Frota do Paraná cresce oito vezes mais que população

Estado ganha 2,7 milhões de veículos em oito anos; municípios têm dificuldades para encontrar soluções de mobilidade urbana

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Fonte: Bonde  |  Autor: Celso Felizardo/ Folha de Londrina  |  Postado em: 05 de maio de 2016

Engarrafamento: frota cresce 68% em oito anos no P

Engarrafamento: frota cresce 68% em oito anos no Paraná

créditos: Agência Estadual de Notícias

 

Leia a seguir a ampla reportagem realizada pelo jornalista Celso Felizardo, do portal Bondenwes, revelando o explosivo aumento da frota nos municípios paranaenses, grandes e pequenos, e as soluções de mobilidade que cada localidade planeja implementar, e que vão da construção de ciclovias à melhoria do transporte público com a adoção dos BRTs. 

 

A frota do Paraná teve um crescimento de 68% nos últimos oito anos, passando de 3,9 milhões para 6,6 milhões de veículos, segundo dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR). 

 

No mesmo período, o aumento populacional no Estado, que passou de 10,2 milhões para 11,1 milhões de habitantes, foi de apenas 8,5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um cenário hipotético, sem levar em conta o fator econômico, os dados significam que se a tendência fosse mantida, em 20 anos o Paraná teria mais veículos que pessoas. 

 

Diante dos números, gestores de trânsito penam para encontrar soluções de mobilidade urbana e evitar o caos nas ruas e avenidas dos grandes e médios e, há quem garanta, até nos pequenos municípios. Em levantamento elaborado pela Folha de Londrina, do índice de motorização dos municípios paranaenses, que leva em conta a proporção de veículos por habitantes, duas cidades do Oeste, Quatro Pontes e Mercedes, no Oeste, se destacam. 

 

Municípios pequenos

Com 3.998 habitantes, Quatro Pontes tem 3.352 veículos, relação de 0,84 veículo por morador, a maior do Estado. Em Mercedes, que aparece na sequência com taxa de 0,82, são 4.432 veículos para 5.398 habitantes. Os pequenos municípios, com economias basicamente agrícolas, estão longe de sofrer com engarrafamentos e outros problemas das grandes metrópoles. Mas, segundo as administrações municipais, encontrar uma vaga para estacionar no centro ou trafegar no início e fim de mês não são tarefas tão fáceis como há uma década. 

 

Vilson Martins, secretário de Planejamento de Mercedes, conta que nos dias de pagamento é bem complicado se locomover pelo centro. "Temos uma produção agrícola bem forte. Aí no no começo e fim de cada mês, em que chamamos de ‘cheque do leite’, por conta do pagamento dos laticínios, os produtores vêm todos para a cidade, vira uma loucura", conta. 

 

Martins adianta que o município já planeja construir um sistema de ciclovia para estimular as pessoas a deixar o carro em casa. "A cidade está ficando pequena para tanto carro. Como aqui é tudo perto, dá para o morador usar a bicicleta tranquilamente", avalia. 

 

Já em Quatro Pontes, os efeitos negativos da maior frota proporcional do Estado são menos impactantes. Conforme a secretária municipal de Administração e Planejamento, Cleonice Zanette, com exceção de alguns pequenos transtornos, o trânsito está longe de ser um problema crônico. "A população tem a cultura da bicicleta. Os carros são mais usados para deslocamentos para Marechal Cândido Rondon ou Toledo, por exemplo", comenta. Segundo ela, duas transportadoras existentes na cidade elevam o índice de motorização. "Somos uma típica cidade pequena do interior e prezamos pela qualidade de vida." 

 

Enquanto as pequenas cidades ainda têm fôlego para adotar uma série de medidas pontuais para amenizar os transtornos, as grandes já se vêm com poucas alternativas. Entre as metrópoles, Curitiba e Maringá possuem as maiores taxas de motorização, com 0,81 e 0,79 veículo por habitante, respectivamente. 

 

Mesmo com avenidas largas, a planejada Maringá não escapa do mal comum às grandes cidades. Lá são 312.802 veículos a circular e travar o trânsito nos horários de pico. O secretário municipal de Planejamento, Laércio Barbão, informa que alguns ações estão em andamento, como a construção de ciclovias e de corredores isolados para os ônibus, desapropriações de propriedades para desafogar avenidas, além de alargamento de pistas e sincronização dos semáforos. "São algumas providências que tomamos para minimizar o problema, mas a grande chave de tudo isso é que o cidadão passe a deixar o carro em casa", opina. 

 

Londrina

Avenida Ayrton Senna, zona sul de Londrina, às 18 horas. Tudo parado. Esse é o cenário encontrado na via que liga o centro da cidade à região da Gleba Palhano, que tem o maior índice de crescimento populacional de Londrina. No mesmo horário, congestionamentos também tiram a paciência de motoristas nas avenidas Tiradentes (zona oeste), Santos Dumont (zona leste), e Saul Elkind (zona norte). As ruas do centro também estão coalhadas de carros, quase sempre com uma ou duas pessoas que desejam chegar logo em suas casas. 

 

A cidade tinha 366.748 veículos em 2015 e 235.457 em 2007, aumento de 55%. Os 131 mil veículos emplacados na cidade em oito anos é um desafio para a equipe do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul). Um alívio é a cidade estar distante das primeiras posições no índice de motorização; é a 29ª no Estado, com 0,7 veículo por habitante. 

 

A diretora do Ippul, Inês Dequech, ressalta os investimentos do município em transportes alternativos. Segundo ela, o processo de instalação do BRT (Bus Rapid Transit), ou Transporte Rápido por Ônibus, está adiantado. "Acreditamos que ainda este mês haverá o anúncio da construção de um viaduto na região da rodoviária, o que vai possibilitar a adoção deste importante sistema." Ela destaca ainda que o pacote de mobilidade urbana, que abrange o BRT, adaptações viárias e investimentos em ciclovia, chega a R$ 143 milhões em investimento. 

 

O chefe da Coordenadoria de Veículos do Detran, Herivelto do Carmo, avalia que, por muitos anos, as grandes cidades se adaptaram ao crescimento da frota. Segundo ele, chegou o momento dos motoristas se adaptarem ao espaço físico. 

 

"Chegamos a um limite crítico. As cidades precisam adotar medidas drásticas como rodízios ou fechamento de ruas para automóveis. Isso tudo não seria necessário se não existisse uma cultura do carro tão forte". afirmou o diretor do Detran.

 

O professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Garrone Reck, enxerga uma luz no fim do túnel. "Pesquisas mostram que o carro já não é mais o sonho de consumo da nova geração. Os jovens estão abrindo mão de ter o carro, pois entendem que o cenário é caótico", comenta. 

 

Para Reck, a saída é melhorar o transporte público. "O problema é que a qualidade do setor deixa a desejar, mas os esforços têm que ser concentrados no coletivo, não no pessoal."

 

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