O arquiteto Henrique Oliveira de Azevedo (blog Rua de Gente) mandou como colaboração ao Mobilize este impressionante texto que trata de uma passarela "infernal" na capital baiana. Com isso, ele espera trazer a público a gravíssima situação enfrentada por parte da população de Salvador, que diariamente cruza pelo alto uma importante avenida da cidade, enfrentando uma situação no mínimo indigna, sem que as autoridades se prestem a adotar alguma solução.
Leia a seguir o artigo:
"Em um exercício com meus alunos, sobre aplicação das normas técnicas, usei como referência um vídeo (de Daniel Lima) para calcular qual seria a largura mínima para a Passarela do Iguatemi, em Salvador.
Conforme a NBR 9050, as passarelas devem absorver um fluxo de 25 pedestres por minuto por metro de largura nos seus horários de pico. O vídeo apresenta um horário em que a passarela tem fluxo moderado, mas mesmo assim, com a contagem, chegamos a uma largura mínima de 7 metros, ou seja, mais de três vezes os atuais 2 metros.
Em outro vídeo (abaixo), podemos ver a mesma passarela congestionada nas vésperas do dia das crianças, em 2011.
Passarela do Iguatemi em Salvador, postado por wsdorea no Youtube em 12/10/2012
Esse é um problema grave enfrentado com frequência pela população carente da cidade e que não encontra repercussão na grande mídia nem solução por parte dos poderes públicos.
Algumas pessoas chegam a se arriscar pelo lado de fora da passarela, pois perdem a paciência de esperar o fluxo das pessoas nestes tais engarrafamentos humanos. Veja isso neste outro vídeo:
Video postado no Youtube por Elielton João em 7 de abr de 2012
Não é de se estranhar que isso aconteça. Além de estreita, a Passarela do Iguatemi está a 740 metros da passarela do Detran e a 570 metros da passarela próxima à Madeireira Brotas. Ou seja, é a única opção de travessia em 1.300 metros.
Precisamos considerar ainda que são muitos os polos atrativos de pessoas nessa região, como o shopping, agora denominado da Bahia, a rodoviária, a Igreja Universal, o Salvador Card, onde as pessoas precisam ir para recarregar seus cartões de ônibus, entre outros. E a avenida não propicia a travessia em outros pontos que não sejam as passarelas.
A largura não é a única inadequação da passarela. Ela, como as demais passarelas da cidade, não atende as especificações das normas com relação à inclinação de suas rampas e também o guarda-corpo (NBR 14718) não oferece segurança adequada ao usuários.
“Só quem já viveu aquela experiência infernal é que sabe como é ruim. Você não pode ir, não pode voltar, e todo mundo reclama que foi empurrado, tem gente que fica com medo de ser roubado. Fora que as pessoas que estão na ponta podem até mesmo cair, porque a proteção lateral não protege ninguém”, disse a comerciante Rita dos Santos para a Tribuna da Bahia.
É muita prioridade para os veículos e pouco espaço destinado às pessoas."
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