No último final de semana, a equipe do Mobilize Brasil esteve em Aracaju (SE) para realizar um levantamento sobre as condições das calçadas da capital sergipana. A atividade foi um trabalho de preparação para a palestra realizada pelo jornalista Marcos de Sousa, editor do Mobilize, dentro do Projeto Aracaju Acessível, iniciativa do Instituto Iluminar e do vereador Lucas Aribé Alves (PSB).
Em suas caminhadas pela cidade, a equipe encontrou calçadas com boa largura, relativamente planas e praticamente isentas de degraus. Parece uma boa notícia, mas não é.
A boa largura se perde com a profusão de barreiras que impedem a passagem de pedestres e cadeirantes. Entre os obstáculos, os mais presentes são os automóveis, que insistem em usar as calçadas como estacionamento.
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Há também excesso de buracos, pedras soltas, tampas de serviços desniveladas e restos de todo tipo de mobiliário urbano esquecido ao longo dos anos, situação comum em várias capitais brasileiras.
Calçadas do Brasil
A avaliação foi realizada no sábado (14), em pontos de grande movimento de pedestres, tomando como base o formulário criado em 2012 para a Campanha Calçadas do Brasil. Na segunda-feira (16), o editor do Mobilize participou de um seminário do Projeto Aracaju Acessível, ao lado de Nélson Felipe da Silva Filho, da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), e do urbanista Wellington Costa, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Sergipe.
No encontro, Marcos de Sousa apresentou alguns resultados do levantamento. A cidade levou as notas mais baixas em três quesitos: rampas de acessibilidade, sinalização para pedestres e paisagismo de conforto nas calçadas.
Rampas de acessibilidade adequadas, construídas em acordo com a norma NBR 9050 são raras na capital sergipana. Em geral, elas são estreitas, têm inclinação exagerada e estão muito mal conservadas, com pequenas valas que praticamente impedem a passagem das rodas. "Cadeirantes ficam empacados", reconheceu o superintendente da SMTT, Nélson Felipe, em sua palestra durante o seminário.
E não é raro que as rampas existam apenas de um lado das ruas, sem permitir a continuidade da viagem de quem anda, roda ou empurra um carrinho de crianças ou mala com rodízios.
Outro problema grave é a falta de sinalização. Quase não há semáforos para pedestes, embora exista uma promessa de instalação desses equipamentos com indicadores de tempo e sonorizadores de alerta para deficientes visuais.
Por enquanto, os pedestres são obrigados a esticar o pescoço e tentar enxergar se o sinal já fechou ou abriu. Depois, têm de firmar a vista para enxergar onde está pintada a faixa de travessia: nove em cada dez faixas de Aracaju estão apagadas, dificultando a vida de pedestres e também dos motoristas, que não sabem exatamente onde parar seus veículos.
Aracaju é uma cidade plana, ótima para longas caminhadas, especialmente pela manhã e à noite, quando o sol já se pôs. Durante o dia, o pedestre precisa encontrar caminhos pela sombra, coisa também rara em climas tropicais. Enfim, quem caminha sente falta de algum paisagismo, com árvores, canteiros de flores ou qualquer cobertura vegetal que reduza a sensação de calor. E alguns bancos para descanso.
Uma das avenidas, a Adélia Franco, tem uma belíssima cobertura vegetal. Mas sob as árvores, o passeio é uma trilha radical, com obstáculos de todos os tipos. Bastaria refazer o pavimento, incluir rampas e alguns bancos, e Aracaju teria um excelente exemplo de calçada cidadã. Por conta desse trecho a via ganhou nota 8 em paisagismo.
Aracaju: 14 locais avaliados (notas de 0 a 10)
Um dos pontos mais críticos foi encontrado numa das poucas ladeiras da cidade. Trata-se de um trecho da av. Pedro Calazans, área histórica da capital, onde sequer há calçada. Ali os pedestres arriscam-se em pequenas faixas de concreto, degraus, montes de lixo e buracos. Ou são lançados para a pista, onde veículos trafegam em alta velocidade. A nota média nesse local não chegou a 2, numa escala de zero a dez.
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No centro, encontramos a Praça Fausto Cardoso (foto ao lado), lugar que já recebeu a visita do Imperador D. Pedro II. Implantada às margens do rio Sergipe, a área tem um rico tratamento paisagístico e recentemente foi reformada para adequações de acessibilidade: faixas de concreto foram construídas sobre os pisos de mosaico português permitindo a livre circulação de cadeirantes. E faixas de piso tátil complementam o tratamento, para alívio dos deficientes visuais. A praça não recebeu nota 10 apenas por conta de alguns problemas localizados, que exigem manutenção. Ficou com 9,65, embora seja um local considerado "fora de moda" pelo aracajuano.
A destacar, ainda, os calçadões da av. Treze de Julho, na orla do rio Sergipe, que permitem a livre circulação de pedestres e ciclistas. A maior falha ali é a falta de rampas de acessibilidade. Nota 8,87.
Ciclovias e ônibus
Nota mais alta poderíamos atribuir à malha de ciclovias que a cidade construiu ao longo dos últimos anos. Hoje são 55 km, parte deles com excelente infraestrutura de pavimento e sinalização. Um bom exemplo para as capitais do Nordeste.
Por fim um alerta: um dos terminais de ônibus mais movimentados de Aracaju (Terminal do DIA) encontra-se em péssimo estado de conservação e talvez seja um indicador da má qualidade do transporte público na capital sergipana. Mesmo num sábado, os coletivos estavam saíam lotados, o que certamente afugenta uma parte da população que hoje não abre mão do carro. Aracaju tem uma população de 615 mil habitantes (IBGE 2013) e uma frota que já passa de 550 mil veículos motorizados.
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