A estrutura da malha viária de Fortaleza, em muitos lugares, parece não comportar a quantidade de carros que por aqui chegam anualmente. Até setembro, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) registrou 767.053 veículos em Fortaleza. Em outubro do ano passado, eram 687.732. De leste a oeste (e vice-versa), apenas três caminhos contínuos, nas áreas mais próximas ao Centro, permitem o fluxo de uma ponta a outra da Cidade. A concentração de carros nessas vias contribui para os congestionamentos.
A constatação é do professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Antônio Paulo de Hollanda Cavalcante, mestre em Engenharia de Transportes e doutor em Arquitetura e Urbanismo. Pesquisador da área de arquitetura e transportes, Hollanda explica que ruas contínuas são aquelas vias que, apesar de mudarem de nome, não são interrompidas por um desvio à esquerda ou à direita. “A avenida Heráclito Graça é interrompida no cruzamento em ‘T’ com a rua Tibúrcio Cavalcante”, exemplifica.
Avenidas Jovita Feitosa, 13 de Maio e Pontes Vieira. Avenida Domingos Olímpio e Antônio Sales (oeste/leste), junto com ruas Beni Carvalho, Padre Valdevino e Antônio Pompeu (leste/oeste). Avenidas Leste-Oeste e Abolição. Quem costuma trafegar pelas ruas contínuas, de leste a oeste, conhece bem a dificuldade. Aldísio da Silva, 64, percorre a Capital de uma ponta a outra há 41 anos. Para o taxista, a cidade está “sufocada”. “É preciso alargar, abrir ruas que a gente possa andar sem ficar nesse entra e sai”, opina seu Aldísio.
Quando não tem jeito, ele opta pelas vias alternativas. “Prefiro parar, dobrar, tentar uma, tentar outra do que ficar parado”. Apesar da tentativa, o professor Paulo de Hollanda aponta que a interrupção das vias também causa lentidão no trânsito. “Se você quebra o caminho ele fica mais caro, estressante e mais longo. O melhor é percorrer em linha reta”. Ele explica que a descontinuidade obriga os motoristas a caírem no “efeito labirinto”. “As opções de deslocamento da malha acabam por determinar por onde os veículos podem passar”.
Segundo Paulo de Hollanda, o problema da falta de continuidade não é novo. De 1930 para cá, a malha viária se tornou uma “colcha de retalhos”. “O desenho da Cidade era regular até 1930. Depois disso, o desenho dos quarteirões começou a variar”, explica. A Prefeitura reconhece que algumas vias acabaram estranguladas com o tempo. Mas, na opinião do presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), Fernando Bezerra, a Capital ainda é “privilegiada”, se comparada a outras cidades.
“Temos opções. Não podemos transformar vias secundárias em vias arteriais. Mas podemos usar essas vias, em determinados horários do dia para escapar”, opina Bezerra. Para o professor, essas medidas podem até ser utilizadas, mas a “curtíssimo prazo”, até porque também trazem morosidade ao trânsito. A médio prazo, a criação de largos cinturões de contorno ao redor da Cidade poderiam amenizar o problema. A longo prazo, seria necessário atualizar a urbanística de Fortaleza. “Qualquer mudança tem que ser drástica, o que significa ter que rasgar a cidade”.
Onde
ENTENDA A NOTÍCIA
Fortaleza cresceu e se desenvolveu com pouco planejamento. Aqui, por exemplo, o fluxo de leste a oeste (e vice-versa) se concentra em apenas três percursos, de acordo com especialista. A reduzida opção contribui para aumentar os congestionamentos na Cidade.