BRT ou VLT?

ITA compara diferentes modais de transporte para São José dos Campos. Saiba qual foi o escolhido e conheça o método de comparação, aplicável a outras cidades

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Fonte: Revista Infraestrutura Urbana  |  Autor: Débora Prado  |  Postado em: 14 de abril de 2014

O ITA pesquisou qual o melhor veículo para São Jos

O ITA pesquisou qual o melhor veículo para São José

créditos: Divulgação

 

A Prefeitura Municipal de São José dos Campos, no interior de São Paulo, se prepara para inaugurar um sistema de Transporte Rápido de Massas (TRM) para mudar o paradigma de mobilidade da cidade nos próximos anos. Escolhido com base em um estudo de alternativas elaborado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o TRM deve ser inaugurado com a implementação de um sistema de ônibus de trânsito rápido - o chamado Bus Rapid Transit (BRT) ou Veículo Leve sobre Pneus (VLP).

 

Ante o caos urbano provocado pelos congestionamentos nas vias da cidade, o TRM busca evitar que São José dos Campos enfrente problemas equivalentes aos de cidades grandes, como São Paulo, passando a priorizar os transportes coletivos em relação aos individuais.

 

Para escolher a melhor opção nesse sentido, o ITA foi contratado pelo Município em 2008, mas o resultado da análise permaneceu sob caráter confidencial até novembro do ano passado, quando, embasada nas recomendações do Instituto, a prefeitura anunciou que recursos captados junto ao Governo Federal pelo projeto de mobilidade urbana do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), previstos inicialmente para implantação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), serão, na verdade, aplicados no BRT.

 

A recomendação do sistema sobre pneus, em detrimento dos trilhos, foi motivada principalmente pelo menor custo de implantação e manutenção e, por consequência, por ser possível atender uma área maior da cidade com a verba disponível, conforme informa o Secretário de Planejamento Urbano de São José dos Campos e professor do ITA, Emmanuel Antonio dos Santos.

 

"Verificamos que a implantação do BRT é mais viável do ponto de vista econômico, porque com ela conseguiremos uma amplitude maior de atendimento pelo mesmo valor. Ou seja, com os recursos do PAC 2, que dariam para implantar apenas um trecho do VLT, poderemos atender uma abrangência maior da cidade com o BRT - que é um sistema sobre pneus que combina ônibus especiais, canaletas e corredores excluexclusivos, tecnologias de preferência semafórica e embarque preferencial", explica o gestor, que também atuou na elaboração do estudo pelo ITA na época em que ele foi realizado.

 

Assim, os R$ 800 milhões captados via PAC 2 devem ser investidos no BRT, cujas obras de implantação estão previstas para começar em 2015, após a prefeitura promover licitações para contratação do projeto executivo, com base nas alternativas indicadas pelo ITA.

 

A opção inaugural, porém, não exclui a possibilidade da incorporação e integração de outras formas de transporte de massas no TRM da cidade num segundo momento. "No futuro, na medida em que o sistema do BRT se tornar sustentável, podemos migrar para outros sistemas como o monotrilho ou mesmo o VLT", aponta o secretário.

 

Análise interativa


Para avaliar as opções de transporte rápido de massa existentes, o ITA utilizou uma abordagem metodológica chamada Avetec, ou Abordagem Vetorial do Tecido de Cidades. A proposta dessa abordagem é traçar uma análise interativa dos componentes da cidade, considerando como vetores os aspectos fundamentais para idealização do sistema mais adequado à realidade local. "Levamos em consideração as características da cidade, os tipos de transporte que podem ser utilizados, por onde esse transporte irá transitar e as características do próprio passageiro, que será o usuário do sistema", enumera o professor do ITA e coordenador do estudo, Eugênio Vertamatti.

 

Os aspectos considerados no caso de São José dos Campos foram reunidos em quatro vetores: Vetor Cidade, Vetor Passageiro, Vetor Transporte e Vetor Corredor. O foco em todos os casos foi priorizar o uso da cidade. Os vetores, assim, foram avaliados isoladamente, em um primeiro momento, e depois cruzados para definir a "resultante" - ou seja, a solução mais adequada. No caso de São José dos Campos, a resultante se materializou num conjunto de recomendações para o traçado das linhas do sistema e implantação do BRT.

 

Segundo o secretário de planejamento, o estudo está disponível para consultas na prefeitura e online, uma vez que o método pode ser útil a outras cidades. "Fizemos uma adaptação de metodologia para estudar esse tipo de cenário, então os critérios podem ser aproveitados em qualquer cidade, basta seguir a metodologia, levantar os dados e analisar as opções existentes", indica.

 

Síntese com todos os polos geradores

 

 

Vantagens do BRT

No Vetor Transporte foram avaliadas as opções de tecnologias disponíveis que poderiam ser utilizadas em São José dos Campos, elencando vantagens e desvantagens, bem como os custos preliminares de implantação de cada uma delas, a partir de sistemas de TRM já implantados e consagrados em outras cidades do Brasil e do mundo.

 

"O BRT foi apontado como o que traria maior benefício para a população, porque leva menos tempo para começar a funcionar, além de representar um custo menor e poder atingir uma malha maior", resume o professor do ITA Eugênio Vertamatti.

 

A perspectiva é que o custo mais baixo seja refletido também no preço da tarifa, posteriormente, estimulando o uso do sistema pelo usuário. "O BRT ficaria mais barato para o usuário, porque o custo de implantação é o menor de todos, então fatalmente isso implica uma tarifa menor, mesmo que a prefeitura ainda não tenha definido a política de bilhetagem", avalia o especialista.

 

Além de apontar o BRT, o estudo traçou outras recomendações que podem integrar o TRM de São José dos Campos. Uma delas foi o desenvolvimento de tecnologias próprias pela cidade, que possui um reconhecido parque industrial e tecnológico. "Temos indústrias nacionais que podem criar um veículo especial, fazer o ônibus com alguns incrementos - ele pode ter sistemas de controle semafórico, por exemplo, pode envolver tecnologias eletrônicas que facilitariam bastante o uso e aumentariam a eficiência", exemplifica o coordenador da análise.  

 

Além disso, o ITA recomendou que a complementação do sistema, no futuro, priorize o uso de monotrilhos. "Tanto BRT quanto VLT andam no mesmo nível da cidade. Se fosse partir para um novo sistema, aí a gente indicou o monotrilho, porque ele tem uma vantagem: faz o transporte fora do plano de movimentação da cidade. Então, apesar de ter um custo de implantação mais significativo que o BRT, ele teria esse ganho por ser aéreo", explica Eugênio Vertamatti.

 

Trajeto da linha férrea, em marrom, não perpassa grande parte dos polos de atração

 

Cidade e passageiro

No Vetor Cidade, foi analisada a demanda existente ante os diferentes usos urbanos do município, atual e futuro. "O Vetor Cidade leva em conta as peculiaridades do município, o sistema de área atual, as estradas existentes, a ocorrência das linhas férreas, os locais onde se concentram as escolas, hospitais, parques etc.", exemplifica Vertamatti.

 

A existência de grandes avenidas em São José dos Campos apareceu como outra vantagem para a implementação de um sistema sobre pneus, já que é possível aproveitar a estrutura existente e entregar o BRT em menos tempo, se comparado a um sistema que demandaria a estruturação dos trilhos.

 

"Descartamos a possibilidade de usar o ramal férreo que corta a cidade porque ele foi implantado numa realidade que não é a de hoje. Quando essas linhas foram implantadas no País, elas tinham um sentido de escoar a produção e o que acontece, em alguns casos, é que a linha anda e chega num local onde não tem demanda de passageiro - ou seja, o transporte não estaria onde está o passageiro", justifica.

 

A premissa adotada pelo ITA para traçar as recomendações foi atender o máximo de usuários possível. Para isso, as linhas projetadas devem responder às demandas da população nos pontos onde há grande concentração de pessoas e nos pontos de geração de passageiros - aqueles que provocam deslocamentos, como universidades, shoppings, centros de eventos, hospitais, postos de saúde, grandes condomínios, conjuntos residenciais e comerciais etc.

 

 

Nível de atendimento das linhas

Após a avaliação dos diferentes aspectos reunidos nos vetores, o ITA apontou uma sugestão para o traçado de seis linhas para compor o TRM de São José dos Campos, que somam aproximadamente 100 km. A proposta busca atender o maior número possível de polos geradores e de atração e, ao mesmo tempo, prever o atendimento das regiões com tendência de maior incremento populacional.

 

Para atingir esses objetivos, no Vetor Passageiros, o estudo projetou a perspectiva de crescimento e distribuição da população nos próximos 15 anos. De acordo com o ITA, a expectativa é que, com uma taxa de crescimento de 1,5 % ao ano, segundo dados do IBGE, a população atinja cerca de 730 mil habitantes, num crescimento não uniforme entre os setores socioeconômicos da cidade.

 

Assim, cruzando as projeções de aumento espacializadas por setores com os dados de congestionamento já existentes na cidade, o estudo priorizou atingir os bairros mais adensados, evitando novos pontos de congestionamento.

 

No Vetor Corredor, foram avaliadas ainda as condicionantes de relevo e características de solo consideradas decisivas para a especificação de corredores por onde o TRM deverá trafegar. "Se o corredor passa numa região de várzea, por exemplo, isso custa de duas a três vezes mais do que passar o transporte por um terreno regular. Então, a gente levou em conta a característica do terreno para se passar um sistema de transporte", cita o professor do ITA.

 

Nesse sentido, no conjunto de recomendações, a proposta foi aproveitar, ao máximo, os eixos com infraestrutura já existente e, ao mesmo tempo, evitar obstáculos naturais ou edificados, gerando assim o menor impacto possível no tecido urbano já consolidado.

 

"As pessoas já estão acostumadas com o trânsito de ônibus na cidade, então é só tirar o modelo atual de um atrás do outro e colocar o sistema de trânsito rápido, aumentando a capacidade de transporte de passageiros e reduzindo o tempo de viagens, sem causar nenhum impacto visual grande em relação ao que já existe", pontua Vertamatti.

 

Serviço

O estudo realizado pelo ITA contém 72 páginas que detalham as condições do transporte e o perfil socioeconômico de São José dos Campos, as alternativas de trechos para o TRM e as conclusões sobre a tecnologia a ser adotada. Também traz uma síntese de outras cidades onde foram realizadas visitas técnicas para conhecer sistemas e tecnologias disponíveis. Acesse o PDF.


Infraestrutura Urbana - Edição 35 - Fevereiro/2014


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