Motoristas que estacionam em local indevido, cuidado: os “agentes mirins de trânsito” rondam as ruas de Brasília fiscalizando irregularidades e aplicando a Multa Cidadã. A “punição” nada tem a ver com o Departamento Estadual de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). É imposta pelos irmãos Cauã, 8 anos, e Iuri Lourenço, 7. O objetivo? Conscientizar infratores dos problemas causados a pedestres deficientes.
Com papel e caneta em mãos, a dupla “autua” os imprudentes do Plano Piloto desde 2014, sempre acompanhada dos pais, Uirá Lourenço e Ronieli Barbosa. No último domingo (13/3), Cauã e Iuri flagraram um carro estacionado sobre uma calçada, bloqueando uma rampa para o acesso de cadeirantes, na 709 Norte.
“Desculpe, moço, você estacionou no lugar errado e que vai prejudicar pessoas: cadeirantes, cegos etc. Por favor, moço, estacione em outro lugar. Obrigado”, diz o texto da Multa Cidadã escrita por Cauã. “Não é legal ficar aí. Você não está vendo que está em uma rampa? Seja cidadão, cuide de um cego”, adverte Iuri.
Imagem das multas redigidas por Cauã e Iuri
Além de alertar os infratores, os agentes mirins desenham o sinal do Código de Trânsito Brasileiro correspondente à placa “proibido de parar e estacionar”, para ajudar os motoristas a não esquecer o significado.
Educação cidadã
O pai dos meninos, Uirá Lourenço, é colaborador e blogueiro no Brasília para Pessoas. “Os meninos redigiram a multa por iniciativa própria”, explica ele. “Depois que fiz as fotos vi os erros de português. O Cauã escreveu ‘segos’. Mas isso faz parte, ele está em fase de aprendizagem”, brinca. Uirá acrescenta que, na manhã desta segunda-feira (14/3), menos de 24 horas após o incidente do dia anterior, flagrou outro carro estacionado sobre a mesma calçada. "É frequente".
Uirá conta que costuma andar a pé com os filhos e a esposa pela Asa Norte. Durante a caminhada, ele alerta para as obrigações de pedestres, ciclistas e motoristas de automóveis no trânsito. “Os meninos já têm orgulho de exercer o papel de cidadão. Em frente a escola deles, por exemplo, na 710 Norte, eles veem as irregularidades e falam para os colegas e para mim.”
Cauã e Iuri, inclusive, já escreveram um e-mail, endereçado à ouvidoria do Detran-DF, listando reclamações e pedindo por melhorias.
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