Ao menos sete trechos das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) podem apresentar dificuldades em sua construção. A principal seria na avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha). “Ninguém sabe o que tem aí embaixo”, destacou o professor e doutor do Núcleo de Estudos de Logística e Transporte da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luiz Miguel de Miranda.
Miranda, que é membro da Comissão de Acompanhamento da UFMT das Obras da Copa do Mundo, aceitou percorrer com o Diário os possíveis caminhos que o VLT fará entre Cuiabá e Várzea Grande, da região do CPA à avenida da FEB e do trevo do bairro Tijucal ao Morro da Luz. O percurso foi baseado no projeto do Bus Rapid Transit (BRT), que já tinha sido consumado bem antes da escolha do VLT.
Partindo do CPA, o especialista da UFMT explica que o VLT percorrerá o centro da avenida, nos canteiros, utilizando as duas faixas laterais. Um viaduto seria construído em frente à Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), para a passagem dos moradores da região. Antes, uma estação seria erguida próximo ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Mais a frente da Fiemt, próximo ao Supermercado Comper, ainda baseado no projeto do BRT, dois viadutos serão construídos para desafogar o trânsito, principalmente dos veículos que vão ou saem do bairro Bela Vista. Seriam viadutos com retorno. Para o professor, essa seria a primeira dificuldade enfrentada pelos executores, devido à estrutura da obra.
Por causa de construções como essa e pelo VLT ocupar a área central, todos os retornos conhecidos por quem trafega pela avenida não existirão mais. Pouco antes do viaduto da avenida Miguel Sutil também está prevista outra estação, assim como em frente ao prédio do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea). Em frente ao Hospital Ortopédico também haveria outro viaduto.
A segunda obra “complicada” é próxima à avenida Mato Grosso. O Ministério Público Estadual (MPE) vetou o primeiro projeto pensado que era a construção de um viaduto. O motivo seria a obstrução visual que a obra causaria ao Morro da Luz e ao sítio histórico que forma o Centro antigo da Capital. Por isso, foi pensada uma trincheira, uma passagem subterrânea, para o VLT percorrer. Assim o nível do solo seria o mesmo.
Em frente à praça Bispo Dom José também teria uma estação, segundo o professor, porém seria necessário colocar em prática as já citadas desapropriações, que, por sinal, não se iniciaram. Ali, para Luiz Miguel, começaria a parte mais crítica da obra, que é trabalhar na Prainha. Ele destaca que o problema é o desconhecimento do que se tem na parte subterrânea do trecho. “O meu maior temor é o que tem aqui embaixo”. Além disso, não será possível fazer um viaduto. “Não fazem mais viadutos dentro da cidade”, destaca o especialista sobre a área central, apontada como a terceira dificuldade nos projetos.
Depois desse trecho, fica a incógnita: é possível o VLT ir pela XV de Novembro, onde ocuparia a margem esquerda da avenida, ou permaneceria pela Prainha e continuaria ocupando o canteiro central em direção a Várzea Grande? Inicialmente, no projeto do BRT, estava previsto no terreno em frente ao supermercado Atacadão a construção de um Centro de Controle Operacional (CCO), responsável por “gerir” o trânsito da Capital, o que facilita (e muito) o tráfego do VLT, principalmente com o auxílio de câmeras.
“Na ponte [para Várzea Grande], o veículo vai ocupar o lado esquerdo. Isso é fácil de fazer. Depois dela tudo será desapropriado, tudo vai sair. Se você ver... as grandes empresas construíram com uma larga margem da pista. Antes, isso [avenida da FEB] era uma rodovia federal e eles respeitaram o espaço. Agora, os outros construíram próximos demais. Os que avançaram vão ser desapropriados”.