A Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou comissão geral nesta quinta-feira (14) para tratar de mobilidade urbana e sustentabilidade. No debate, a ampliação das linhas de metrô e o aumento do número de trens foram apontados como necessários para equacionar as deficiências do transporte de massas no DF. Os participantes apontaram, ainda, ser preciso integrar os diferentes modais (como bicicleta, metrô e ônibus), de forma a garantir de forma plena o direito de ir e vir.
"A mobilidade urbana é um dos principais problemas que enfrentamos hoje, e é o mais visível", disse na abertura da comissão geral o deputado Chico Leite (PT), à frente da discussão. Para ele, pensar mobilidade e sustentabilidade passa por investimentos em transportes coletivos, no uso da bicicleta e na acessibilidade. Além disso, o distrital apontou ser necessário refletir sobre a descentralização dos empregos – hoje concentrados no Plano Piloto e exigindo deslocamentos diários em massa para a área.
Com dados sobre o sistema ferroviário de todo o Brasil, o diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Rodrigo Vilaça, mostrou a eficiência do metrô em relação ao modal rodoviário e a necessidade de investimentos no transporte ferroviário. Segundo ele, apesar de o País contar com apenas 521 estações (número inferior à quantidade de pontos de ônibus no DF), o metrô evitou a circulação em 2014 de mais de um milhão de carros e de 16 mil ônibus por dia. Para ele, essa forma de transporte precisa ser ampliada e modernizada.
Em sintonia com a fala de Vilaça, o presidente da Companhia do Metropolitano do DF (Metrô/DF), Marcelo Dourado, disse que Brasília está num momento "crucial": "Ou entra em caos ou investe no transporte sobre trilhos". Ele destacou que o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) aponta que 89% das vias do DF entrarão em colapso em 2020, caso o modelo ferroviário não seja o preferencial.
Dourado fez questão de elogiar a aprovação pela Câmara Legislativa de recursos para o Metrô – que, conforme explicou, tem uma capacidade de transporte muito superior em comparação com os demais modais. Segundo ele, nos próximos meses a companhia vai lançar diversos editais para a aquisição de novos vagões e para a expansão das linhas, incluindo a primeira estação na Asa Norte. O presidente do Metrô anunciou, também, que serão iniciados os trabalhos para a linha férrea de Brasília a Goiânia, idealizada por JK antes da inauguração da capital. "Estou entusiasmado, apesar das dificuldades", concluiu.
O conselheiro da ONG Rodas da Paz, Pêrsio Davison, também concordou com as vantagens do investimento no transporte sobre trilhos. "Os dormentes e trilhos aqui do DF são dos anos 90; em São Paulo, são dos anos 70; já o recapeamento do asfalto da W3, feito há um ano e meio, apresenta problemas", comentou. Ainda em sua opinião, deve haver uma política de integração entre os modais. "Estudo do Metrô/DF mostra que 2,2% dos usuários deste meio chegam até a estação de bicicleta", apontou. Ele defendeu mais investimento em educação e em estrutura cicloviária adequada, com sinalização e fiscalização.
Desafios
"Que cidade queremos daqui a 50, 100 anos?", questionou o secretário de Mobilidade do GDF, Carlos Tomé, ao apontar a mobilidade como fator determinante ao acesso a bens e serviços. A questão colocada, em sua opinião, envolve alguns desafios, como o planejamento da mobilidade a partir da ocupação territorial; o investimento em infraestrutura e no serviço (que deve ter confiabilidade, pontualidade, segurança, conforto e acessibilidade), e mudança de cultura – o que passa, na opinião de Tomé, por uma convivência pacífica no trânsito entre motoristas, ciclistas e pedestres.
Segundo o secretário da pasta, o objetivo deve ser permitir que as pessoas possam se deslocar como quiserem e de forma integrada. No que concerne ao transporte de massas, ele também apontou o transporte sobre trilhos como a solução mais eficiente.
Fiscalização – Resolver a questão da mobilidade urbana é, para a presidente da Câmara, deputada Celina Leão (PDT), uma "responsabilidade imensa", já que afeta a vida das pessoas todos os dias. Para a distrital, outro desafio da área é a fiscalização: "É o fiscal que multa a empresa quando o ônibus não passa no horário". Celina defendeu melhores condições de trabalho para o DFTrans.
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