Um estudo lançado hoje (20) - o relatório Oil Market Futures -, realizado pela consultoria britânica Cambridge Econometrics, mostra que políticas para promover a mobilidade de baixo carbono permitiriam significativa redução dos preços globais do petróleo. O corte seria de R$ 1,166 trilhões (US$ 330 bilhões) por ano nos gastos com petróleo entre 2020 e 2030.
Entre as conclusões dos analistas econômicos da consultoria destaca-se que o aproveitamento de tecnologias como veículos híbridos e elétricos também ajudaria a manter os preços do petróleo significativamente mais baixos - em 15% em 2020 e 29% em 2040 - em relação a cenários mais ortodoxos.
E ainda, que os preços mais baixos do petróleo, por sua vez, liberariam bilhões a países importadores, como o Brasil, dinheiro que poderia ser investido em outros setores da economia.
A redução projetada na demanda por petróleo no Brasil permitiria uma economia de R$ 30,4 bilhões por ano até 2030, segundo esta projeção. Se políticas semelhantes fossem implementadas globalmente, o Brasil se beneficiaria de uma poupança adicional de R$ 15,2 bilhões por ano em 2030, por conta dos preços mais baixos do petróleo.
A análise também demonstrou que a era do petróleo ultra-barato vai terminar. Sem as medidas necessárias para enfrentar as mudanças climáticas, o preço do petróleo pode subir até US$ 130 por barril em 2050. Mas se tais políticas forem implementadas para impulsionar o investimento em tecnologias de transporte de baixo carbono, reduzindo assim a demanda por petróleo, esse aumento de preço poderia ser limitado a US$ 83 - US$ 87 por barril em 2050.
Acordo do clima
O relatório está sendo lançado a alguns dias apenas da assinatura, já confirmada, de 130 líderes de países de todo o mundo nesta sexta-feira (22) sobre o acordo climático da COP 21, fechado no final de 2015 em Paris.
Fica cada vez mais claro que, para fazer cumprir o compromisso de conter a elevação da temperatura provocada pelas mudanças climáticas a menos 2° C, ou preferencialmente em 1,5° C, será necessário revolucionar o setor de transportes. E para tanto, adotar políticas mais ousadas, capazes de dar uma guinada a sistemas mais eficientes e ambientalmente sustentáveis.
Philip Summerton, diretor da Cambridge Econometrics e principal autor do relatório, explica: "Sem alterações nas políticas públicas, o preço do petróleo tende a se recuperar no longo prazo, impulsionado pela expansão da economia mundial e a crescente demanda por mobilidade. Mas em um mundo onde políticas climáticas são implementadas para promover o investimento em tecnologias de baixo carbono - como os governos concordaram em Paris - a demanda por petróleo irá ser controlada e, finalmente reduzida, levando a cotações mais baixas do petróleo."
Segundo o pesquisador, com políticas de apoio e inovação tecnológica, é lícito esperar que a economia global use menos 11 milhões de barris de petróleo por dia em 2030. "Preços mais baixos do petróleo beneficiariam regiões importadores de petróleo, como a Europa e o Brasil, reduzindo a pressão inflacionária sobre os consumidores, aumentando os rendimentos reais e transferindo esse montante para outros produtos e serviços que oferecem mais valor", avalia Summerton.
A prova da eficácia de tais políticas já existe: entre 2000 e 2015, o consumo de cerca de 5 bilhões de barris de petróleo foi evitado graças a padrões mais altos de eficiência de veículos implementados globalmente.
Como afirmou Drew Kodjak, diretor executivo do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT): "Já vimos como padrões veiculares reduziram a demanda por petróleo em todo o mundo. Com os governos despertando para a necessidade de combatermos as mudanças climáticas, podemos esperar que esta tendência se fortaleça". Kodjak cita o exemplo de governos como os da Califórnia, Noruega e Holanda, que segundo ele têm comprovado quão rapidamente a mudança pode ser feita mediante políticas inteligentes.
Pesquisa
O relatório Oil Market Futures inova ao incorporar análises detalhadas de uma variedade de organizações parceiras especializadas, incluindo a Cambridge Econometrics, ICCT e Pöyry, com financiamento da European Climate Foundation.
As conclusões da pesquisa são baseadas em dois cenários. Em um deles, são tomadas medidas em escala global para impulsionar meios de transporte de baixo carbono; o outro é baseado em projeções para os negócios (“business as usual”). A modelagem é consistente com as análises da a Agência Internacional de Energia e da New Climate Economy.
As conclusões do relatório complementam um corpo crescente de pesquisas e evidenciam tendências que mostram que a década de 2020 será um período de perturbação substancial no setor de transportes.
Carros elétricos
O transporte é um setor mais difícil de descarbonizar do que a energia. Mesmo assim, em 2015 a taxa de crescimento dos carros elétricos igualou o crescimento exponencial da energia solar. Em 2040, pode haver 90 vezes mais carros elétricos nas ruas. Pouco mais de um quarto do atual consumo de energia vem do setor de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo). Quase toda (93%) energia que o setor dos transportes utiliza vem a partir de produtos do petróleo. Apenas 2,5% vêm de de biocombustíveis e 1% da eletricidade. O carro elétrico está ganhando terreno. As vendas cresceram 60% entre 2014 e 2015, embora a partir de um patamar baixo.
Em 2015, o custo das baterias - um dos principais determinantes do custo dos veículos elétricos como um todo - caiu mais de um terço. Em 2022, os veículos elétricos não subsidiados serão tão acessíveis como aqueles que usam tecnologia convencional com motor de combustão, de acordo com análise do BNEF, que também prevê que as vendas de veículos elétricos subirão por um fator de 90 a 41 milhões em 2040. Eles representarão pouco mais de um terço das vendas de veículos leves em 2040.
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