A cidade de Wuhan, no interior da China, com mais de oito milhões de habitantes, enfrenta sérios problemas de trânsito, destaca o The Wall Street Journal, em matéria reproduzida hoje (6) no jornal Valor.
O texto aponta um estudo feito em 2011 pelo banco UBS, mostrando que os automóveis trafegam pela cidade a uma velocidade média de 20,4 km por hora, mais devagar que em Nova York e Tóquio, por exemplo. O índice, porém, não deve espantar os paulistanos, já que a velocidade média na capital paulista no horário de pico é de 18,5 km/h (dado da CET).
O caso da China tem relação com o desafio desse país em fazer com que mais pessoas se mudem do campo para as cidades. Mas os engarrafamentos são "uma pedra" no caminho dos novos líderes da China, empenhados numa estratégia de urbanização para estimular o crescimento econômico.
Pedágio eletrônico
Wuhan está empreendendo uma frenética ampliação no seu sistema de metrô, com nove linhas sendo construídas simultaneamente. A cidade está erguendo também elevados e anéis rodoviários. Ainda assim, os congestionamentos continuam. Para tentar resolver o problema, Wuhan se tornou, dois anos atrás, a primeira cidade chinesa a cobrar pedágios eletrônicos no acesso ao seu movimentado centro comercial, a exemplo de metrópoles como Londres e Cingapura.
Mas, além de desagradar alguns motoristas, que dizem que os pedágios são caros e ineficazes, a iniciativa ilustra também os incômodos obstáculos ao desejo do governo chinês de trazer mais gente para as cidades. O sistema "não ajudou em nada a reduzir o tráfego devido ao número imenso de pessoas que precisam chegar ao trabalho", disse Efan Kang, que trabalha no setor financeiro.
Especialistas dizem que, para os sistemas de pedágio serem eficazes, essas pessoas necessitam de alternativas como um sólido sistema de transporte público, algo que Wuhan ainda está construindo.
No mês passado, o governo chinês reafirmou sua intenção de deslocar centenas de milhões de moradores da zona rural para as cidades a fim de aumentar a massa de consumidores e, assim, ajudar a diminuir a dependência da economia das exportações e dos gastos vultosos do governo. Mas muitos que já moram nas cidades receiam que a imensa população rural da China - que representa quase metade da população total, de 1,3 bilhão de habitantes - vai sobrecarregar escolas e hospitais e elevar a concorrência pelos serviços.
Os engarrafamentos são parte dessa equação. Numa pesquisa sobre os efeitos econômicos e emocionais do deslocamento para o trabalho feita em 2011 pela IBM, Pequim e Shenzhen ficaram atrás apenas da Cidade do México no nível de estresse dos motoristas.
Para lidar com os congestionamentos e a poluição - outra consequência funesta do crescimento -, o governo chinês afirmou no mês passado que vai cortar de 240 mil para 150 mil a cota anual de licenciamentos de veículos. Lanzhou, capital da Província de Gansu, no noroeste do país, informou recentemente que iria implementar um rodízio de veículos de acordo com o número das placas - semelhante ao que é feito em São Paulo.
Segundo a Prefeitura de Wuhan, mais de 1,45 milhão de veículos motorizados foram registrados na cidade até julho de 2013. Nos últimos cinco anos, Wuhan teve um aumento nos registros de automóveis de mais de 20% por ano. Enquanto isso, a malha viária aumentou só um pouco, de cerca de 12.600 km no fim de 2010 para perto de 12.875 no fim de 2011.
Os rios Yangtze e Han dividem Wuhan em três distritos principais conectados por um punhado de pontes e um túnel. Hoje, Wuhan tem somente duas linhas de metrô. "Há gente demais. O transporte público está longe de ser suficiente para atender a demanda", disse King Zhu, um profissional do setor imobiliário.
"Os engarrafamentos estão por toda parte. O metrô e os elevados estão sendo construídos ao longo de ruas vitais, estreitando vias, e os ciclistas de bicicletas elétricas sempre se misturam ao trânsito", disse Li Fuyuan, que tem 33 anos e é motorista de táxi em Wuhan.
Para aliviar suas congestionadas vias, Wuhan introduziu um sistema de pedágio eletrônico em 2011. Ele emprega um aparelho que os motoristas levam no carro e que automaticamente registra a cobrança. O sistema cobra pelo menos oito yuans (US$ 1,30) toda vez que o motorista passa por uma das pontes ou pelo túnel. Os motoristas têm a opção de comprar um cartão anual de uso ilimitado. Ônibus e táxis pagam 500 yuans pelo cartão e os motoristas individuais privados, 2.400 yuans.
Kang, o funcionário do setor financeiro, disse que embora a cidade esteja ampliando sua infraestrutura de transporte num ritmo acelerado, ela ainda está longe de se equiparar ao aumento do número de carros. "O trânsito está insuportável", disse.
Fang Ke, um especialista em transporte do Banco Mundial que trabalhou ativamente nos projetos de transporte em Wuhan, disse que algumas estratégias que estão sendo adotadas para aliviar os congestionamentos podem na verdade agravar o problema. Vias elevadas, por exemplo, poderiam deixar as pessoas presas no alto, disse.
"Wuhan escolheu o modelo de desenvolvimento errado [...] Se continuarem usando essa abordagem, eles vão ter problemas sérios."
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