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Uma entrevista com Suzana Nogueira, a arquiteta que supervisiona a expansão das ciclovias em São Paulo

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize  |  Postado em: 12 de fevereiro de 2015

Suzana Nogueira, a arquiteta que coordena as novas

Suzana Nogueira: ela coordena as ciclovias em SP

créditos: Foto original de Rachel Schein / Vá de Bike

 

Suzana Nogueira é arquiteta e urbanista da CET - Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo. Circulando de bike, ela supervisiona a implantação do Plano Cicloviário de São Paulo, ação ousada que pretende criar mais 400 km de ciclovias e ciclofaixas na capital paulista. Nesta entrevista, ela fala sobre custos, problemas de projeto e futuro do programa.

 

Afinal, qual é o custo das ciclovias e ciclofaixas de São Paulo?
O valor é variável e depende muito do tipo de obra necessária em cada ponto. As intervenções mais caras são aquelas que envolvem a mudança na geometria da via e nova pavimentação. O custo médio está entre R$ 180 mil a 200 mil por quilômetro. O plano de 400 km tinha uma previsão de R$ 40 milhões em 2014 e outros 40 milhões em 2015. Em 2014 tivemos 10 milhões do Fema-Fundo Especial do Meio Ambiente e o restante veio do orçamento municipal.

 

A meta continua nos  400 km até o final de 2015?
Sim, mas também teremos algumas ciclovias que serão construídas ao longo dos novos corredores de mobilidade previstos no Plano Diretor Estratégico. Essas obras envolvem a construção de corredores exclusivos de ônibus, remodelaçao de calçadas e ciclovias. Com essas obras ganharemos cerca de mais 100 km. Considerando a pequena rede que a cidade já tinha, cerca de 63 km, chegaremos a quase 700 km de ciclovias e ciclofaixas até 2016. Mas já estamos pensando numa nova meta de 1.000 km cicláveis até o final da gestão...

 

No ano passado, logo após o início da Campanha Adote uma Ponte, a prefeitura anunciou um plano para facilitar a travessia de pedestres e ciclistas nas pontes paulistanas. Três obras já foram realizadas, mas o resultado ficou muito aquém do prometido. A sinalização piscante, de advertência, por exemplo, nunca foi instalada...Essas obras já foram concluídas?
Na ponte da Casa Verde, que foi um protótipo  do projeto, algumas adaptações realmente não foram ainda realizadas. Por problemas de drenagem, tivemos que manter aberturas laterais nas lombofaixas, o que permite a passagem de motos em alta velocidade e tem gerado reclamações dos ciclistas. Na Ponte das Bandeiras, fizemos a ciclovia para a travessia da ponte, mas não há continuidade nos dois lados do rio Tietê. Nessa ponte, como o movimento de veículos é menos intenso e as alças são mais estreitas, a CET concluiu que a lombofaixa não é necessária.

 

Nessa ponte, a das Bandeiras, há duas faixas, uma azul para o pedestre, e outra vermelha para o ciclista. Acontece que a faixa dos pedestres está no lado externo, mais sujeito ao trânsito de veículos pesados. Não seria mais correto fazer o contrário?
Sim, mas veja que estamos procurando fazer as obras com o mínimo de intervenções. No lado esquerdo da calçada temos postes, bocas de lobo e fica difícil - até perigoso - para o ciclista desviar desses obstáculos. O pedestre consegue desviar com mais facilidade. Os custos de remanejamento de postes, de tubulações seriam altos demais para a obra.

 

Quem circula pelas ciclovias de São Paulo vê um mosaico de cores, passando pelo vermelho, rosa, laranja e amarelo. Já há uma definição de que tipo de pintura e revestimento será utilizado nas futuras ciclovias?

Iniciamos o programa de ciclovias com a ideia de implantar a rede e depois fazer a análise dos resultados. Neste momento estamos revisando o que já foi feito para tentar estabelecer padrões de materiais. A pintura é a opção mais barata, mas requer muita manutenção. Estamos experimentando outras alternativas,  como o asfalto e o concreto pigmentados, que são mais duráveis, porém mais caros.Pensamos também em utilizar o piso intertravado de concreto, especialmente nas saídas de garagens e estacionamentos, porque nesses pontos onde há trafego de veículos pesados a pintura acaba se desgastando; mas concluímos que a manutenção seria difícil. Em Nova York, que já tem uma experiência mais antiga, eles têm os mesmo problemas que em São Paulo. Lá eles usam uma pintura a quente, mas que mesmo assim requer manutenção...Daqui a dez anos, quando a rede cicloviária estive consolidada, talvez não seja mais necessário pintar as pistas.

 

Em algumas inspeções pela cidade notamos sérios problemas na pavimentação da maior parte das ciclovias. Já há um programa de revisão, de manutenção?

Quem anda de bicicleta sabe que os buracos e as inclinações exageradas nas laterais das pistas são perigosas. Acontece que os projetistas e fiscais das obras vão aos locais de carro e nem sempre são capazes de ver esses problemas. Estamos formando profissionais que sejam capazes de ter esse olhar diferente. No momento, estamos focados na manutenção dos pavimentos e essa atividade vai começar neste ano, assim que houver recursos.

 

Também existem problemas de sinalização, que confundem ciclistas, pedestres e motoristas. Vimos isso na rua Prates, no Bom Retiro, em Pinheiros...
Sim, nos estamos acompanhando e já temos propostas para esses locais, mas ainda não conseguimos incluir no cronograma de implantação. E, às vezes, a implantação não foi concluída, como é o caso da rua Prates.

 

Um ponto importante da manutenção é a limpeza das faixas. Como elas estão nas laterais, o tráfego de veículos acaba empurrando para lá todo tipo de resíduo, como arames, pregos, garrafas e muita poeira, que vira limo ou lama, assim que chegam as chuvas. Não haverá uma programação de limpeza das pistas?

A atribuição de limpeza é da Secretaria de Serviços, e a programação das operações de limpeza fica a cargo da Secretaria de Subprefeituras. Todas as demandas desse tipo seguem para as Subprefeituras, mas nós não conseguimos controlar essa programação.

 

A CET tem alguma estatística sobre o aumento no número de ciclistas em circulação pela cidade?
Não, ainda não temos, mas em algumas vias isso é bem evidente, como na Faria Lima, que é o lugar mais monitorado, e na av. Vergueiro. Na Vila Guilherme (zona norte), há uma circulação importante, sobretudo local, assim no Jardim Helena, zona leste. Agora pretendemos implantar uma contagem eletrônica nas vias principais. Mas sabemos que já existe a compreensão de que estamos fazendo uma melhoria para pedestres e ciclistas e que são ações complementares aos transportes de massa.

 

Falando em transporte de massa, São Paulo tem algumas ciclovias que foram implantadas pelo Metrô e por alguma secretárias do governo do estado. Essa infraestrutura não "conversa" muito bem com a rede cicloviária da prefeitura. Não seria interessante integrar tudo: ciclovias, ciclofaixas, terminais de transportes, bicicletários e estações de bikes compartilhadas?

No final de 2014 nós implantamos bicicletários em todos os terminais de ônibus da prefeitura. Agora temos uma negociação com a equipe do Metrô (Companhia do Metropolitano) para que os trabalhos caminhem na mesma direção. O metrô tem uma proposta para as bicicletas e nós queremos integrar tudo. Por exempo, em breve as estações do BikeSampa serão instaladas dentro das estações do metrô...


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