Quem se move a pé no Grande ABC vive em meio a armadilhas

"Calçadas estão perdendo seu principal objetivo, de acolher o pedestre", afirma a arquiteta e professora da Universidade Federal do ABC, Silvia Helena Passarelli

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Fonte: Diário do Grande ABC  |  Autor: Daniel Tossato  |  Postado em: 12 de junho de 2015

Calçadas sem infraestrutura mínima para garantir s

Calçadas sem infraestrutura mínima para garantir segurança

créditos: DGABC

 

Caminhar pelo Grande ABC não tem sido tarefa fácil e segura para a população. Muitas são as chamadas armadilhas, que impossibilitam mobilidade segura por ruas e calçadas. Facilmente o pedestre se depara com fios soltos, caçambas em lugar impróprio, passeios destruídos, buracos, pisos quebrados, devido as raízes das árvores, e tantas outras irregularidades.

 

As administrações admitem a existência dos problemas e dizem que estão em busca de parcerias para que a urbanização dos municípios tenham melhores condições. Para arquiteta e urbanista, a calçada tem perdido o objetivo principal, que é o de acolher o pedestre. Na Avenida Ulysses Guimarães, em Diadema, uma das principais vias da cidade, parte da calçada feita de blocos, está intransitável. Há um enorme buraco, devido a falta destes blocos, que obriga o pedestre a transitar pela rua. “Está faltando uma parte da calçada. E o problema é maior, pois fica em frente a um ponto de ônibus. Quando chove esse buraco fica cheio de água e ninguém pode utilizar a parada. O local destinado ao cadeirante também está horrível, nem sei como um portador de deficiência consegue trafegar por aqui”, diz o operador Valmir Edson Nunes. Na mesma avenida, há grandes árvores que também obstruem a caminhada de quem utiliza o passeio público.

 

Outra via de Diadema que exibe passeio público em péssimas condições é a Roberto Gordon. Além do mato que toma grande parte do local, o pedestre tem de desviar de vários postes que estão bem no meio do percurso. “Há calçadas que estão em péssimas condições, o que dificulta muito. Eu, que já sou idoso, sofro, pois não tenho mais a mobilidade de antes”, explica Eliseu Ogeda, 68 anos. Em nota, a Prefeitura de Diadema respondeu que aguarda recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana para que possa adequar calçadas e demais vias que se encontram nesse pacote. Assim como nos projetos que estão sendo desenvolvidos para requalificação das Centralidades (Centros Comerciais Dispersos no Município), que prevê a adequação, tanto das calçadas, quanto dos mobiliários urbanos (pontos de ônibus e bancos de praças, por exemplo).

 

Em Mauá, a situação não é diferente, muitas calçadas estão em condições que dificultam o passeio de quem utiliza as vias. Na Avenida Alberto Soares, uma importante pista do município, há locais em que o passeio público está tomado por barro e pedras, dando impressão de total abandono. “Passo aqui para ir trabalhar e é complicado. Tem partes que praticamente não há calçada”, explica Osório Silva, 55. Segundo o trabalhador, devido ao grande movimento na avenida, ele tenta evitar utilizar o asfalto para que possa caminhar. “É realmente uma situação complicada ou caminha pela terra ou pelo asfalto”, conclui Silva. A administração, através da Secretaria de Mobilidade Urbana, informou que existem estudos em andamento para a realização de uma PPP (Parceria Público-Privada) visando a adequação, conservação e manutenção de passeios das principais vias, porém não previsão para seu lançamento.

 

"Caminho por esta calçada, mas é complicado”, diz a aposentada Silvina Costa, 66. Ela, se refere à Travessa João Rodrigues, na Vila Bastos, em Santo André. Na via, Silvina é obrigada a desviar dos postes que tomam toda a calçada, colocando em risco a própria vida. “Ainda bem que a rua é pequena e passa pouco carro, mas isso não teria que acontecer”, lamenta.

 

Em Destaque

Ainda foi possível encontrar situações preocupante em parte da Rua dos Coqueiros, no Bairro Campestre, assim como na Rua Rosa Siqueira, uma travessa da Avenida Dom Pedro II , todas também na cidade. Em ambas as vias há muito lixo e entulho, assim como degraus e raízes de árvores. Num dos lados da Rua dos Coqueiros uma parte da calçada foi totalmente retirada, devido a construção de um condomínio.

 

A Secretaria de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos de Santo André argumentou que a manutenção das calçadas é de responsabilidade dos proprietários, mas que a Prefeitura realiza trabalhos para fiscalizar, notificar e orientar locais próximos ao centro da cidade. Em São Caetano, a situação não está tão alarmante. Nas ruas do centro, assim como em alguns bairros, as armadilhas para os pedestres não são muitas, mais existem. A Rua Nelly Pellegrino tem obstruções por árvores e suas raízes, obrigando o transeunte a andar pela rua e não pela calçada. Um dos retornos da Avenida Lauro Gomes, que passa por cima do Ribeirão dos Meninos, tem calçadas irregulares e faltam partes dos canos que servem de proteção para que as pessoas não caiam no rio.

 

A Prefeitura de São Caetano explica que está investindo na acessibilidade das calçadas, construindo rampas de acesso , conforme os novos projetos de construção aprovados n o município. Ainda esclarece que a responsabilidade pelos passeios públicos é dos proprietários, a não ser quando a administração realiza alguma obra de remodelação.

 

A vizinha São Bernardo também mostrou várias armadilhas para quem caminha por lá. Na Avenida Tietê, um fio que ainda está ligado ao poste, ameaça quem caminha pela calçada. Por não haver sinalização, nem identificação de onde parte o fio, fica impossível saber se ele pode ferir alguém, que encoste no cabo. A calçada da Avenida Lauro Gomes, também está em péssima situação, já que as raízes das árvores estão quebrando todo o calçamento, criando assim, uma superfície extremamente irregular. Na Rua Jurubatuba, principal polo de lojas de móveis do Grande ABC, e uma das vias mais importantes do município, tem um buraco com profundidade preocupante, que cabe uma pessoa em pé, ocupando boa parte da calçada.

 

A Prefeitura da cidade foi procurada, mas não manifestou nenhuma posição sobre as irregularidades.

 

Calçadas não acolhem mais o pedestre

“As calçadas estão perdendo o principal objetivo, que é o de acolher o pedestre”. É com esta afirmação que a arquiteta e professora adjunta da UFABC (Universidade Federal do ABC) e especialista em Planejamento Urbano e Regional, Silvia Helena Passarelli, define a condição do passeio público na região.

 

Segundo a professora, existem duas questões principais que levam a má condição das calçadas. A primeira seria a descontinuidade do passeio, devido aos degraus e rampas de acesso, que priorizam o veículo. “O proprietário da casa, e por consequência, da calçada, opta em priorizar o carro e por isso, faz uma rampa, facilitando assim o acesso do veículo, mas deixando a calçada intransitável para quem mais utiliza, que é o pedestre”.

 

A docente ressalta também que falta manutenção por parte do proprietário da calçada. “Muitas vezes o dono da casa coloca o lixo para fora, o entulho e demais resíduos, que obstruem a passagem de quem caminha. Este também é um indicativo de que a calçada é utilizada fora de seu objetivo”, explica. Entre as possibilidades sugeridas pela arquiteta para amenizar os problemas do passeio público está a padronização do tipo de piso. “O padrão estético pode ser debatido, mas acredito que se um tipo de piso, visando o pedestre, fosse adotado pelas administrações .Grande parte do problema seria resolvido. Porém, tem que haver também uma melhor fiscalização, regulamentação e implantação das regras”, frisa.

 

Outra irregularidade detectada foram postes no meio das calçadas. Para a professora esse é um problema crônico, pois os passeios têm que seguir uma largura mínima e quando essa medida não é seguida, a passagem fica mais difícil se há postes no meio. “Outro sintoma da falta de planejamento para o pedestre é a quantidade de postes. O pedestre não é lembrado quando se planeja a cidade”, conclui.

 

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