Brasília enfrenta hoje os mesmos problemas de falta de mobilidade e tráfego complicado que caracterizam outras cidades brasileiras. Os engarrafamentos na ida para o trabalho ou na volta para casa se aproximam de 30 km em dias úteis normais, sem acidentes graves, chuvas fortes ou manifestações na Esplanada dos Ministérios. São quase 60 km de sofrimento diário para os brasilienses.
O trânsito de veículos na capital federal passou por intensa transformação em meio século. Até o fim dos anos 1970, não havia congestionamentos e sequer semáforos, apenas policiais que controlavam tudo. Desenhada conforme os princípios modernistas da Carta de Atenas, Brasília foi feita para ser percorrida em veículos motorizados e a vida cotidiana, inclusive os passeios a pé, estariam restritos à vizinhança das superquadras.
A urbanista Sylvia Fischer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que os problemas de trânsito da capital têm sua origem no crescimento, na metropolização e na “imprevidência” após a criação da capital. Em sua visão, é preciso estabelecer novas ligações e melhorar o transporte coletivo entre a cidade e as demais regiões do Distrito Federal. No entanto, Sylvia lembra que os problemas de tráfego estão no DNA da cidade: “A visão de futuro que se tinha na década de 1950 era a do urbanismo rodoviarista”. Lúcio Costa, autor do projeto da capital, não escondia seu entusiasmo pelo automóvel (Com o automóvel o homem cresce, se agiganta, dizia ele), mas sequer sonhava que a frota brasiliense pudesse chegar a 1,3 milhão de unidades, ou um veículo a cada dois habitantes.
A centralização das atividades (e empregos) no Plano Piloto faz com que milhares de pessoas de diferentes regiões administrativas do Distrito Federal (ex-cidades satélites) e de moradores do entorno (no estado de Goiás) viajem diariamente para Brasília. “A cidade ocupa 9% do território do Distrito Federal, abriga 15% da população, mas concentra maior parte dos postos de trabalho”, explica Maurício Pinheiro, do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “É uma cidade-sanfona”.
Especialistas em transportes alertam para a necessidade de aumentar, por exemplo, os ramais do metrô para a Esplanada dos Ministérios, a Asa Norte e o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Mas argumentam que, além das ligações, é preciso descentralizar as atividades econômicas do DF. “As regiões administrativas precisam ganhar mais autossuficiência e Brasília tem que ser menos centralizadora”, afirma a arquiteta Regina Meyer, professora da FAU/USP.
Metrô e VLT
Com 42 km e movimento médio de 500 mil passageiros/dia, o metrô de Brasília começou a ser construído nos anos 1990 e entrou em operação em 2001, com a inauguração do trecho Samambaia a Taguatinga, Águas Claras, Guará e Plano Piloto. Entre 2006 e 2007 foram realizadas as obras de expansão até o bairro de Ceilândia Norte.
Os planos prevêem uma nova linha entre o centro e o Terminal da Asa Norte, mas não há ainda um projeto definido. Por ora, dentro do projeto de expansão do metrô, o governo do DF pretende implantar duas linhas de veículo leve sobre trilhos (VLT) com financiamento pelo PAC da Mobilidade Urbana. O VLT atenderá o aeroporto Juscelino Kubitschek, passará pelo centro e chegará ao Terminal Rodoviário da Asa Norte, com trajeto total de 22,6 km. Uma segunda linha fará a ligação leste-oeste, pelo Eixo Monumental, permitindo o acesso ao Estádio Nacional Mané Garrincha.
Iniciadas em 2007, as obras emperraram em uma série dificuldades burocráticas e impedimentos judiciais, por suspeitas de superfaturamento. Finalmente, em agosto, o governo do Distrito Federal decidiu limitar o VLT à ligação entre o aeroporto e o Terminal Asa Sul do metrô, apenas para atender à Copa de 2014, um percurso de 6 km.
Ônibus e ciclovias
Vértices do transporte urbano em Brasília, os 4 mil ônibus do DF transportam diariamente 1,2 milhão de passageiros, em quase cem linhas que ligam a capital às demais cidades. O sistema de ônibus deverá receber investimentos de R$ 51 milhões, segundo promessa do governo do Distrito Federal.
O chamado Sistema Integrado de Mobilidade apoia-se na construção de dez terminais rodoviários (Gama, Taguatinga, Sobradinho II, Recanto das Emas, Samambaia Norte e Sul, Riacho Fundo II e Santa Maria) e na reforma de doze terminais na região de Ceilândia, além da implantação de corredores exclusivos para os coletivos.
Uma das novidades é a integração das viagens por meio de um sistema de bilhetagem eletrônica, que passará a ser controlado pelo governo.
Brasília tem um plano ambicioso para estimular o uso da bicicleta. Em agosto de 2009, por meio de decreto, o governo instituiu o Sistema Cicloviário do Distrito Federal, que tinha a meta de construir 600 km de vias até 2010. Mas, até 2011, apenas 42 km (7% do previsto) foram efetivamente implantados.