"Faltava vontade política para implantar ciclovias", diz urbanista
Ex-coordenadora do Departamento de Planejamento Cicloviário da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), onde trabalhou durante 35 anos, Maria Ermelina Malatesta é favorável à implantação da ciclovia na avenida Paulista, aberta neste domingo (28).
Para a especialista em mobilidade não motorizada pela FAU-USP, a via tem importância não só por haver demanda dos ciclistas no local, mas também por ser um modelo implantado em uma avenida emblemática. Ela conta que estudos sobre o assunto são feitos desde a década de 1980 em São Paulo, mas para que saiam do papel, as ciclovias precisam da vontade política dos gestores públicos.
Qual sua opinião sobre a ciclovia da avenida Paulista?
Apoio totalmente. Por vários motivos. Primeiro porque vai dar apoio a demanda que já existe na Paulista. A via tem demanda por um tipo de viagem que não é captada na metodologia de pesquisa do metrô. Está sendo propalado que ali não há demanda. Estou afirmando que tem, sim. Não é captado pela pesquisa Origem Destino do metrô, mas há viagem de integração, uso de bicicletas alugadas, entregas e mensageiros. Há também outras modos de mobilidade que circulam pelas calçadas como os skatistas, patinetes, até os cadeirantes.
De repente todo mundo acha que andar de bicicleta é moda. Mas importância da ciclovia da Paulista não é só criar um espaço para a situação do ciclista, que existe demanda, mas é emblemático. Ela é um espaço público com grande significado para o Brasil, é um símbolo para o país todo.
Como você vê as críticas à falta de estudos sobre as ciclovias?
Não aguento ouvir isso, juro por Deus. Tem gente que nunca esteve nem aí para pedestre, agora lembraram deles e estão usando isso como desculpa. É uma lenda que se criou, não sei de onde partiu, dos palpiteiros de plantão. O planejamento cicloviário na CET é feito há mais de 30 anos, desde 1980. Escrevi um boletim técnico antes de sair da CET sobre todos esses estudos que foram feitos na cidade.
E qual a conclusão?
Os vários planos que foram feitos não foram implantados porque não havia vontade política, não era o plano de governo como é o dessa administração. Na década de 1980, quando em Amsterdã estava 'bombando' a rede cicloviária, até por causa da crise do petróleo, aqui também tivemos os ecos dessa crise, mas acabou não se tornando uma prioridade. Agora a questão voltou, mas por outro motivo. A preocupação com a qualidade de vida urbana.
Como vai ser a relação entre ciclistas e pedestres?
As ilhas (no canteiro central) sempre existiram. A programação semafórica, quando as travessias ficavam nas esquinas, não dava tempo total de travessia. Os pedestres ficavam retidos no canteiro central. A CET deslocou as travessias, recuou, para poder acomodar os veículos que viram na avenida e deu tempo total de travessia.
A Paulista tem tempo total de verde suficiente para o pedestre atravessar. Se por acaso acontecer de o volume de pedestres aumentar, se criar novos polos geradores, é muito fácil de a CET resolver. É só rever a programação semafórica. Outra coisa, as pistas para as bicicletas acompanham o sentido de tráfego. Não vai ter o perigo de alguém ficar impaciente e se arriscar. Para o lado que ele estiver olhando é de onde virá a bicicleta. O projeto está tecnicamente correto.
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