Hoje as mulheres ainda representam um percentual baixo dos usuários de bicicleta. Os fatores para que a participação feminina não seja ainda maior são conhecidos: insegurança, violência, distribuição desigual de tarefas domésticas, sentimento de inadequação, assédio.
Muitas de nós começaram a se dar conta desse desequilíbrio. Se nós somos a maioria da população, por que nos deslocamos tão pouco de bicicleta? Em vários estados, iniciativas começaram a surgir de forma a colocar as mulheres em rede, em contato, a fim de que elas possam se ajudar, estimular e empoderar. Esse é um reflexo de um movimento que vem ganhando cada vez mais força: a sororidade (neologismo para expressar o reconhecimento de que as mulheres não são inimigas ou competidoras e que não devem se odiar, mas sim estabelecer laços, alianças com vistas a eliminar todas as formas de opressão).
Assim, cada cidade com o seu contexto, temos mulheres se organizando para que mais mulheres pedalem, de forma autônoma, independente e segura. Queremos espaços nossos para discutir machismo e assédio, inclusive dentro dos grupos e coletivos de usuários de bicicleta.
Tentativas
Aqui em Salvador, a primeira tentativa da qual fiz parte não deu muito certo. Pouca adesão, nenhum desdobramento. Novas tentativas, mais maduras e organizadas, virão.
Em Fortaleza, as Ciclanas surgiram de um episódio em que se tentou "homenagear" as mulheres com flores no Dia Internacional da Mulher. Foi o estopim para que elas se organizassem e trouxessem o assunto do machismo para a pauta.
O I Fórum Nordestino da Bicicleta, realizado no Recife no início de novembro, foi um espaço muito interessante para esse movimento de mulheres. Nós tivemos uma roda de diálogo especificamente voltada para discutir o papel da bicicleta na emancipação feminina. Além disso, essas nordestinas, com tanto em comum, puderam se conhecer, conversar, trocar experiências, planejar ações. Surgiu a Articulação de Mulheres do FNEBici.
A ideia é que as mulheres atuem local e regionalmente, de forma a amadurecer as discussões sobre as temáticas feministas, propiciando uma atuação que alcance o propósito de difundir a bicicleta e as ideias de emponderamento feminino.
*Marcella Marconi é servidora pública, ciclista, feminista, dona do blog palavrinhaepalavrao.blogspot.com e da página Palavras na Garupa. Começou a pedalar a há quase 2 anos e há cerca de um incorporou a bicicleta definitivamente como meio de transporte. É Bike Anjo e atua para promover e inserir a bike como meio de transporte no dia a dia de mais pessoas, principalmente mulheres.
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