“Poucos sabem, mas apesar de famosa pela qualidade de vida, a cidade de Florianópolis tem um trânsito bem violento!”, revela o médico e diretor da Vigilância em Saúde da Prefeitura da capital catarinense, Leandro Pereira Garcia.
Para dar uma ideia do que isso significa, o profissional lembra que Santa Catarina tem três vezes mais óbitos no trânsito do que por homicídios, destacando-se assim negativamente nas estatísticas brasileiras.
Garcia faz parte da Rede Vida no Trânsito, um grupo intersetorial de colaboradores que, como diz o texto de apresentação, pretende “fazer de Florianópolis, até 2020, capital referência em educação, respeito, gentileza e paz no trânsito, reduzindo o número de mortes e feridos graves”. Na seção Estudos do Mobilize veja, na íntegra, o texto de apresentação da Rede Vida no Trânsito.
A Rede Vida no Trânsito começou a ser estruturada no ano passado, baseada num projeto de segurança viária desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), direcionado a dez países, e desde 2011 implantado no Brasil pelo Ministério da Saúde. Inicialmente foi levado a cinco capitais, uma para cada região do país, e mais recentemente o projeto se expandiu para Santa Catarina, obviamente pelos motivos mencionados no início desta matéria.
Mas, o que torna Floripa uma campeã em acidentes?
Segundo Garcia, há sérios fatores que contribuem para o problema. Primeiramente, as vias rápidas da capital, a maioria estradas estaduais que ligam bairros residenciais, distantes do centro, e que são muito utilizadas pela população. “Nessas estradas urbanas, não há radar eletrônico e falta qualquer tipo de fiscalização. O resultado é o altíssimo número de desastres e atropelamentos, que respondem por nada menos que 50% dos óbitos em Florianópolis!”, ressalta.
O segundo fator, conta o especialista, é o ‘beber e dirigir’. Florianópolis, diz ele, foi apontada por dois anos seguidos como a capital brasileira com o maior percentual de pessoas que bebem antes de dirigir, pelo estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Também aqui, o controle é pouco e a impressão que fica é de que não é prioridade, critica Garcia.
Por último, o problema das motos, que nos últimos anos vivem uma explosão de vendas em toda a região. Em decorrência, o veículo tornou-se fator de risco relevante. “Basta dizer que os motociclistas representam quase a metade dos óbitos de trânsito registrados na cidade”, alerta o especialista.
Na origem destas distorções e violências, desabafa Garcia, estão as políticas focadas na mobilidade para o carro, e não, como devia-se esperar, preocupadas na sensibilização da população, dos políticos, da sociedade como um todo, na defesa da segurança viária.
Para fazer valer uma mudança comportamental desse porte, desde janeiro a Rede Vida no Trânsito vem se organizando, promovendo reuniões (mensais, divulgadas por facebook e no site da rede) que apontem para ações conjuntas com o poder público, organizações públicas e privadas, envolvendo diferentes áreas: saúde, segurança, mobilidade urbana, educação etc.
Outra proposta é agregar sempre novos parceiros. É o caso do Mobilize Brasil, convidado a participar do grupo, e que acaba de firmar o termo de adesão à Rede. A parceria pressupões também a concordância com a Carta de Princípios do movimento. Com base na experiência das campanhas Sinalize e de Calçadas, por exemplo, "o Mobilize poderá contribuir com informações que ajudem a trazer mais segurança a pedestres e ciclistas da capital", diz Garcia.
Inicialmente, o trabalho da Rede voltou-se à coleta e constituição de um banco de dados sobre segurança viária. Agora vem a etapa de formação dos Grupos de Trabalho (GTs), que planejarão ações conjuntas com órgãos de segurança, prefeitura, e outros agentes sociais. Uma primeira atividade foi o Debate de Ideias, com os candidatos ao governo do Estado.
“A expectativa é de até 2020 possamos ter em Florianópolis o inverso do que temos hoje. Quer dizer, fazer que a cidade se torne referência em trânsito civilizado. E estamos convictos: é possível fazer”, defende Leandro Garcia.
Evento de lançamento da Rede Vida no Trânsito, em Florianópolis. Foto: Divulgação
GT de Pedestres e Ciclistas
Nesta quinta-feira (16), ocorreu a primeira reunião do GT Pedestres e Ciclistas da Rede Vida no Trânsito. Participaram ViaCiclo, Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), Secretaria Municipal de Saúde e PLAMUS (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável) do governo de SC.
Como resultado da reunião, foram planejadas: a construção de uma nova ciclofaixa de domingo (para apoio, foi agendada também uma reunião com o Ministério Público); e uma intervenção de traffic calming numa rótula junto à Universidade Federal. Esta intervenção, no dia 24 de novembro, terá a participação do arquiteto urbanista norte-americano Michael King (http://nelsonnygaard.com/staff/michael-king/). Por último, foi planejada a criação de zonas de velocidade máxima 30 km/h, que serão chamadas Projeto Zona 30, com previsão de lançamento ainda este ano.
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