Trem da ViaQuatro: Linha 4-Amarela do metrô de São Paulo já funciona sem auxílio de condutores. Divulgação/ViaQuatro
Congestionamentos frequentes fazem parte da rotina da maioria dos grandes centros urbanos. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que 31% da população brasileira gasta mais de uma hora no trânsito diariamente. O levantamento mostrou ainda que 36% da população considera o transporte público ruim ou péssimo por problemas como frequência, lentidão, preço e falta de conforto.
Mas já existem tecnologias capazes de melhorar a forma como as pessoas se locomovem, e cidades de todo o mundo começam a dar bons exemplos de uso dessas tecnologias. “O grande desafio dos gestores hoje é tornar o transporte público mais atrativo ao usuário do que o veículo individual”, afirma Alessandro Santiago dos Santos, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).
As mudanças que dão inteligência à mobilidade devem permear principalmente dois fatores: a diminuição do tempo de viagem e a regularidade do transporte. Para atuar nessas duas frentes, a maioria dos municípios brasileiros já instalou GPS nos ônibus. Centros de monitoramento captam a informação do equipamento, avaliam a rota e ainda podem tornar os dados públicos para que outras empresas criem aplicativos e outras plataformas.
Veja o caso do aplicativo Moovit, criado pelos israelenses Nir Erez e Yaron Evron. A plataforma combina informações fornecidas por concessionárias para melhorar a experiência do usuário. O serviço já opera em 65 países, e no Brasil ganhou uma legião de fãs nas 50 cidades onde está presente. “No Brasil, muitos consumidores são ávidos por tecnologia. Existe uma demanda enorme por soluções que fornecem dados sobre transporte público”, diz Nir Erez.
Além de traçar rotas, é possível usar o aplicativo para enviar alertas e avisar outros passageiros caso haja superlotação em um ônibus, por exemplo. O diferencial do Moovit está no fato de considerar sistemas multimodais de transporte: ele pode traçar rotas combinando bicicleta, metrô, trem e táxi para oferecer o caminho mais rápido.
“Com mais opções de deslocamentos disponíveis, todos ganham liberdade para escolher seu meio de locomoção”, diz Erez. Em Madri, na Espanha, as viagens intermodais permitem, por exemplo, que cerca de 1 milhão de pessoas façam viagens mais curtas e rápidas.
Sistemas de transporte público sem condutor são outra grande inovação em cidades como Paris, Londres, Barcelona e Dubai. São Paulo também não faz feio. “Temos conquistado terreno e desenvolvido novas tecnologias para alcançar padrões internacionais”, afirma Santos, do IPT.
Na Linha 4-Amarela do metrô, por exemplo, o trem se comunica por meio de ondas de rádio com três supercomputadores capazes de processar as condições de segurança e tráfego, além de controlar a movimentação dos trens.
“A automação permite programar a velocidade e o intervalo dos trens, o número de viagens, o tempo de abertura das portas e a inclusão de mais trens na linha”, afirma Harald Zwetkoff, presidente da concessionária ViaQuatro, responsável pela operação da Linha 4-Amarela. “Sem a interferência humana, há menos falhas na operação.”
No Centro de Controle Operacional, tudo é monitorado por agentes com a ajuda de um imenso painel eletrônico. O sistema é tão seguro que permite a aproximação de dois trens a uma distância de até 20 metros, o equivalente a um pouco mais do que o comprimento de um ônibus. Assim, o passageiro pode ter à disposição um trem a cada 90 segundos.
Funcionários ficam distribuídos para operar os trens em modo manual em casos extremos. O treinamento acontece em um simulador que reproduz fielmente a operação da Linha 4-Amarela em modo manual. “A principal vantagem é que os colaboradores podem ser treinados em qualquer horário, sem interferir na operação normal ou na manutenção preventiva do metrô”, diz Zwetkoff.
Além do sistema sem condutor, monitores de vídeo com cronômetro foram instalados nas plataformas para informar quanto tempo falta para o próximo trem chegar. Assim, o usuário pode programar sua viagem com mais tranquilidade.
“Já observamos o impacto positivo da iniciativa no comportamento dos passageiros”, afirma Zwetkoff. “Diminuíram as correrias nas escadas e nas plataformas e também as interferências humanas na operação, como quando há o impedimento de fechar as portas.”
A inovação não é exclusividade do metrô. “Os ônibus elétricos também farão parte da matriz de transporte em todo o mundo”, afirma Santos, do IPT. A concessionária alemã Hochbahn, por exemplo, colocou três modelos novos para circular no centro da cidade de Hamburgo. Eles têm autonomia para andar 7 quilômetros, não poluem e podem ser recarregados rapidamente em sistemas instalados nos terminais.
Em paralelo aos investimentos para melhorar o transporte público, uma mudança cultural da sociedade tem tudo para ajudar na mobilidade urbana. “É preciso investir no conceito de compartilhamento e em novos modelos de transporte, sem a necessidade de uma ação pública”, afirma Márcia Ogawa, sócia-líder da consultoria Deloitte.
A inspiração para isso é a chamada economia compartilhada, movimento que estimula a troca e a reutilização. Esses novos modelos de locomoção podem ganhar popularidade a partir de quatro pilares: aluguel de bicicletas, locação de veículos privados por hora, carona compartilhada e serviço de carona sob demanda.
A chegada de aplicativos como Uber e Cabify é um bom exemplo. Motoristas podem usar seu carro pessoal para transportar passageiros, que, por sua vez, podem optar por dividir o veículo com outros usuários e, assim, economizar.
O Uber é a novidade da vez no Brasil. Porém, já começaram a surgir outros serviços inovadores ao redor do mundo. Em algumas cidades dos Estados Unidos, um serviço chamado Getaround permite que pessoas aluguem seus carros parados para usuários certificados pela empresa e que estejam na vizinhança.
Além de avaliar a carteira de habilitação e o cartão de crédito do locatário, a companhia oferece seguro para o carro do proprietário. “Com a tecnologia que temos disponível hoje e com a mudança de comportamento do consumidor, podemos alcançar benefícios como esses em curto prazo e com pouco investimento”, afirma Márcia Ogawa, da Deloitte. A vida dos moradores dos grandes centros tende a ter mais qualidade quando a mobilidade urbana aproveita o que a tecnologia tem a oferecer.
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