O número de carros não para de crescer no país. Com o aumento da frota, o Brasil já tem um automóvel para cada 4,4 habitantes.
São 45,4 milhões de veículos do tipo. Há dez anos, a proporção era de 7,4 habitantes por carro.
No último ano, só 19 das 5.570 cidades do país registraram uma diminuição na frota de automóveis (veja no infográfico o número de carros e de motos por habitante de cada cidade do país).
Cruzamento feito pelo G1 com base nos números de registros do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e nas estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013 revela que, das dez cidades com mais carro por habitante, nove estão na região Sudeste.
A campeã é São Caetano do Sul. São 99 mil veículos de passeio para uma população de 156 mil – uma média de dois veículos para cada três pessoas.
Uma das explicações para o índice é a alta renda per capita. A cidade é a que tem o maior Índice de Desenvolvimento Urbano (IDH) do país. “Além disso, o ABC é um dos berços da indústria automobilística do Brasil.
A população é apaixonada por automóvel”, diz o secretário interino de Mobilidade Urbana da cidade, Marcelo Ferreira de Souza.
Segundo ele, o boom de veículos nos últimos anos, parte em razão da rápida verticalização do município, tem provocado congestionamentos e complicado o tráfego.
“Como a área da cidade é pequena e toda urbanizada, fica difícil lidar com a malha viária, que está estacionada. A saída tem sido implantar semáforos inteligentes, por demanda de veículos, mudar alguns sentidos de vias. Mas há horários de pico em que a situação fica muito complicada”, admite.
Avenida Goiás, uma das principais de São Caetano do Sul (Foto: Sergio Castro/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Souza diz que a localização também é um agravante, já que São Caetano vira passagem para muitos moradores do ABC que têm como destino São Paulo. “A frota flutuante é bem maior que a do município.”
Para o economista Ladislau Dowbor, do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, o problema não é a quantidade de carros no país, e sim o modelo criado nas cidades para favorecer o transporte individual.
“Há muitíssimos países com uma densidade de automóveis por habitante maior, mas onde se circula normalmente. O problema no Brasil é que, por pressão política das empreiteiras e montadoras, se fez todas as infraestruturas para o automóvel, e não para o transporte coletivo.”
“O carro usado para a compra no supermercado, para o lazer à noite, não causa grande prejuízo. O absurdo é ter, numa cidade como São Paulo, 6,5 milhões de pessoas indo para o trabalho todo dia, para os mesmos destinos, de carro e na mesma hora”, afirma.
Dowbor diz que é preciso mudar a matriz de transporte brasileira. “Precisa tirar o combustível poluente, generalizar o uso da bicicleta, especialmente a elétrica, implantar mais ciclovias, reduzir drasticamente as emissões e os custos para as pessoas. É possível se deslocar em pouco tempo, de maneira barata, com uma opção de transporte ditada pela racionalidade e pela necessidade da população”, pontua.
Só um município do Brasil não possui nenhum automóvel registrado. Trata-se de Porto Walter, no Acre. O G1 esteve na cidade, de pouco mais de 10 mil habitantes, que só tem acesso por rio e não possui quase nenhuma rua asfaltada (leia a reportagem).
Em Porto Walter, no interior do Acre, acesso é por barco (Foto: Genival Moura/G1)
Recuo
Das 19 cidades com recuo na frota, cinco estão no Amazonas, três no Pará, duas no Espírito Santo, duas em Minas Gerais, duas no Piauí, uma no Ceará, uma em Pernambuco, uma no Paraná, uma no Rio de Janeiro e uma em Roraima.
Em Porto Real (RJ), como há uma unidade de uma montadora de veículos, uma das explicações da prefeitura é que parte dos carros emplacados para funcionários e para test-drive acaba sendo transferida depois para outras cidades. O déficit é o maior de todos: 258 automóveis em um ano.
As 19 cidades são a exceção de um país que teve mais de 2,7 milhões de novos carros registrados em 2013.
Motos
Já na cidade de Pereiro (CE), é difícil encontrar uma residência que não conte com uma moto. A cidade, que tem 16 mil moradores e 6,1 mil motos, é a que possui a maior proporção do tipo de veículo por habitante: são duas motocicletas a cada cinco pessoas aproximadamente.
O assessor da prefeitura, Damião Flávio Silveira, diz que a moto tem substituído animais como o jumento e o cavalo, antes utilizados como meio de transporte.
“Muitas pessoas vão para o corte de cana em São Paulo e quando voltam, com dinheiro, a primeira coisa que fazem é comprar uma moto. E aí tem o lance do status também”, diz Silveira, que cita a facilidade de obter empréstimos ou um financiamento como uma das explicações para o alto número de veículos de duas rodas no município.
“Na prefeitura quase todos os funcionários têm moto. Eu mesmo moro em Fortaleza, mas sempre que vou a Pereiro só ando de moto. Pego uma emprestada logo que chego. E não falta gente para me ceder uma”, brinca.
O país tem hoje 18 milhões de motocicletas – uma para cada 11 habitantes. O número é mais de três vezes o registrado em 2003 (5,3 milhões), quando a proporção era de uma moto a cada 33 pessoas.
A facilidade de compra e o baixo valor fazem com que a frota de motos seja maior que a de carros em 44% das cidades do país atualmente.
Para Dowbor, o aumento do número de motos preocupa, principalmente nas grandes metrópoles. “É desastroso. Em São Paulo, há uma morte e meia por dia. É um massacre. Isso sem contar os feridos e os custos para a saúde. Em Xangai (China), não há uma moto que circule nos espaços de carro. Há sistemas elétricos, que andam a 30 km/h, o que é razoável, permite se deslocar rapidamente e sem poluição sonora.”
Dados do Datasus, banco estatístico do Ministério da Saúde, mostram que a cada ano cerca de mil pessoas a mais morrem vítimas do trânsito no Brasil. São mail de 40 mil óbitos anuais hoje.
Veja o infográfico elaborado pelo G1 aqui.
Leia também:
Pesquisa de mobilidade na RMSP é divulgada pelo Metrô
Butão quer trocar sua frota por carros elétricos
Em Indaiatuba (SP), número de bicicletas supera a frota de carros