Campanha sobre respeito à faixa de segurança foi esquecida em Porto Alegre

Com queda nas multas, fim do site e das ações de conscientização, EPTC diz que faz ações pontuais, mas pedestres abandonaram o sinal para fazer carros pararem

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Fonte: Zero Hora  |  Autor: Laura Schenkel  |  Postado em: 12 de setembro de 2014

"Mãozinha" foi pintada perto de algumas faixas de segurança

créditos: Ricardo Duarte / Agencia RBS

 

Você se lembra do "sinal da mãozinha"? Em 2009, a prefeitura de Porto Alegre lançou a Campanha do Novo Sinal, para pôr fim ao desrespeito generalizado à faixa de segurança. Bastaria estender a mão para atravessar em faixas de segurança onde não há semáforo.

 

Cinco anos depois, a EPTC deixou de lado as campanhas publicitárias e os adesivos distribuídos para os carros. O hotsite que ajudava na conscientização saiu do ar. O número de multas caiu, mas a vida dos pedestres — que abandonaram o sinal — segue difícil.

 

Em apenas duas horas, na última sexta-feira, a reportagem foi testemunha de dezenas de infrações na região central de Porto Alegre. Nem quase em frente a um prédio da EPTC, na Rua Alcides de Oliveira Gomes, perto da esquina com a Avenida Erico Verissimo, os motoristas respeitam a faixa: diminuir a velocidade ou aguardar o pedestre concluir a travessia é ato raro.

 

Quem anda a pé, muitas vezes, também ignora a faixa. Na esquina da Rua Ramiro Barcelos com a Ipiranga, quase a metade dos pedestres atravessava perto da esquina, desrespeitando o Código de Trânsito Brasileiro (é obrigatório atravessar a rua na faixa se ela estiver a menos de 50 metros, como era o caso no local).

 

Mesmo assim, seguir a lei é difícil, como comprova, na foto abaixo, a arquiteta Luciana Hettwer, 30 anos. Para atravessar a Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Barbedo, desviou de um carro parado sobre a faixa e depois sinalizou para completar a travessia. O motorista que ingressava na Barbedo não lhe deu vez.


 Foto: Ricardo Duarte, Agência RBS  

 

Quem caminha pela cidade deixou a mãozinha de lado pela falta de reforço do poder público. O espanhol Gonzalo Duran, 50 anos, oito deles vivendo no Brasil, membro de um grupo no Facebook chamado Ativismo Pedestre, é defensor da ideia:

 

— As pessoas não interiorizaram o uso da mãozinha. A campanha é um fracasso. Eu uso a mão, e funciona. Como o pedestre fica escanteado, ele faz travessias erradas. Não usa a mão ou o braço porque é cada um por si — analisa, defendendo uma postura mais ativa dos pedestres.

 


Veículos passam sobre a faixa sem aguardar que o pedestre conclua a travessia, em frente à EPTC
Foto: Ricardo Duarte, Agência RBS 

 

Em entrevista a Zero Hora em 2011, quando a Campanha do Novo Sinal completou dois anos, Vanderlei Cappellari, diretor-presidente do órgão, afirmou que o órgão havia intensificado, desde 2010, as multas a quem desrespeita o sinal. À época, afirmou que a meta era chegar ao fim daquele ano "com o reconhecimento de que o pedestre é respeitado na cidade". Três anos depois, reconhece:

 

— Não atingimos esse objetivo. Temos um bom percentual de motoristas que dão a preferência ao pedestre, mas tem motoristas ainda que não o fazem. É um processo continuado.

 

Motoristas deixam de dar preferência a pedestre idosa, em faixa de segurança da Avenida Getúlio Vargas
Foto: Ricardo Duarte, Agência RBS  

 

O hotsite da campanha saiu do ar, segundo a assessoria de imprensa da EPTC, porque fazia parte da primeira fase do projeto. Cappellari nega que a campanha tenha acabado.

 

— Continuamos fazendo. Estamos em outra etapa, atuando pelo processo de educação de trânsito (em ações pontuais) e fiscalização. Motoristas que desrepeitam os pedestres nas faixas de segurança estão sendo multados diariamente. Os números são bem expressivos.


Veja algumas das infrações de trânsito que ZH registrou e a opinião de pedestres sobre a dificuldade em atravessar as ruas:


Ao contrário: entre 2011 a 2013, houve uma redução progressiva no número de autuações, de acordo com os dados da EPTC. Em 2011, em toda a Capital, foram 2.614 autuações por desrespeito ao pedestre e veículos não-motorizados — 7,16 por dia. Em 2013, foram para 807 — 2,21 motoristas por dia.

 

Os dados do primeiro semestre de 2014, no entanto, sinalizam uma mudança. Ao todo, as autuações somaram 662 até junho, uma média de 3,63 motoristas multados por dia. Se elas seguirem no mesmo ritmo, pode haver o primeiro aumento nas autuações nos últimos cinco anos.

 

Para atravessar usando a mãozinha, porém, o pedestre terá de lembrar do gesto espontaneamente: a campanha como vista em 2009, com adesivos, entrevistas e ações de comunicação, não tem previsão de volta.

 

O que os motoristas não podem fazer, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro

– Não esperar o fim da travessia do pedestre: Infração gravíssima, com multa de R$ 191,53 e perda de sete pontos na carteira de habilitação

– Não dar vez ao pedestre na faixa: Infração gravíssima, com multa de R$ 191,53 e perda de sete pontos na carteira de habilitação

– Não respeitar os pedestres nas conversões: Infração grave, com multa de 127,69 e perda de cinco pontos na carteira de habilitação

– Já o pedestre, para cruzar a pista de rolamento, deve tomar precauções de segurança, levando em conta, principalmente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos, utilizando sempre as faixas — quando existir uma faixa de segurança em uma distância de até cinqüenta metros dele.

 

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