O Hidroanel Metropolitano de São Paulo é um projeto que visa à formação de sistemas interligados de uso múltiplo de águas, formando uma rede de canais navegáveis de cerca de 170 km de extensão. Essa rede é composta pelos rios Pinheiros e Tietê e pelas represas Billings, Guarapiranga e Taiaçupeba, além de um canal artificial.
O projeto é desenvolvido no Grupo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura de Infraestruturas Urbanas Fluviais, também conhecido por Grupo Metrópole Fluvial, que funciona sob coordenação do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU USP) Alexandre Delijaicov.
Um dos pontos mais importantes do Hidroanel é o transporte de cargas públicas. Elas correspondem, essencialmente, a cinco elementos: sedimento de dragagens, lodo, entulho, terra e lixo. A carga inaugural do Hidroanel são os sedimentos, porque a dragagem é o primeiro procedimento para viabilizar a navegação – a carga transportada, portanto, é resultado da própria adaptação dos canais.
Interligação
Para que as hidrovias sejam interligadas, é necessária a instalação de eclusas, responsáveis por facilitar a locomoção das embarcações em diferentes níveis de água. Atualmente, a segunda eclusa, localizada no bairro da Penha, está sendo executada. Ela funciona como um elevador dentro da água, formado por duas câmaras, responsáveis por movimentar o veículo – se a água entra na câmara, a embarcação sobre. Quando escoa, ela desce.
A conclusão desta eclusa possibilitará que o trecho do Tietê que vai da barragem da Penha até São Miguel, com 14 km de extensão, seja incorporado às hidrovias. Depois, serão construídas a barragem móvel e a eclusa de São Miguel, para formar o lago-canal de São Miguel Paulista, que também terá por volta de 10 km navegáveis. "Uma eclusa pronta já pode tirar vários caminhões [de carga] da rua", diz Alexandre Delijaicov.
Uma das propostas do GMF para as próximas eclusas é a inserção de uma terceira câmara economizadora de água. "O funcionamento da eclusa é como um balé de barcos", diz o professor. "Quando a água é nivelada, para o barco continuar a subir, você tem que consumir água. Então deve existir uma câmera intermediária, para economizar pelo menos metade desse volume”, esclarece.
Parcerias internacionais
A criação de eclusas com uma terceira câmara é um dos projetos do Grupo que chamaram atenção fora do país. Diversas pesquisas relacionadas ao Hidroanel são realizadas em conjunto universidades internacionais. Neste ano, a FAU recebeu estudantes de arquitetura e engenharia da Universidade Tecnológica de Delft para estudar a questão das hidrovias na região metropolitana de São Paulo.
Os pesquisadores da universidade holandesa também se interessaram pelo Barco Urbano de Cargas (BUC) idealizado na USP para facilitar a dinâmica nas hidrovias. Seu nome é derivado da sigla VUC – Veículo Urbano de Carga, criado para diminuir a circulação de veículos de grande porte na cidade. A embarcação cumpre a mesma função, de adaptar-se à circulação nas hidrovias, considerando a dimensão dos canais de São Paulo, que são estreitos e rasos. Trata-se de um barco movido a propulsão elétrica, com a função de deslocar 400 toneladas de carga, armazenadas em containers. A embarcação tem casco duplo, para evitar vazamentos, e os containers ficam dentro do porão. Ele é dirigido por um maquinista, mas seu funcionamento se assemelha ao de um robô.
"A Universidade de São Paulo tem um papel importantíssimo para discutir pesquisa e projeto, para pensar no eixo cultura e extensão. É muito bacana que a FAU seja convidada pelo Departamento Hidroviário e pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano [responsáveis pelo planejamento e execução das obras do Hidroanel] para fazer esses estudos. Apesar de estarmos em um momento de aguardar a continuidade do trabalho com os dois orgãos, nós estamos evoluindo na pesquisa e nas relações internacionais, formando parcerias em locais como Princeton, Berlim, Lyon e Delft", diz Alexandre.
De acordo com o cronograma de implatação organizado pelo Grupo Metrópole Fluvial, a conclusão das obras do Hidroanel está prevista para 2040. De alguns anos para cá, as obras em andamento já tem gerado mudanças significativas para o aproveitamento do potencial hídrico já disponível. Em fase de produção, a segunda eclusa do projeto já começa a sinalizar uma ampliação significativa nos trechos navegáveis da região metropolitana.
O sistema fluvial, quando pronto, pode viabilizar a política de aterro zero, em que praticamente todos os resíduos sólidos têm novos aproveitamentos, são bio-digeridos ou, em última instância, incinerados. Dessa maneira, o gerenciamento de recursos hídricos se relaciona com a administração de resíduos sólidos, ambos de competência do poder público. Os avanços do projeto do Hidroanel geram melhorias, portanto, no âmbito produtivo, social e também ambiental.
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