável o trabalho realizado por estudantes de engenharia da universidade Unileste, de Ipatinga (MG), que adotaram as ferramentas da campanha Sinalize e avaliaram a sinalização para pedestres, ciclistas e usuários do transporte público na Região Metropolitana do Vale do Aço. Os resultados foram ruins, como em todas as cidades brasileiras, mas o que importa é o despertar desses futuros engenheiros para a compreensão do estrago que o uso indiscriminado do carro particular fez no tecido urbano.
Exemplo desse caminho sem saída vem de Brasília, cidade projetada para o automóvel e hoje imersa em enormes problemas de mobilidade. Nesta semana o ativista Uirá Lourenço, do blog Brasília para Pessoas, mostra lentidão do governo do Distrito Federal em dar respostas aos problemas detectados há um ano em uma ciclovia construída em 2015. Com textos e imagens, Uirá revela que - infelizmente - nada mudou.
Em São Paulo, um grupo de ativistas também se mobiliza para atuar no Conselho Municipal de Transporte e Tráfego, organismo de diálogo entre a prefeitura e a população sobre os temas da mobilidade urbana. A ideia do #ocupacmtt é atuar para agilizar as políticas que beneficiem pedestres, pessoas com deficiência, ciclistas e sobretudo o transporte público de massa. O Mobilize apoia essa proposta.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil