Em defesa da mobilidade urbana sustentável

Evento em São José dos Campos reúne técnicos, políticos e ativistas para debater políticas de mobilidade urbana e soluções sustentáveis para as cidades brasileiras

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 01 de novembro de 2013

Em defesa da mobilidade urbana sustentável

Seminário de especialistas: auditório lotado

créditos: Lauro Rocha / LR Foto

 

Um bairro compacto, com universidade, locais de trabalho, centros e lazer, comércio e residências está sendo construído em Palhoça (SC) na Região Metropolitana de Florianópolis. Os edifícios têm poucas vagas nas garagens e toda a infraestrutura está sendo realizada para estimular o uso das ruas por pedestres e ciclistas. 

A iniciativa é do empresário Valério Gomes Neto, um dos palestrantes do Seminário Nacional de Mobilidade Urbana, realizado na terça e quarta-feira (29 e 30) na cidade de São José dos Campos (SP). O empreendimento em Palhoça não é um condomínio. Está integrado à cidade e seus edifícios não têm muros ou grades de proteção. Mais, o empreendedor estimula a instalação de casas de comércio nos pisos baixos de cada prédio e ele mesmo está abrindo uma bicicletaria emum dos pontos comerciais. Gomes é uma dessas pessoas que esteve em Copenhague, na Dinamarca, e voltou encantado com as possibilidades de uso da bicicleta no meio urbano.

O estímulo à bike, aliás, foi quase uma unanimidade entre os palestrantes do evento, incluindo o editor do Mobilize, Marcos de Sousa, que enfatizou a necessidade de integração entre os meios de transporte público, incluindo calçadas e sistemas de bicicletas públicas.

Organizado pela Associação de Engenheiros e Arquitetos de São José dos Campos (AEA) com apoio do Conselho de Arquitetos e Urbanistas de São Paulo (CAU/SP), o evento reuniu arquitetos, engenheiros, gestores municipais, estudantes, políticos, empresários e ativistas, principalmente da região do Vale do Paraíba, para debater conceitos de mobilidade urbana. A realização do encontro na cidade coincide com o início de uma série de ações para reduzir o espaço do automóvel e estimular o uso do transporte público pela população local.

Em uma das atividades, os participantes fizeram uma viagem em ônibus articulado pelas faixas exclusivas recém-implantadas pela prefeitura local. Trata-se de uma iniciativa de baixo custo, realizada basicamente com sinalização e algumas obras de ampliação de calçadas. Curiosamente, mesmo com a aparente redução das faixas de circulação de carros, o tráfego local ganhou maior fluidez e os ônibus conseguiram aumentar sua velocidade em até 70%, comemora a engenheira Athanasia Janet Michalopoulos, responsável pelo projeto. Em breve, explica ela, a cidade terá estações para agilizar o embarque e desembarque e aumentar a velocidade de circulação dos coletivos. 

Mais adiante, a prefeitura espera implantar uma linha de veículos leves sobre trilhos na região central da cidade para atrair os usuários mais resistentes à ideia de deixar o carro em casa. Explica-se: São José dos Campos tem mais de 50% de suas viagens diárias realizadas por carros, taxa muito acima da média nacional, em torno de 30%. E nos anos 1970, quando passou a receber indústrias e centros de tecnologia, como a Embraer e o CTA, a cidade “repaginou” o sistema viário para facilitar a circulação do trânsito de automóveis, na época visto como a melhor solução de mobilidade.

No entanto, andar a pé e atravessar os cruzamentos de suas largas avenidas é tarefa desconfortável e perigosa para simples pedestres ou ciclistas. E como a cidade não quer repetir os erros de Rio, São Paulo e outras capitais, as autoridades decidiram que é hora de mudar o modo de circulação.


Entre outros convidados, a organização do encontro trouxe ao Brasil o engenheiro Germán Madrid, especialista em calçadas e passeios públicos e um dos responsáveis pela renovação da mobilidade em sua cidade, Medellín. O simpático Germán explicou que até os anos 1990, a cidade colombiana não tinha um sistema de transporte público. Os famosos teleféricos Metrocable, os corredores de ônibus e agora o VLT nasceram pela necessidade de aumentar a presença do poder público nos bairros e reduzir a influência do crime organizado. E daí, Medellín se tornou uma referência mundial. Germán lembrou também que a cidade colombiana está trabalhando agora para implantar um esquema de bicicletas públicas, como sistema complementar de transporte, além de uma linha de VLT e mais duas linhas do tal Metrocable.

Apresentação do Mobilize durante o encontro em São José dos Campos

 
O seminário também teve a presença do arquiteto Ricardo Correa, da TC Urbes, que mostrou uma série de propostas de melhoramento e humanização das cidades. Correa apresentou, por exemplo, desenhos para a implantação de uma ciclovia na av..Paulista, em São Paulo, que seria viável simplesmente com a mudança das faixas de ônibus para o centro da pista. Apresentou também desenhos para a remodelação da av. Nove de Julho, com a abertura do rio canalizado e sua utilização para a navegação, além da instalação de linhas de VLT e ciclovias ao longo da avenida. “Apesar da redução das pistas para carros, a avenida ficaria com a mesma capacidade de transporte de passageiros e cargas”, disse Correa, hoje colaborando com a prefeitura de São José dos Campos.

O encontro contou ainda com a participação de Afonso Celso Bueno Monteiro, presidente do CAU/SP, Anna Dietzsch (DBB Brasil), Celimene Machado de Faria Arantes e Erika Maria Siqueira (Prefeitura de Goiânia), Carlos Vilhena de Paiva (AEA), Eduardo Savine Mayr (Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas), Erika Mota (Ruas do Futuro), Jary Castro (Crea/MS), Natália Garcia (Cidades para Pessoas) e Victor Mirshawka (Universidade Mackenzie), além dos mediadores e debatedores Lincoln Delgado e Giuliana Fiszbeyn.


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