O aumento da passagem foi a gota d'água, que fez transbordar o copo, mas há uma quantidade grande de motivos com os quais os brasileiros estavam irritados. Desde razões econômicas, como baixo crescimento e inflação - principalmente a de alimentos, que tirou renda - até a insatisfação com a política em geral. Os políticos estavam desprezando os sinais emitidos pela sociedade.
Mas fiquemos na questão da mobilidade urbana. Os governos, há muito tempo, investem pouco em transporte público. Esse velho problema brasileiro se agravou muito nos últimos anos, porque ele incentivou demais, em excesso, a compra de carros sem ter criado uma infraestrutura para a circulação de automóveis e ônibus. O direito de ir e vir ficou encurralado.
Um dos mecanismos pelos quais o governo incentivou a compra de carro foi muito lesivo ao transporte em geral. Eu explico: em janeiro de 2008, começou a redução do imposto que incidia sobre a gasolina, a Cide. E esse dinheiro tinha um destino: pela lei, tinha de ser investido em infraestrutura de transporte e redução da poluição provocada pelo uso da gasolina.
R$ 22 bi poderiam ter sido investidos em infraestrutura de transportes
Segundo o CBIE, o governo deixou de arrecadar, desde o início da redução da Cide até a sua eliminação, R$ 22 bilhões que poderiam ter sido investidos naquelas áreas que citei.
Muito mais racional do ponto de vista econômico e social era ter feito com que o carro particular pagasse mais e usar o dinheiro da Cide na infraestrutura de transporte.
O governo fez essa insensatez, achando que assim conseguiria administrar a inflação. Mas não conseguiu. A inflação subiu. As pessoas também passaram a comprar mais gasolina, o que fez aumentar o déficit na balança comercial, e provocou prejuízos à Petrobras e à cadeia do etanol. Como se vê, uma política pública completamente equivocada.
O Brasil tem uma enorme oportunidade, com esse movimento, de discutir profundamente as escolhas feitas pelo governo. Esse é um momento de conversar sobre o país. É esse o recado das ruas.
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