Cuidado, Árvores!

O pesquisador Sérgio Brazolin explica porque a arborização é tão importante para a vida urbana e defende políticas para a conservação das árvores que fazem bem às cidades

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Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo  |  Autor: Sérgio Brazolin*  |  Postado em: 25 de fevereiro de 2015

Quedas de árvores: o bem-estar sob risco nas cidad

Calçada ciclovia e arborização: convivência saudável

créditos: Bonde


Árvores são fundamentais para o conforto de quem caminha, pedala, viaja de ônibus e mesmo para quem anda de carro pelas cidades brasileiras. Nas últimas semanas, com as tempestades de verão - e a queda de centenas de ávores em São Paulo - a arborização urbana passou a ser vista com desconfiança pela população. Este artigo de um especialista do IPT joga um pouco de luz no debate.

 

Verão é tempo de chuvas e ventos fortes! Não é novidade a suscetibilidade das árvores nessas condições climáticas. Prefeituras e concessionárias de energia elétrica têm que se preparar para evitar acidentes, que podem afetar o trânsito, os serviços de fornecimento de energia elétrica e causar danos às propriedades e, na pior situação, às pessoas.
 

Podemos considerar o ser vivo árvore como uma estrutura complexa que, diante de forças do vento ou instabilidade do solo, com a copa e o tronco encharcados pelo excesso de chuva, ficará sujeita à queda. Nas cidades em que a arborização urbana não foi planejada ou não há o manejo adequado, esse risco se agrava pela escolha inadequada do local ou das espécies de árvores. Somam-se a isto as interferências urbanas que afetam o crescimento, como o tamanho dos canteiros e das calçadas e as redes de abastecimento de energia, água, esgoto e gás.

A ação do homem na execução de podas inadequadas pode desequilibrar a árvore e favorecer o apodrecimento do tronco e raízes, o que também é um fator significativo para a queda.
 

A tomada de decisão sobre o manejo adequado depende do conhecimento da biologia das espécies, das pragas, dos organismos deterioradores, como cupins e fungos, e da fisiologia e anatomia vegetal. Para a análise do risco de queda, acrescenta-se a biomecânica das árvores, área da ciência relativamente nova que reúne o conhecimento de engenharia e biologia e que considera a árvore como uma estrutura, sujeita às intempéries, mas que também  reage às interferências externas. Portanto, caracteriza-se a necessidade da formação e aprimoramento dos profissionais responsáveis pela avaliação das árvores dos quais muitas vezes carecem as prefeituras.
 

Apesar do conhecimento existente, deve-se ressaltar que a avaliação do risco de queda de uma árvore possui incertezas. No entanto, elas tendem a diminuir com a utilização de equipamentos para avaliações não destrutivas e de tecnologias confiáveis de diagnóstico. Institutos de pesquisa e universidades têm papel importante no aprimoramento dos critérios de tomada de decisão, com base técnica e científica, para ajudar o poder público na gestão da arborização urbana.
 

Hoje, o principal gargalo tecnológico está na avaliação das raízes pelo fato de estarem enterradas. É necessário verificar sua distribuição e sanidade; a tecnologia de tomografia e radar está sendo validada em todo o mundo para esta situação, inclusive no Brasil. A fatalidade ainda acontece, uma vez que não é possível se inferir sobre o estado do sistema de raízes das árvores, e exemplares completamente sadios também podem cair pela ação do vento e peso próprio. Entretanto, é inadmissível, diante de evidências objetivas de problemas, não se estabelecer uma manutenção preventiva a fim de minimizar os riscos às cidades.
 

Em bairros de arborização melhor estabelecida, vive-se o dilema de os exemplares estarem iniciando seu processo de declínio e necessitarem de mais cuidados. Tecnicamente é necessário um monitoramento mais frequente e práticas de manejo, o que inclui a decisão sobre a remoção ou poda das árvores. ]


Deve-se evitar qualquer postura ‘conservadora’, que descaracterize as árvores das cidades com podas drásticas, além de uma pró-atividade ‘conservacionista’ equivocada, que impeça qualquer manejo necessário a favor da segurança.
 

Cabe à prefeitura e às empresas que venham a serem contratadas para trabalhar com a arborização urbana, a utilização do melhor conhecimento e da tecnologia mais moderna para a iniciação, com urgência, do inventário de árvores da cidade, estabelecendo-se um programa de manejo preventivo, com prioridade para os bairros com arborização mais antiga, as avenidas e os locais com grande concentração de veículos e pessoas, entre outros critérios.


Técnica avalia condição de um "pau-ferro", em Mauá-SP
 

Em um projeto piloto e abrangente, o IPT tem desenvolvido este tipo de trabalho essencial em conjunto com a prefeitura de Mauá (SP), financiado pelo Fundo Estadual de Defesa de Interesses Difusos - FID de São Paulo. É primordial que esse manejo esteja concatenado com um programa de planejamento e plantio para mantermos a paisagem e os serviços ambientais que as árvores oferecem às cidades. Esses programas devem estar contextualizados em um Plano Diretor de Arborização Urbana efetivo, que independa de mudanças na gestão e que garanta o convívio harmônico entre os elementos urbanos e os cidadãos.



*Sérgio Brazolin é biólogo, doutor em engenharia florestal e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)

 


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