Há mais de 20 anos que João Nunes, 63, utiliza a bicicleta como seu principal meio de transporte. Como pedreiro, ele usa o veículo de duas rodas, para chegar à sua clientela, em toda a cidade. Saindo do Bairro Nordeste, onde mora, percorre distâncias de mais de 40 km, indo a bairros em outras zonas da cidade, e até municípios vizinhos, da Grande Natal. A saída ao trabalho, para João, é sempre um risco. Na rua, em disputa com os carros, já sofreu acidentes. “Com o tempo fui vendo quais os bairros com menor movimento, e vou andando por eles”.
A mobilidade com este veículo poderia ser mais segura com ciclovias e ciclofaixas. No entanto, desde que foi instituído o Plano Cicloviário de Natal, há mais de três anos, nenhum projeto foi implementado na cidade de forma a atender a proposta. O documento, com base no Plano de Mobilidade Urbana de Natal, elaborado pela fundação Copptec, foi lançado em maio de 2011.
A proposta seria de integralizar as quatro zonas da cidade com espaços adequados para a prática do ciclismo. O investimento previsto seria de R$ 10,6 milhões para viabilizar 48 quilômetros em ruas e avenidas de Natal. Há também a lei municipal 349/2011 que obriga a Prefeitura do Natal a implementar o sistema.
Francisco Xavier, arquiteto do Departamento de Engenharia de trânsito da STTU, participou da elaboração do Plano Cicloviário. Questionado se algum projeto saiu da esfera do planejamento, a resposta é sucinta: “Projetos são muitos, mas resultados, nenhum”. Nada saiu do papel. Na verdade, papel é o que mais existe. Fátima Arruda, também arquiteta da STTU, acumula projetos, com datas antigas, que visavam a implementação do sistema cicloviário.
Existe um termo de referência para o sistema cicloviário, de 1994. E foram elaborados projetos, até antes, em 1993, para as avenidas João Medeiros Filho, na Zona Norte, Ayrton Senna e Roberto Freire, na Zona Sul. “A consciência da necessidade de promover, em nível técnico, é coisa antiga”, coloca Fátima Arruda. Quanto às dificuldades de colocar em prática os planos, ela diz que é uma questão de falta de planejamento e estabelecimento de metas.
“A gente trabalha aqui (STTU) atendendo. Aqui é um orgão de atendimento à população pontual. Atender parada de ônibus, alargamento de rua, estacionamento, proibição, garagem. O dia a dia da rotina das pessoas. Planejamento, uma ciclovia, não é uma coisa solta que caia do céu”, relata a arquiteta. “Então, o que falta é empreendedorismo. Fazer. Porque tem gente capacitada, tem recursos. Falta controle da máquina, de pessoas. Falta a máquina funcionar”, sustenta.
Para Clebson Melo, vice- presidente da Associação de Ciclistas do Rio Grande do Norte, além de obras é prioritário a educação da população para o uso das bicicletas. “Assim como fazem para os pedestres, nas faixas de trânsito, precisam educar a população e os motoristas em respeito aos ciclistas. Se não tiver educação não adianta”, diz, acrescentando que em infraestrutura, além das ciclovias e ciclofaixas, falta elementos como locais para estacionamento das bicicletas.
Quanto a marcação de uma ciclofaixa, na Ponte de Igapó, ele vê como uma manifestação “cansada de esperar”. Diz ele, lembrando que a área é uma das mais utilizadas por ciclistas na rotina diária. O vice-presidente da Acirn informa que no dia 7 de outubro, às 9h, haverá uma reunião com o Ministério Público e a STTU sobre a lei N° 12.587/ 2012 que obriga a elaboração de um plano municipal de mobilidade, onde também deverão discutir a participação do ciclismo neste plano.
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