Cuiabá tem carros e motos em excesso

Para reduzir problemas de trânsito, cidade estuda flexibilizar horários de atividades e introduzir o VLT como nova alternativa de transporte (Felipe Castro)

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 |  Autor: Estudo Mobilize 2011  |  Postado em: 15 de novembro de 2011

Cuiabá -Estudo Mobilize 2011

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créditos: Estudo Mobilize 2011

Com pouco mais de meio milhão de habitantes, Cuiabá enfrenta graves problemas de trânsito em função do excesso de carros e motocicletas e de uma infraestrutura já obsoleta para sua rápida metropolização. Além de vários projetos e obras, a solução, de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SMTU), pode passar pela flexibilização dos horários de trabalho em determinados ramos econômicos.

 

“Estamos fazendo um estudo com a associação de comércio, bancos, entidades públicas e escolas sobre a possibilidade de flexibilização de horário. Um servidor, por exemplo, entraria no trabalho às dez horas, em vez de oito ou nove horas, como é o padrão na cidade. E isso pode ajudar na fluidez do trânsito”, explica o diretor de trânsito da SMTU, Jackson Messias.

 

A proposta ainda está sob análise, mas Cuiabá não pode esperar muito. De 2005 a 2011, a frota de carros cresceu 69%. 

Há seis anos, 95 mil automóveis particulares circulavam e hoje já são mais de 162 mil. 

É, portanto, um carro para cada 3,4 habitantes.

 

De acordo com o engenheiro Eldemir Pereira de Oliveira, professor na área de mobilidade urbana da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o centro da cidade já não suporta, há muito tempo, a pressão dos automóveis que por lá circulam.

 

A explicação tem cunho histórico: “O tráfego da cidade conflui todo para a área central, porque o espaço urbano imita o desenho original da cidade, que se desenvolveu na várzea do rio Cuiabá”, explica Oliveira. 

“A ocupação urbana desordenada, realizada nas áreas de antigas minas de ouro, fez com que as ruas adquirissem traçados tortuosos e estreitos. E as calçadas também são estreitas. Com a economia, especialmente o agronegócio, em alta, a frota de veículos automotores vem se ampliando a níveis surpreendentes. O resultado é trânsito pesado”, completa o professor. 

 

Um estudo da UFMT sustenta que a malha viária cuiabana comportaria 100 mil veículos na atualidade, um terço do que, de fato, circula pela cidade, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de Mato Grosso. 

 

Motocicletas, uma overdose


Para fugir do trânsito, o professor Jairo Cezar de Paula Junior decidiu comprar uma motocicleta. “Vale muito a pena. Economizo tempo e dinheiro. Sai mais barato até do que a passagem de ônibus”, afirma. Jairo, portanto, engrossa outra estatística que salta aos olhos: o número crescente de motocicletas. Em 2005, eram menos de 33 mil motos na capital de Mato Grosso. 

Hoje, elas totalizam 75 mil unidades em circulação, um aumento de 127,8% em apenas seis anos. 

 

Em alta, a motocicleta pode até “resolver” os problemas de mobilidade, mas aumenta as estatísticas de acidentes. “No mês de julho de 2011, ocorreram 698 acidentes com motocicleta. Aí não é mais transporte e mobilidade: vira assunto de saúde pública”, opina Messias. De acordo com o Mapa da Violência de 2011 (Min. Justiça), Cuiabá tem uma das maiores taxas de mortalidade de motociclistas no trânsito: para cada 

100 mil habitantes, 12,5 motociclistas morrem nas ruas cuiabanas. Quando a estatística passa a contabilizar todas as vítimas fatais em acidentes, sem distinção entre motociclistas, pedestres e motoristas, o número sobe para 21,77 mortos no trânsito para cada 100 mil pessoas. 

 

Apesar de já ter sofrido acidente, Jairo Cezar diz se sentir “tão vulnerável quanto em qualquer lugar”. Ao menos, o educador físico destaca os esforços do governo em promover campanhas educativas para os usuários de motos. “Elas estão na tevê e nas principais avenidas e cruzamentos. 

É preciso educação para melhorar o trânsito como um todo”, completa Messias.

 

Transporte público


Em Cuiabá, são 430 ônibus para 252 mil usuários diários, número considerado normal para os padrões de transporte coletivo no país. Apesar de comportar a demanda, o principal problema no transporte público da cidade diz respeito ao não cumprimento das viagens no horário certo, segundo o diretor de transporte da SMTU local, Gabriel Müller. Para ele, um dos motivos seria o acúmulo de veículos particulares e caminhões na hora de rush. “Precisamos melhorar a velocidade do ônibus e o tempo de viagem. Para isso, é necessário acabar com os gargalos e restringir carros e caminhões no horário de pico”, diz Müller. A velocidade média de um ônibus cuiabano, hoje, é de 17 km/h. 

 

Mas tanto Jairo Cezar como Eldemir Pereira  concordam que o principal problema dos ônibus é, na realidade, o sucateamento da frota. “Falta transporte público de qualidade. Aqui o preço é muito alto, o transporte ineficiente, e geralmente os ônibus vêm lotados, fedidos e velhos”, afirma Jairo Cezar. “É necessária a implantação de faixas exclusivas, além da ampliação e renovação de frota”, adiciona Oliveira. 

 

Sai o BRT, entra o VLT 


Agora Cuiabá concentra esforços na viabilização do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) como principal obra de mobilidade urbana na cidade para a Copa de 2014. Antes, o governo realizara estudos para emplacar o BRT (Bus Rapid Transit), mas em maio deste ano consultou a Fifa e o Ministério das Cidades para trocar o modal para o sistema sobre trilhos, considerando que a opção teria menor impacto ambiental no centro da cidade. Mas o VLT não é unanimidade entre os especialistas.  

 

A licitação do novo sistema de transporte, garante o governo, deve ser realizada até o final do ano e as obras podem começar ainda em 2011. Além do VLT, o governo estadual prevê uma série de intervenções urbanas nas principais artérias do município. Serão trincheiras e viadutos em avenidas como a Fernando Corrêa da Costa e a Miguel Sutil, duas das mais importantes vias cuiabanas.

 

Quando as obras estiverem em andamento, a situação no trânsito e no transporte, que já é ruim, deve piorar ainda mais. 

A flexibilização de horários, proposta pela diretoria de trânsito da SMTU, deve atenuar a situação, mas só mesmo o aperfeiçoamento do sistema de transporte público, que o VLT pode proporcionar, vai trazer ganhos significativos à cidade.


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