Uma verdadeira aula sobre "caminhabilidade urbana" foi oferecida hoje (26) aos participantes do Seminário Internacional Cidades a Pé, que acontece em São Paulo com programação até sábado, 28 de novembro. O seminário é uma realização da Comissão Técnica de Mobilidade a Pé e Acessibilidade da ANT com o apoio do Banco Mundial.
Árvores nas cidades
Uma das palestras mais provocativas foi dada por Thaís Mauad, médica responsável pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Além de mostrar os vários benefícios à saude trazidos pelo hábito de caminhar (ou pedalar), a professora avançou na discussão sobre a qualidade dos ambientes urbanos oferecidos para quem deseje caminhar nas cidades brasileiras: "Árvores são fundamentais para melhorar a saúde de quem vive e circula pela cidade e precisamos de mais massa verde em toda a cidade", disse ela.
A especialista elogiou a proposta de abertura de vias para pedestres, a exemplo do que se faz na av. Paulista, em São Paulo, mas ponderou que seria muito mais benéfico para a população contar com mais parques, tanto nas regiões centrais como na periferia das cidades.
Thais Mauad mostrou que caminhar em cidades ou em áreas verdes produz estímulos bem diferentes no cérebro das pessoas. "Uma pessoa que sofre os estresses de caminhar na cidade estimula partes do cérebro de caráter mais negativo, enquanto aquela que anda em meio a bosques, jardins ou vias bem arborizadas gera estímulos muito positivos", explicou a pesquisadora.
Cidade Caminhável
Lincoln Paiva, do Instituto Mobilidade Verde, apresentou o projeto Cidade Caminhável, desenvolvido na cidade de Jundiaí-SP, para avaliar as condições de circulação dos pedestres e desenvolver propostas para melhorar a caminhabilidade. O trabalho envolveu um detalhado levantamento sobre as condições de calçadas, arborização, mobiliário urbano, ruído, poluição e até sobre os níveis de felicidade que as pessoas experimentavam quando circulavam por alguns pontos da cidade. Dessa atividade surgiram um rol de propostas, com pequenas intervenções que podem melhorar muito a qualidade de circulação dos pedestres. Um exemplo: o calçadão, no Centro da cidade, é interrompido por um semáforo que abre 1:30 min para carros e apenas 15 segundos para os pedestres. "Um simples ajuste no tempo, que não custaria nada, resolveria os problemas de circulação ", comentou Paiva.
Desestímulo ao uso do carro
Renato Boareto, do Instituto de Energia e Meio Ambiente, lembrou que nas últimas cinco décadas os brasileiros receberam sinais claros dos governos de que o carro seria a melhor foma de transporte: combustível barato, financiamento abundante, estacionamento gratuito nas vias e milhares de novas avenidas, túneis, viadutos e outras obras, feitas exclusivamente para o carro privado. Boareto defendeu com veemência a necessidade de desestimular o uso do carro no meio urbano e abordou os problemas gerados pelo seu uso excessivo do carro, como os acidentes, a ocupação do espaço público e a poluição atmosférica. Como exemplo citou o site http://qualidadedoar.org.br/, mantido pelo Iema, e que permite acompanhar os índices de poluição gerada pelos automóveis em várias cidades do país.
Pontapés
Além das palestras, o evento contou com uma série de apresentações curtas sobre ações e projetos que estão mudando o panorama de caminhabilidade e acessibilidade nas cidades brasileiras, os chamados "pontapés". Destaques:
Giro Inclusivo, ação que ocupa espaços públicos para desenvolver gratuitamente práticas esportivas para pessoas com deficiência;
MapaDaqui, que estimula as pessoas a fazer mapas de seus bairros com as principais referências de escolas, centros de cultura, restaurantes, transportes etc.
Ainda entre os pontapés, a arquiteta Danielle Hoppe apresentou o trabalho que o ITDP está desenvolvendo no Rio de Janeiro para avaliar a caminhabilidade nas cidades. São 22 indicadores, distribuídos entre calçadas, conexões, atrações e usos, segurança pública, segurança viária, e ambiente.
Assista ao vivo o Seminário Cidade a Pé pelo link http://cidadesape.com.br/ao-vivo
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