Em SP, projeto quer luz natural para devolver 'baixo Minhocão' às pessoas

Uma fenda entre as pistas do elevado poderia trazer melhorias para que as pessoas se apropriem do local, que ganharia plantas, quiosques, wi-fi e espaços de convivência

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Fonte: Exame  |  Autor: Monica Reolom  |  Postado em: 06 de julho de 2015

Parte inferior do minhocão ganharia luz natural

Parte inferior do Minhocão ganharia luz natural

créditos: Carlos Severo/Fotos Públicas

 

O Minhocão, na região central de São Paulo, foi inaugurado em 1971 e, desde então, a parte de baixo do elevado nunca recebeu a luz do sol. Um projeto paisagístico e arquitetônico pretende devolver a iluminação natural a essa área, abrindo uma fenda entre as duas pistas que passam por cima, e trazendo melhorias para que as pessoas se apropriem do local: plantas suspensas, quiosques com água, Wi-Fi e espaços de convivência.

 

Chamado de Marquise Minhocão, o projeto foi apresentado ao prefeito Fernando Haddad (PT) na semana passada pelo paisagista Guil Blanche e pela arquiteta Carolina Bueno, do escritório Triptyque. A Prefeitura começou, neste ano, a instalar ciclovias embaixo do elevado, local conhecido pela degradação, e busca tornar o ambiente mais agradável aos ciclistas e pedestres.

 

"Com a chegada da ciclovia, muda a concepção para uma nova ocupação", afirma Guil, que também é diretor do Movimento 90°, grupo que busca a instalação de jardins verticais pela cidade. "O que o Minhocão cria é um grande abrigo, por isso, demos o nome ao projeto de 'marquise', como a que existe e é usada no Ibirapuera." O projeto foi feito em seis meses. Em uma primeira reunião de Guil com Haddad a respeito da instalação de jardins verticais nos prédios ao redor do Minhocão, em dezembro, o prefeito havia sinalizado a necessidade de se pensar na parte inferior do elevado. Guil convidou a Triptyque para desenhar um projeto e, em maio, foram recolhidas sugestões de melhorias dos moradores do entorno. Jardim e áreas verdes surgiram como a principal demanda, seguidos de iluminação e ambiente para sentar e descansar.

 

"O primeiro passo foi pensar em abrir o vão central em um metro entre os carros que passam no elevado. Dessa forma, você já conecta a parte de cima com a de baixo", diz Carolina. A abertura seria possível porque, como se retira apenas uma capa de concreto, não interferiria na estrutura da construção - só a proteção lateral para os carros, em cima, teria de ser refeita. As concavidades no teto e na lateral já existentes na estrutura do Minhocão deverão servir de vasos - as plantas, de espécies adaptadas à pouca luz, serão colocadas dentro de calhas e cairão do teto como uma minifloresta. O sistema hidráulico do elevado - que já existe, está nos pilares e acumula água da chuva - será aproveitado para irrigar as plantas suspensas, por gotejamento. "Só com a massa vegetal é possível diminuir em 22% a poluição dos carros", afirma Guil.

 

Com o intuito de ocupar aquele espaço com serviços, como floriculturas ou bancas de jornal, serão construídos módulos de 3 a 6 metros quadrados entre as ciclovias, como se fossem caixas metálicas com porta, equipadas com luz, água e Wi-Fi. "Queremos movimento no local, como se fosse uma praia urbana. Brinco que, enquanto o Rio tem o Posto 9 em Ipanema, nós poderemos ter o pilar 1, 2 ou 3 no Minhocão", diz Carolina.

 

A ideia é viabilizar o projeto inicialmente em uma parte do elevado, da alça de acesso para a Rua da Consolação até o Terminal Amaral Gurgel, trecho que compreende 650 metros, de um total de 3,4 quilômetros. O custo estimado é de cerca de R$ 3 milhões. A Prefeitura, se aprovar o piloto, deve determinar a maneira de financiar o projeto.

 

Consenso

Embora discordem sobre o futuro do elevado, a Associação Parque Minhocão e o Movimento Desmonte Minhocão concordam que qualquer iniciativa para a parte de baixo da via é válida. "A parte de cima é aquela em que basicamente tudo fica focado, mas a gente sabe que a parte de baixo é a mais difícil de ser resolvida em termos de projeto. Como nós não temos projeto e não vamos fazer, ficamos felizes que alguém se preocupe e já comece a fazer algo", afirma Athos Comolatti, que defende a criação do parque.

 

Yara Góes, do movimento que quer a demolição do elevado, diz que "o primeiro desejo é o desmonte, mas, enquanto isso, floreiras são sempre bem-vindas. Todo mundo gosta do verde, São Paulo tem muito cimento e concreto e é preciso colocar mais verde na cidade".

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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