Cinco das 12 cidades-sede da Copa de 2014 estão com o calendário das obras para transportar torcedores e turistas tão atrasado que nem sequer assinaram contratos de financiamento com a Caixa Econômica Federal (CEF).
Do total de investimentos planejados para as chamadas "obras de mobilidade urbana", só a capital mineira, Belo Horizonte, pode afirmar que começou a tirar os projetos do papel e a usar o dinheiro - mas foram liberados apenas R$ 65,8 milhões.
Segundo dados da CEF, as duas obras iniciadas em Belo Horizonte são a construção de vias exclusivas para ônibus nas avenidas Antonio Carlos e Pedro I e o Boulevard Arrudas-Tereza Cristina.
Documento de acompanhamento das obras da Copa indica que mais da metade (56%) das intervenções previstas na rubrica de mobilidade urbana já sofreu atrasos no seu cronograma, sem contar com o caso de Manaus - claramente o mais problemático segundo esse relatório.
Os investimentos públicos no Mundial de futebol que o Brasil organizará daqui a três anos somam quase R$ 24 bilhões, incluindo estádios, aeroportos e portos. Metade desse valor, R$ 11,8 bilhões, será gasto nas obras de mobilidade urbana.
Conclusão: a apenas sete meses do prazo limite fixado pela presidente Dilma Rousseff para o início de todas as obras - dezembro deste ano -, até agora só foi investida a irrisória porcentagem de 0,5% do dinheiro prometido, o correspondente ao que foi liberado para as obras de Belo Horizonte (R$ 65,8 milhões). O temor é que, no atual ritmo, nem os projetos das obras estejam prontos até o final do ano. O prazo final para a entregas das obras é dezembro de 2013.
Veículos leves. As obras dos corredores de BRT (do inglês Bus Rapid Transit), faixas preferenciais, veículos leves sobre trilhos (VLT) e monotrilhos são as que consumirão a maior fatia do dinheiro público a ser gasto na Copa do Mundo de 2014.
Levantamento feito pelo Estado nas bases de dados da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelo financiamento do BRT do Rio de Janeiro, mostra que cidades não assinaram contratos de financiamento: Manaus, Recife, Fortaleza, Natal e Brasília.
Além das duas obras de Belo Horizonte, o governo registra o início de mais três obras para transporte de torcedores, mas que ainda não tiveram nenhum financiamento: o BRT do Rio de Janeiro, a Via Mangue, em Recife, e o Corredor Mário Andreazza, em Cuiabá.
Estado crítico. Manaus tem a situação mais complicada no conjunto da Copa. Com 20,2 quilômetros de monotrilho e mais 23 quilômetros de BRT programados, a capital do Amazonas entrou oficialmente em alerta crítico, segundo avaliação que está em um documento coordenado pelo Ministério do Esporte.
A previsão oficial de conclusão do monotrilho entre a região norte e o centro da cidade, ligando a rodoviária, a área dos hotéis e o estádio, é que a obra só deve ficar pronta em abril de 2014.
Além disso, as obras enfrentam restrições do Ministério Público, e tanto a licitação como o financiamento para as obras estão suspensas por recomendação dos procuradores.
O Ministério Público Federal também apontou problemas em projetos e licitações realizados por Brasília, São Paulo e Belo Horizonte.
No caso da capital federal, os procuradores encontraram "vícios insanáveis" na licitação para a construção do VLT, segundo apontam em relatório oficial.
"Inevitável". Para Luiza Gomide, diretora de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, as obras da mobilidade urbana são o maior e mais caro desafio da Copa. "São o grande problema, o problema mais difícil e o que leva a maior fatia dos recursos públicos", avalia.
"Os municípios e Estados estão trabalhando, mas é inevitável que os projetos e as obras sejam mais complexos do que o esperado, por causa das intervenções urbanas", completou Gomide.