Não é necessário andar muito pelo Centro de Porto Alegre para deparar com calçadas mal conservadas. Uma simples caminhada revela o risco oculto de acidentes que podem ser fatais. A morte de um idoso por atropelamento após tropeço em uma tampa de bueiro, nessa segunda-feira, na avenida Plínio Brasil Milano, trouxe à tona um problema rotineiro ao pedestre da Capital.
Buracos, pedras quebradas, concreto cedido e bueiros em desnível fazem parte do cenário do Centro Histórico. "As calçadas da Rua dos Andradas estão horríveis", criticou Bolívar, 91 anos. Ele vive no Centro com a esposa, Déa. "Tenho que me cuidar, pois já caí várias vezes", afirma a senhora de 81 anos. O problema não afeta apenas idosos. A jovem mãe Janaína Martins opta por caminhos com calçadas melhores ao carregar a recém-nascida Lauren. "As calçadas estão péssimas em alguns trechos. Imagina se eu tivesse de salto carregando a bebê."
Aqueles que usam muletas para andar sofrem. "O poder público só pensa na Copa, e não no povo", reclamou Marcelo Vaz, que fraturou o fêmur e usa muletas. Se a situação é complicada para quem enxerga onde pisa, o portador de deficiência visual Wilson Borba desafia a população a imaginar sua realidade.
Família vai responsabilizar poder público
Familiares e amigos reuniram-se ontem no cemitério Santa Casa, em Porto Alegre, para a despedida de Vilis Antônio Borghetti, 86 anos, morto por atropelamento terça-feira, depois de tropeçar. Caminhava por uma calçada que está em situação irregular. A família diz que pretende responsabilizar a prefeitura. "É inadmissível o jeito que a cidade se encontra e as respostas dadas pelo poder público. Qualquer um poderia ter caído ali", disse Fernanda Borghetti Cantali, neta de Vilis. A filha, Lou Borghetti, entristece-se pelo que chama de "banalização da vida". "Meu pai acaba de entrar em duas estatísticas: a de acidentes em calçadas esburacadas e a de trânsito", lamentou a filha.
Nem tudo cabe à prefeitura
A prefeitura não é responsável por 100% das calçadas do município. Os bueiros e as calçadas de imóveis ou terrenos municipais - escolas, praças e postos de saúde - cabem ao poder público, assim como os "sem dono", como a Rua dos Andradas e o Largo Glênio Peres. Conservação, recuperação e construção dos demais metros de calçadas é obrigação dos proprietários particulares. A prefeitura só fiscaliza se a situação está conforme os padrões. O coordenador do setor de calçadas da Secretaria Municipal de Obras e Viação, Délcio Hugentobler, explicou que a prefeitura cumpre a sua parte. "O município vinha fazendo 4 mil metros de calçada por ano, o que para a Capital não é muito. Mas, em um ano, a realidade será diferente."
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