Quatro semanas depois de a presidente Dilma Rousseff anunciar um investimento de R$ 50 bilhões para o transporte público, um dos cinco pactos firmados na tentativa de amenizar os ânimos dos protestos que sacudiram o país no mês passado, moradores da capital mineira ainda testemunham o desperdício do dinheiro público destinado à mobilidade urbana.
A reportagem do jornal O Tempo percorreu o trecho entre os bairros Calafate e Gameleira, na região oeste da cidade, onde, há mais de dez anos, tiveram início as primeiras obras para a implantação da linha 2 do metrô, que atenderia, principalmente, a região ao Barreiro, ainda sob a responsabilidade da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
Quem vive às margens das estruturas esquecidas e cobertas pelo mato relata o descaso do poder público e conta como o espaço virou esconderijo para bandidos e usuários de drogas.
Esqueleto do que seria uma estação do metrô para uso da população, mas hoje só serve como esconderijo para criminosos
Apenas um muro e grades em péssimo estado de conservação separam o final da rua Zurick do local por onde passariam as composições. Mas, ao invés dos trilhos do metrô, o que se vê são os esqueletos de uma estação de embarque, tomada pelo mato e se deteriorando pela ação do tempo e pela falta de manutenção.
O plano da CBTU era aproveitar o ramal férreo como parte da Linha 2, mas a estrutura de concreto nunca chegou a ser concluída, e apenas trens de carga circulam no trecho. “A gente sabe que tem pessoas que assaltam os moradores do bairro e, depois, correm para cá, pois está tudo abandonado”, conta o garçom João Ferreira, 58.
Menos de 200 metros adiante, o chão coberto por pedregulhos e mato dá lugar à terra batida, um resquício da terraplenagem que começou a ser feita em 1998. Aliás, a “novela” das intervenções no local é marcada por períodos de interrupção e retomadas. Segundo a CBTU, até 2004, cerca de 38% do projeto já havia sido implantado a um custo de R$ 58 milhões. Mas, no ano seguinte, a obra foi suspensa. O órgão não informou o motivo ou porque os materiais que seriam utilizados, como dormentes para trilhos, continuam no local, apodrecendo.
Além do recurso informado, outros R$ 15 milhões foram liberados pelo governo federal em 2009, o que permitiu retomar o contrato com a empresa responsável e finalizar os projetos de engenharia. “Quando uma obra para, ela fica mais cara ao ser retomada. A terraplenagem, por exemplo, é perdida com as chuvas, já que a drenagem não é feita. Se não tiver continuidade, não adianta”, avalia o engenheiro da Universidade Fumec Márcio Aguiar.
Desperdício
-Gasto: Segundo a CBTU, ainda seriam necessários R$ 734 milhões para a conclusão de todas as obras civis necessárias no trecho de cerca de 10,5 km da Linha 2, implantação dos sistemas operacionais e aquisição de dez trens com seis carros cada.
-Desapropriações: Até 2004, 16% das famílias que seriam despropriadas já haviam saído do local.
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