Mais de quatro bicicletas foram roubadas ou furtadas por dia na cidade de São Paulo nos dez primeiros meses deste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) obtidos pelo G1. Há relatos de extravio de todos os modelos e preços, desde as nacionais mais básicas, que custam R$ 700, a importadas de R$ 30 mil.
Quando não são revendidas, elas são usadas pelos criminosos em novos crimes, como roubos e furtos de celulares. Entre janeiro a outubro, a Polícia Civil apreendeu, a cada 24 horas, quase duas bicicletas usadas em ações criminosas.
De acordo com levantamento feito pelo G1 a partir das informações de boletins de ocorrências na capital paulista, 1.327 bicicletas foram roubadas ou furtadas na cidade entre 1º de janeiro a 31 de outubro. Estatisticamente, em média 4,3 bicicletas caíram todos os dias nas mãos de assaltantes e ladrões.
No mesmo período deste ano, 574 bicicletas foram apreendidas por policiais. Uma média de 1,8 bicicleta por dia nos primeiros dez meses.
Uma das oito delegacias seccionais da capital, a da Zona Oeste, teve aumento no número de bicicletas roubadas em comparação com o mesmo período do ano passado (veja comparativo no gráfico abaixo). Outras duas, Centro e Santo Amaro, registraram crescimento de apreensões. As oito seccionais juntas concentram 93 distritos policiais. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a cidade de São Paulo possui 180 quilômetros de ciclovias, o que incentiva o uso das bicicletas e chama a atenção dos bandidos, afirmam os policiais.
Bicicletas subtraídas
A 3ª Delegacia Seccional Oeste registrou 351 bicicletas subtraídas de janeiro a outubro deste ano – no mesmo período de 2013 foram 328. Segundo policiais da Zona Oeste, os ladrões agem principalmente nos finais de semana à tarde. A região do Parque Villa-Lobos é a USP são alvos preferidos.
Agindo em grupo, os criminosos se aproximam e ameaçam as vítimas dizendo que estão armados. Intimidadas, elas entregam a bikes. Outra artimanha dos ladrões é usar alicates para arrebentar correntes e cadeados de bicicletas estacionadas.
Vítima de um grupo de adolescentes, o ciclista Giovanne Bello Junta Teixeira, de 19 anos, foi roubado quando estava sozinho na ciclovia da Avenida Eliseu de Almeida, nas imediações do Shopping Butantã. "Quando fui ultrapassar um moleque de bicicleta, ele bateu no meu ombro e começou a discutir comigo, dizendo que eu não podia passar daquele jeito por ele. Aí mais quatro moleques com bicicletas me cercaram. Diziam que estavam com facas e ameaçaram me cortar", relatou o ciclista. "Roubaram meu celular e minha bike".
Teixera é estudante de Ciências do Mar em uma faculdade em Santos. Havia ido pedalar num domingo (dia 9) na Zona Oeste da capital paulista, onde a família dele mora. A mountain bike que tinha, avaliada em R$ 1.200, não foi localizada. O universitário disse ter registrado boletim eletrônico de roubo pela internet.
Procurados pela reportagem, policiais da seccional Oeste e do 14º DP (Pinheiros), responsáveis por investigar roubos cometidos no Parque Villa-Lobos, não quiseram se pronunciar. A SSP informou que o delegado Paulo Arbuez, titular do 93º DP, que investiga crimes cometidos na USP, "não deseja conceder entrevista" sobre o caso.
Policiamento
Procurada pelo G1, a Polícia Militar afirmou que "procura analisar os indicadores criminais no intuito de identificar áreas de interesse de segurança pública e direcionar os recursos humanos, materiais e tecnológicos de maneira eficaz". A corporação também disse que "trabalha com informações oriundas da população" para realizar ações.
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana, pasta responsável pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), informou que "realiza um trabalho intenso de prevenção de furtos e roubos de bicicletas nos parques municipais, em especial no Parque do Ibirapuera. Fora desses equipamentos, a GCM atua em casos de flagrante."
Segundo a GCM, em outubro, 700 agentes passaram a trabalhar na cidade. Outros 300 novos guardas devem se formar neste mês de novembro. "Esse aumento [de efetivo] tem por objetivo reforçar ainda mais o trabalho de prevenção e segurança urbana da GCM, inclusive para os ciclistas da capital paulista", informou a secretaria.
Cadastro de bicicletas roubadas
O publicitário Pedro Cury, de 34 anos, criou em 2001 o site Cadastro Nacional de Bicicletas Roubadas. Lá, as vítimas podem informar o modelo da bike levada, postar fotos, deixar contatos e indicar local do roubo ou furto.
No mapa de roubos publicado pelo site estão registradas 77 bicicletas levadas entre janeiro e outubro deste ano na cidade de São Paulo. Dessas, 62 indicavam os locais onde ocorreram os crimes.
"A ideia do site é forçar as polícias do país a criarem dados específicos para roubo e furto de bicicleta", disse Cury. Segundo ele, das bikes cadastradas no site, três foram localizadas e devolvidas. "Um dos casos ocorreu em São Paulo. Uma delegacia da região central entrou no site e conseguiu identificar uma bicicleta roubada, que depois foi recuperada".
Apreensões
A 1ª Delegacia Seccional Centro e a 6ª Seccional Santo Amaro registraram aumento no número de bicicletas apreendidas comparando os dez primeiros meses de 2014 com o mesmo período de 2013.
Na seccional Centro, foram 252 bicicletas apreendidas neste ano contra 208 no ano passado. Na Santo Amaro, Zona Sul da cidade, houve 55 apreensões de janeiro a setembro deste ano ante 39 no mesmo período de 2013.
Segundo policiais, as bicicletas roubadas e furtadas nas outras regiões da cidade vão parar principalmente na área central, onde acabam usadas pelos criminosos para roubar celulares e bolsas de pedestres.
No 3º DP (Santa Ifigênia), por exemplo, os policiais realizam operações constantes para coibir crimes cometidos usando bicicletas nas fugas. O resultado disso são 40 bicicletas apreendidas que ocupam espaço na delegacia à espera dos donos. Algumas estão nos corredores, e outras em celas desativadas.
"Nossos policiais não ficam só no distrito, eles também saem para as ruas. Agem em locais onde já houve registros de roubos e furtos com uso de bicicletas", disse Castello, que mostra o resultado da operação. "São bicicletas apreendidas com os bandidos e menores".
Num dos casos registrados recentemente, um investigador de 60 anos de idade, que estava no plantão do 3º DP, saiu da delegacia e perseguiu e deteve um adolescente que fugia numa bicicleta depois de roubar o celular de um biólogo. O menor foi apreendido e levado à Fundação Casa para cumprir medida socioeducativa. Já a bike foi levada para o distrito, onde irá se juntar às outras que aguardam por seus donos.
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