Especialistas, ativistas e super-heróis discutem estratégias para colocar os carros para fora das cidades e abrir mais espaço aos cidadãos que querem caminhar
Uma seleção de experts em mobilidade urbana esteve reunida em São Paulo até sábado (28) para o Seminário Internacional Cidades a Pé, primeiro evento brasileiro dedicado ao tema, graças à iniciativa da Comissão Técnica de Mobilidade a Pé e Acessibilidade da ANTP e ao apoio do Banco Mundial.
Depois de décadas de discussões sobre ônibus, trens, metrôs e outros modos, além de vários anos de debates sobre ciclovias e outras infraestruturas para bicicletas, finalmente a sociedade brasileira se volta para os pedestres e cadeirantes, cidadãos até agora abandonados à própria sorte pelas ruas do país.
O assunto, de fato, não é novo, como mostrou o arquiteto Eduardo Lefévre em sua palestra sobre a evolução do urbanismo nas cidades brasileiras: já nos anos 1970 várias localidades do país implantavam vias exclusivas para pedestres em suas áreas centrais, com mobiliário e paisagismo avançados para a época. O problema é que, salvo exceções, toda essa infraestrutura envelheceu, sem manutenção adequada, e se transformou em uma sucessão de armadilhas para os caminhantes.
Mais ainda, com o aumento geométrico da frota de veículos automotores, calçadas e árvores foram sumindo das ruas e avenidas, tornando o caminhar uma aventura difícil, árida, penosa.
Alerta sobre saúde foi dado pela médica Thais Mauad, que mostrou os efeitos negativos da poluição e ruído sobre o organismo humano. Mesmo assim, defendeu as vantagens da mobilidade ativa em relação ao hábito sedentário do automóvel. Ao final, a doutora Thais deixou a mensagem óbvia: as cidades precisam de muito mais árvores e parques.
A presença de técnicos e ativistas da Europa, México, Colômbia e Argentina deixou claro também que o Brasil entra um pouco atrasado nesta retomada do simples caminhar como meio de transporte. Esse retardo fica evidente também na terceira parte da entrevista com o secretário Jilmar Tatto, responsável pelos transportes em São Paulo, cidade que somente agora - depois de ônibus e bikes - começa a discutir formas para priorizar o pedestre.
Pedestre, aliás, é uma qualificação criada no século 20, após a gradativa ocupação das ruas pelos automóveis, conta o geógrafo Alfonso Sanz, de Madri. Antes havia apenas pessoas, cidadãos, que caminhavam e compartilhavam os espaços públicos em pé de igualdade com outros meios. A tarefa, agora, é recuperar esse status e afastar os carros para fora das cidades.
A nosso favor temos dois super-heróis: o Peatónito, da Cidade do México, e o novíssimo Super-Ando, que faz sua aparição justamente durante o encontro de São Paulo. Vamos com eles.
* Editor do Mobilize Brasil
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