Após 4 anos, teleférico do Alemão, no Rio, dá sinais de fracasso

Com seis estações entre a Fazendinha e o Bonsucesso, sistema é visto com desinteresse pela empresa que opera e pela população local, mostra reportagem do UOL

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Fonte: Portal UOL  |  Autor: Portal UOL  |  Postado em: 07 de julho de 2015

Concessionária do sistema também mostra desinteres

Concessionária do sistema também mostra desinteresse

créditos: Julio Cesar Guimarães

 

O teleférico do Complexo do Alemão, que possui seis estações entre a comunidade da Fazendinha, em Inhaúma, e o bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro, completará quatro anos de sua inauguração na próxima terça-feira (7). O sistema foi concebido como um ícone do projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas cariocas. Hoje, porém, é visto com desinteresse pela empresa que o opera, a Supervia, e pela população local.

 

Na última terça-feira (30), a reportagem do UOL percorreu as seis estações e observou que, embora o serviço não esteja sucateado, existe um visível processo de desmobilização. Há poucos funcionários, exceto pela estação-base de Bonsucesso - a única em que ainda há cobrança de tarifa. A liberação das catracas foi determinada pelo governo do Estado como incentivo ao uso do sistema. Mas a medida não fez o teleférico decolar. Até maio de 2014, cerca de 12 mil pessoas utilizavam o serviço diariamente. Neste ano, a média é de aproximadamente 9 mil.

 

Além disso, o turismo na região também não emplacou após a tomada do território por parte das forças policiais - operação que ocorreu com o apoio de tanques do Exército e militares das Forças Armadas, em 2010. Apesar das UPPs e da criação de uma delegacia específica para o conjunto de favelas, traficantes de drogas continuam controlando bocas de fumo e travando confrontos. Os tiroteios são constantes, relatam moradores. Dois casos foram emblemáticos: as mortes do capitão Uanderson Manoel da Silva, ex-comandante da UPP Nova Brasília, e do menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10.

 

"A gente criou uma expectativa que não se concretizou. Quem se sente seguro, hoje, para vir andar de teleférico no Alemão? Vai que uma bala acerta lá em cima e você fica pendurado. O turista certamente pensa nisso", afirmou um ativista cultural, que preferiu não se identificar. "A sensação era de que o interesse pela favela ia crescer depois da novela [referência a "Salve Jorge", da "TV Globo"] e de todo o alarde feito pelo governo", afirmou o comerciante José Gomes. "Pois é, estamos esperando até hoje", ironizou.

 

Desmobilização

O processo de desmobilização do teleférico do Alemão ocorre porque o contrato com a Supervia está próximo do fim. Com isso, o sistema parou de funcionar aos domingos e chegou a operar em horário reduzido: de segunda a sexta, de 6h a 21h, para 8h a 20h, e aos sábados, de 9h a 18h, para 10h a 18h. A mudança prejudicava não só os trabalhadores que saem cedo de casa, mas também as agências de turismo que, mesmo com o cenário adverso, tentam promover a divulgação das favelas do Complexo do Alemão.

 

Após dois meses de críticas e reclamações, representantes da empresa e da Secretaria de Estado de Transportes fizeram uma reunião, na qual foi acertada a renovação pontual do contrato entre as partes. Com isso, o horário normal de funcionamento foi retomado na última segunda-feira (29). Aos domingos, no entanto, o teleférico continua parado. A tarifa custa R$ 1 para quem utiliza RioCard, Bilhete Único, Vale-Transporte ou Cartão Expresso. Já quem compra a passagem diretamente na bilheteria paga R$ 5.

 

Licitação: 4 anos, um edital e nenhuma definição

Sem licitação, a Supervia foi contratada, em 2011, para operar o teleférico do Alemão, obra que consumiu mais de R$ 200 milhões dos cofres do governo federal e foi objeto de muita propaganda. Na ocasião, tratava-se de um acordo em caráter experimental, o que motivou a dispensa do certame.

 

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