O piso tátil das calçadas da avenida Paulista, adotado para orientar a caminhada de pessoas cegas ou com baixa visão apresenta problemas que podem confundir o pedestre, apurou a reportagem do jornal Folha de S. Paulo. O equipamento foi instalado em 2008, durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD).
"Ando bem porque já estou acostumado, mas o cego que vier pela primeira vez não vai achar o metrô, diz José Rosaldo", que é cego. Ele desce na estação Brigadeiro e caminha, seguindo o piso, até a praça Oswaldo Cruz, onde trabalha como massoterapeuta.
O piso tem linhas retas em relevo para indicar ao cego trechos sem obstáculos (piso direcional). Quando há desvios para acessos ou barreiras, o relevo é de bolinhas, o chamado piso de alerta. Na sexta-feira (16), a Folha percorreu a avenida e não encontrou piso de alerta na entradas das três estações de metrô da via --uma das únicas da cidade com o equipamento em quase toda a sua extensão.
Os pontos de ônibus da área também não possuem essa sinalização de alerta. Já no quarteirão do Conjunto Nacional, o piso desaparece. "Se a pessoa não tem muita experiência, como eu, fica desorientada", diz a estudante de pedagogia Camila Domingues, 23, em seu primeiro passeio na Paulista.
Moradora de Cotia, Camila perdeu a visão há dois anos e faz aulas de mobilidade em uma associação de São Paulo. "Achei o piso irregular. Em algumas partes, ele segue bem, mas desvia demais, tem muito buraco e a bengala acaba presa", afirma.
Em outros três pontos da avenida Paulista, o piso para cegos acaba em paredes, sem o relevo de alerta. "Assim, a pessoa pode se assustar com a parede. Se ele [deficiente visual] não usar a bengala adequadamente, pode sofrer um acidente", afirma João Moraes Felippe, professor de orientação da Lamara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual).
Outro lado: Prefeitura diz que avenida será vistoriada
A prefeitura afirmou à equipe da FSP que fará uma vistoria na avenida Paulista para providenciar os reparos necessários. Segundo a administração, não há orientação clara na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a instalação do piso tátil no país.
"Justamente por isso, os projetos têm se aperfeiçoado desde então", diz a nota.
Sobre os desvios, a prefeitura diz que isso se deve aos obstáculos nas calçadas, como árvores e tampas.
A prefeitura diz ainda que o piso não foi colocado em frente ao Conjunto Nacional para não danificar a estrutura do prédio, que é tombado pelo patrimônio.
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