Caros amigos e amigas,
Nesta semana o Mobilize Brasil completa três anos no ar. Quando me lembro da nossa história, vejo que foi uma grande loucura, que felizmente deu certo!
Na virada do ano de 2010 para 2011 parei para refletir e me questionar sobre o que desejava fazer com a minha vida. Dois anos antes eu havia sido diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença que rapidamente me tirava os movimentos e a capacidade de falar e não me dava boas perspectivas de futuro.
Resolvi que não iria mais me dedicar exclusivamente aos diferentes tratamentos, como havia feito nos dois primeiros anos, e passei a pesquisar e ler bastante sobre mobilidade urbana sustentável, tema que começou a me interessar muito desde 2004, quando morei em Barcelona.
Com a crescente dificuldade motora nas mãos, eu fazia um esforço enorme para buscar conteúdo espalhado pela internet. Ao me deparar com muitas informações dispersas, no dia 15 de janeiro me veio a ideia de criar um portal para agregar, produzir e disseminar conteúdo de qualidade e relevância relacionado à temática.
Idealizei o Mobilize, fiz uma planilha e uma apresentação com tudo o que imaginara. Mostrei para minha família, convidei alguns amigos para apresentar a ideia e já cotei o valor para fazer uma ferramenta. Chamamos três empresas, e quem melhor entendeu o que eu queria - e foi mais visionário do que eu próprio - foi o pessoal da empresa de tecnologia XY2, que era dirigida por Flávio Aguiar e André Campelo.
Quando eles saíram de nossa reunião, eu pensei: não sei quanto vai custar, mas será com eles! Resumindo, usei todo o pouco dinheiro que havia juntado na vida para bancar a ferramenta. Entre os amigos que mais se envolveram estavam Renato Miralla e Guilherme Bueno, cuja esposa Cláudia Carmello, jornalista, disse que precisaríamos ter uma linha que nos caracterizasse, enfim, um projeto editorial. Disse também que conhecia a pessoa certa para essa empreitada, e nos apresentou o Thiago Guimarães, jornalista, economista, especialista em mobilidade, que mora em Hamburgo, na Alemanha.
Como o sonho era grande e os recursos poucos, fomos dando um jeito para contornar cada obstáculo que surgia. Guilherme conseguiu patrocínio com empresas de amigos e familiares para contratar o Thiago. Eu resolvi usar o dinheiro do meu auxílio-doença para contratar a primeira estagiária. A segunda estagiária foi bancada por minha ex-chefe.
Apesar das dificuldades, o Mobilize Brasil estava se tornando realidade, com a ferramenta saindo do forno, sendo alimentada com um conteúdo inicial para ir ao ar e uma equipe formada por Thiago, Beatrice, Caroline, eu e Cristina, minha mãe, que, desde que eu lhe contei a ideia, sempre foi uma batalhadora incansável para fazer o Mobilize acontecer.
Nessa época a doença piorava a cada dia, me tirando os poucos movimentos que me restavam e a minha fala. A saída foi partir para a Alemanha, para fazer um transplante de células tronco. Meus amigos, por iniciativa própria, fizeram uma emocionante campanha para viabilizar a viagem. O transplante certamente diminuiu a velocidade de evolução da ELA. A essa altura, de volta ao Brasil, eu já praticamente estava perdendo todos os movimentos das mãos e só pude prosseguir trabalhando porque chegou da Suécia um leitor óptico, que me permitiu escrever e trabalhar com os olhos.
Um pouco antes do lançamento, em junho de 2011, contratamos a Mandarim Comunicação, do jornalista Marcos de Sousa, para desenvolver um conteúdo próprio inicial. A equipe da Mandarim sugeriu que fizéssemos um diagnóstico inédito sobre a mobilidade urbana nas principais capitais brasileiras. Surge assim o “Estudo Mobilize 2011”.
Assim, o portal foi ao ar em setembro, o Estudo Mobilize 2011 divulgado em outubro e, no dia 4 de novembro, realizamos o I Fórum Mobilize na FGV. Em menos de dois meses no ar, o Mobilize estava no Jornal Nacional, na Folha de S.Paulo, rádio CBN, Band News e outras inúmeras mídias. Como diz a Cris, “o Mobilize não nasceu, o Mobilize explodiu”.
Para sobreviver a estes primeiros meses, novamente Renato e Guilherme recorreram aos nossos amigos, em uma campanha de arrecadação. Em dezembro, quando nossas formas de captação estavam se esgotando, o Banco Itaú entrou como patrocinador. Ufa!
Nesses três anos, além do Estudo Mobilize, realizamos a campanha Calçadas do Brasil, implementamos a seção Acompanhe a Mobilidade, desenvolvemos a campanha Sinalize, realizamos três fóruns na FGV, contamos com seis blogs próprios e publicamos 10 mil conteúdos em forma de notícias, estudos, galerias de fotos, vídeos, mapas etc., entre diversas outras ações. Isso tudo só foi possível porque muita gente acreditou neste sonho e se empenhou para torná-lo realidade.
Somos uma ONG, sem fins lucrativos, lutamos por uma causa e me dedico a ela sem qualquer recompensa financeira. Assim como eu, muitas pessoas têm contribuído voluntariamente.
Agradeço a todos que fazem parte da nossa equipe (Marcos, Regina, Cristina, Carol, Du Dias e Marcelo Saez) ou que fizeram parte (Thiago Guimarães, Beatrice Morbin e Hebert Franco), aos conselheiros (Renato, Guilherme e Nelson), aos blogueiros (ANTP, Mara Gabrilli, Du Dias, Leticia Sabino, Mila Guedes e Meli Malatesta), aos patrocinadores Itaú e Allianz, à Cristiane Amaral e a EY, e aos muitos colaboradores espalhados pelo Brasil e até pelo exterior. A todos, o meu respeito e meu profundo agradecimento! Sem a colaboração de todos vocês o Mobilize não teria as dimensões que tem e não seria referência nacional em mobilidade urbana sustentável!
Lembro que quem quiser contribuir com o Mobilize Brasil, tornando-se um Parceiro Contribuinte, pode fazê-lo através do link www.mobilize.org.br/participe/ParceiroContribuinte. Isso é muito importante para que este sonho continue sendo realidade.
Olhando pra trás, vejo que esse processo todo foi realmente uma loucura que deu certo. Como diz o amigo Guilherme Bueno, sobre a criação do Mobilize: “Sem saber que era impossível, ele foi lá e fez”.
Grande abraço a todos.
Ricky Ribeiro
Idealizador e diretor do Mobilize Brasil