Passarelas ocupadas, espaço públicos permanentemente ocupados, calçadas obstruídas, engarrafamentos contínuos e pedestres se arriscando nas vias de tráfego de veículos. Retrato de boa parte dos bairros populares de Salvador, os problemas causados pelo desordenamento do comércio informal estão com os dias contados. Pelo menos é o pretende a prefeitura, que estuda alternativas para se chegar a tão famigerada ordem na casa.
Rótula da Feirinha, em Cajazeiras, o Largo do Pé Sujo, em São Cristóvão, o Largo da Calçada, na Cidade Baixa e o Largo da Geral, em São Caetano, são exemplos de regiões onde o comércio informal atrapalha não só a vida de quem mora no bairro, mas também de quem passa de carro pelo local. “As pessoas simplesmente se apropriaram do espaço público da cidade. Sem a presença do estado na gestão anterior, cada um resolveu fazer sua própria lei”, afirmou a secretária Municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf.
Em busca de soluções para os problemas causados pelo desordenamento na cidade, a construção de mercados populares que abriguem os trabalhadores informais é uma das saídas encontradas pela prefeitura para tentar amenizar a situação. Em São Cristóvão, na Avenida Aliomar Baleeiro, arquitetos da Fundação Maário Leal Ferreira já estudam a construção de um mercadão em um espaço identificado recentemente pelo município.
Calçadas para pedestres
Vendedor de frutas que atua na região há quatro anos, Reginaldo Silva dos Santos diz que, apesar de já ter o lugar garantido no novo mercado, está apreensivo com a possível redução das vendas no novo espaço. “Aqui na rua, como as mercadorias ficam mais expostas, a gente vende mais. O pessoal para o carro rapidinho, compra e vai embora”, explica o comerciante, insinuando que as vendas podem cair, com a perda do acesso aos motoristas que passam pela região.
Se para ele a “paradinha” para a compra traz benefícios para o comércio, quem passa pela região, o efeito é contrário. Com o comércio forte, o bairro sofre com constantes engarrafamentos, causados pelas ocupações das calçadas, o que obriga pedestres a andarem pelo meio da rua, dos canteiros, onde carros utilitários são usados para exposição de peças de cama, mesa e banho e, finalmente, pela ação de motoristas que param para adquirir os itens vendidos na região.
O receio de Reginaldo é geral entre os feirantes. “A gente sabe que como está não dá para continuar, porque ocupa muito o espaço das calçadas, que inclusive precisam ser recuperadas. Mas dizer que o mercado melhorará as vendas, aí já é outra história”, comenta um vendedor da barraca de verduras de Dalva dos Santos, que preferiu não se identificar.
Mas se os feirantes estão preocupados com as vendas, os clientes estão de olho é na organização que o mercado promete trazer para o bairro. “São Cristóvão é um bairro muito movimentado. É complicado transitar com tanta barraca. Às vezes fica lixo acumulado esperando recolhimento. Acredito que o mercado vai trazer mais tranquilidade, até para escolher onde comprar, vai ser melhor, além de valorizar o bairro”, opinou a secretária do lar Vânia Bispo de Souza.
De acordo com a gestora da Semop, além do ordenamento, a questão social também está sendo analisada. “Por este motivo, buscamos alternativas de relocação destes trabalhadores. Na Avenida Sete, a existência de transversais permitiram a distribuição nas ruas, mas no caso de São Cristóvão isso não foi possível devido a estrutura do bairro”, afirmou Rosemma, explicando o motivo da escolha pela construção do mercadão no bairro.
Remanejamento de feirantes
Em São Caetano e na Calçada, a Semop ainda está em fase de diálogo com os feirantes para encontrar soluções para o desordenamento que já dura anos. “Esta semana vou me encontrar com os comerciantes de São Caetano. Vamos fazer de tudo para evitar tensão entre a população e a prefeitura, porque o objetivo não é tirar o meio de sustento das pessoas”, continuou. Na Liberdade, o galpão da antiga Cesta do Povo foi o local escolhido para abrigar o comércio informal do bairro futuramente.
Mais adiantados do que o do bairro de São Cristóvão, a implantação do mercado popular de Itapuã terá um novo edital lançado, devido à baixa procura de empresas interessadas em tocar a obra, orçada em R$ 3,7 milhões. “Fizemos alguns ajustes no edital que vai ser lançado ainda esta semana. A licitação deve acontecer no final de maio e a obra entregue cerca de 300 dias após a assinatura da ordem de serviço”, garantiu Rosemma.
Em Cajazeiras, o tumulto causado diariamente pelos ambulantes que ficam na região da rótula da feirinha também está com os dias contados. O edital de licitação do mercadão do bairro, um dos maiores da cidade, está em andamento, com obra orçada em R$ 7,8 milhões e já foi lançado.
Leia também:
População baiana sofre em pontos de ônibus caindo aos pedaços a 2 meses da Copa
Moradores de Salvador querem mais vias exclusivas para andar de bicicleta
Viagem teste do Metrô de Salvador chama a atenção