Chamar a atenção para o elevado índice de mortes e acidentes no trânsito no país é a proposta do movimento Maio Amarelo, que chega à sexta edição, após ter tido o apoio no ano passado de mais de 600 empresas e entidades.
A campanha do Maio Amarelo surgiu a partir da atuação da ONU (Organização das Nações Unidas) que decretou, em maio de 2011, a "Década de Ação para Segurança no Trânsito". Com ações pontuais, a iniciativa põe o tema segurança viária em pauta e convida a todos a repensarem sua responsabilidade no trânsito.
Para o diretor da Perkons e especialista em trânsito, Luiz Gustavo Campos, propostas como as do Maio Amarelo são decisivas para conscientizar a população da importância de manter-se atenta à direção.
“O mês de maio deve remeter a um período de reflexão e também de tomada de decisão para a melhoria do atual cenário de falta de segurança no trânsito". Campos ressalta ainda a importância de cultivar um olhar consciente todos os dias, todo o tempo, pondera.
Estar atento ao trânsito é requisito básico para quem dirige. E a falta de atenção, maior causa de acidentes de acordo com estudo da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) é, vale dizer, passível de penalidade pelo artigo 169 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
De acordo com o professor do departamento de psicologia do campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, José Aparecido da Silva, embora existam três variáveis do trânsito – motorista, legislação e ambiente -, o homem continua a ser o maior responsável pelo alto índice de acidentalidade.
“A falta de atenção é um guarda-chuva para negligências no trânsito. É possível afirmar que entre 60% e 70% dos acidentes fatais no mundo tenha origem na distração”, explica.
Prova disso é a análise feita pelo mesmo estudo que elenca a desatenção como principal causadora de acidentes. Radares, sensores e câmeras instaladas nos carros de 3,5 mil motoristas, que percorreram mais de 90 milhões de quilômetros, detectaram que 68% das 905 batidas ocorridas no período resultaram de distrações. As potenciais vilãs são o uso do rádio, celular e outros equipamentos eletrônicos, um hábito perigoso que aumenta os riscos de acidentes em cerca de 200%.
Celular ao volante
Nesse sentido, é bom lembrar que o artigo 252 do CTB proíbe o uso de celular associado ao volante. Apesar disso, uma pesquisa realizada com cerca de 4 mil condutores, elaborada pelo Hospital Samaritano de São Paulo, indicou que utilizar o celular é parte da rotina de 80% dos motoristas, sendo que 93% deles reconhecem o risco da ação e 63% garantem que mudariam esse hábito apenas se sofressem acidente decorrente do uso do aparelho (sic).
Segundo o professor da USP, entre as justificativas para a insistência num atitude irresponsável como essa estão as facilidades proporcionadas pelo aparelho e o desconhecimento da gravidade dos riscos. “O uso de celular associado ao volante sobrecarrega o sistema sensorial, provocando a perda de informação e, por consequência, o aumento do tempo de resposta a estímulos externos. Quando se dá conta, o motorista invadiu a outra pista, atravessou o sinal ou deixou de acender a luz traseira”, esclarece Silva.
Para o psicólogo, falar ao celular é diferente de conversar com o passageiro. Neste caso, sempre há uma mediação da conversa pela situação do trânsito que está sendo vivenciada ao lado do motorista. "Pelo celular, o interlocutor quer uma resposta imediata e ignora os complicadores enfrentados pelo condutor”, compara o professor. Ele lembra ainda que o uso do aparelho se assemelha ao ato de dirigir alcoolizado.
Outras distrações
Segundo o especialista em Medicina de Tráfego, Henrique Shimabukuro, se conversar ao celular durante a condução do veículo aumenta de 4 a 6 vezes o risco de acidentes, enviar e ler mensagens provoca aumento de 23 vezes. “É importante salientar que o uso do recurso viva voz não modifica esses riscos. Então é mais razoável parar o veículo para atender a ligação ou enviar a mensagem”, recomenda.
Por outro lado, ele lembra que há outras atividades que desviam o foco do condutor e podem, por isso, desencadear acidentes. É o caso de ações como comer, beber, fumar, maquiar-se, sintonizar o rádio, usar notebooks e alcançar algum objeto dentro do carro. Todas devem ser evitadas. Além delas, dirigir com animais de estimação no veículo é uma circunstância que pode comprometer a segurança do próprio pet.
Melhor que os bichos de estimação sejam transportados no banco de trás do veículo, em uma caixa ou gaiola para este fim. Também aqui há regras: os artigos 235 e 252 do CTB determinam que o transporte inadequado de animais é infração sujeita a perda de pontos na carteira.
Fator emocional
Outro fator que o motorista deve avaliar, ensina Shimabukuro, é o seu estado emocional antes de dirigir. Uma discussão no trabalho, na família, ou mesmo um desentendimento no trânsito podem influenciar na sua atenção e comportamento ao volante. “Os desdobramentos dessa desatenção interferem na habilidade de condução, no controle de velocidade e no tempo de processamento de informações, deixando a capacidade de reação 18% mais lenta do que em condições normais”, conclui.
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