Para abrir espaço ao carro, entre os anos 1950 e 1980 dezenas de cidades americanas investiram enormes somas de dinheiros em projetos de construção das free-ways, avenidas largas, com várias pistas, sem cruzamentos, tal como rodovias urbanas. O modelo foi imitado em todo o mundo, inclusive no Brasil, gerando elevados, túneis e grandes eixos viários. Em muitos casos, engenheiros e urbanistas planejaram essas vias como grandes retas, que cruzavam o coração das cidades, removendo milhares de habitações e pequenos negócios.
Na época, essa postura foi vista como um sinal de progresso. Os planejadores pretendiam não apenas melhorar a circulação das pessoas (e carros), mas viam uma oportunidade para a renovação de áreas pobres, degradadas. No entanto - hoje se sabe - derrubar um bairro inteiro não é solução para os problemas sociais e de criminalidade. Ao contrário, muitas vezes as pessoas desalojadas migram para outras áreas e simplesmente transferem os problemas da superpopulação para os novos endereços. Nos EUA, os índices de criminalidade não cairam; ao contrário, aumentaram nessas cidades após a implantação desses projetos.
Ao cortar bairros inteiros, os planejadores minam a estrutura de vizinhança em cada lado da nova rodovia. O bairros perdem a tranquilidade, se tornam mais ruidosos e reduzem a chamada "caminhabilidade" em suas ruas. Assim, tais lugares se tornam menos atrativos o comércio de rua. Nesses casos, quem podia optou por mudar para os subúrbios, acelerando ainda mais o processo de declínio dos bairros tradicionais.
O pesquisador Shane Hampton, da Universidade de Oklahoma, compilou uma interessante coleção de imagens aéreas, antes e depois da construção das freeways, mostrando a transformação de grandes cidades no Meio Oeste americano. No site do Institute for Quality Communities (http://iqc.ou.edu/2014/12/09/60years), pode-se ver, em detalhes, as mudanças nos bairros que deram lugar às grandes avenidas.
Reproduzimos aqui alguns exemplos:
Cincinnati
Estes mapas comparam Cincinnati, em 1955 e em 2013, com foco na área oeste da cidade. É clara a força da rodovia como motor para a destruição de dezenas de quarteirões.
Detroit
A cidade foi totalmente transformada pela construção da autoestrada entre 1951 e 2010. Antes, o centro era circundado por quarteirões de de ruas com alta densidade populacional. Hoje, é totalmente cercado por rodovias.
Minneapolis
As imagens comparam as áreas a leste do centro de Minneapolis entre 1953 e 2014. Onde agora está uma freeway estavam alguns dos quarteirões mais densamente povoados.
Os mapas em escala maior, com tecnologia deslizante, estão disponíveis no site http://iqc.ou.edu/2014/12/09/60years