Em maio de 2009, a Secretaria de Esporte e Lazer de Curitiba inaugurava o primeiro trecho da ciclovia da Linha Verde Sul.
À época, a escolha da pasta para o evento foi criticada por cicloativistas por demonstrar que a obra não pretendia integrar a bicicleta como modal de transporte. Passados quase quatro anos, as críticas agora parecem fazer sentido. No local, há apenas quem busca lazer ou faz pequenos trajetos e a maior parte dos ciclistas ainda prefere se arriscar em meio aos ônibus na canaleta.
Esse é caso de Emerson Lourenço, que leva 50 minutos pedalando entre a casa dele, no Pinheirinho, e o local onde trabalha, na Avenida das Torres, e diz evitar a ciclovia da Linha Verde. “Uso a canaleta porque é mais prática, pois você não precisa parar em semáforos e atravessar de um lado para o outro. Na ciclovia, eu levaria uns 20 minutos a mais”, afirma o vigia de 31 anos.
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Segundo o arquiteto e urbanista Rafael Sindelar Barczak, mestre em Gestão Urbana pela PUCPR, a ciclovia da Linha Verde pode ser entendida como um exemplo mal acabado do que hoje é a malha cicloviária de Curitiba. “Aquilo, na verdade, não é uma ciclovia. É uma circulação compartilhada – uma calçada com capa de asfalto – que não tem guia rebaixada na maior parte das intersecções e fica sem conexão em alguns pontos”, afirma.
A reestruturação da ciclovia da Linha Verde, que deve chegar a 18 km com a conclusão das obras no trecho norte da pista, faz parte de um plano de expansão da malha cicloviária na cidade. O projeto, que está sendo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), promete nortear a construção de 300 km de espaços exclusivos para bicicletas e requalificar os 118 km já existentes.
“Queremos um plano de desenvolvimento para cada regional, elaborado a partir das opiniões das pessoas que usam as bicicletas. Queremos ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas para ter um sistema funcionando em toda a cidade”, diz Sérgio Pires, presidente do Ippuc.
Barczak apoia a iniciativa da atual gestão municipal, que descartou o Plano Diretor Cicloviário – documento da antiga administração municipal para o setor. “A cidade precisa de rotas ‘cicláveis’ voltadas ao trabalhador. As nossas ciclovias são voltadas ao lazer e ligam o ‘nada ao lugar nenhum’”, criticou o arquiteto.
Enquanto o novo plano cicloviário não sai do papel, porém, o primeiro projeto da prefeitura para o setor foi exatamente para promover o lazer. Batizado como Ciclolazer Curitiba, o percurso da Avenida Cândido de Abreu substitui o Circuito Ciclofaixa, rota criada em 2011 e que sofreu críticas de usuários por estar no lado errado das ruas (esquerdo e não o direito).
Moradores exaltam segurança de via em “ziguezague”
Encontrar ciclistas trafegando pela ciclovia da Linha Verde não é uma tarefa fácil. A maior parte deles está na canaleta da via – que por não contar com cruzamentos torna o deslocamento mais rápido, mas também muito mais perigoso. Mas há quem use a faixa exclusiva para bicicletas em momentos de lazer ou para realizar curtos deslocamentos.
O espaço, por exemplo, serve às necessidades da instrumentadora cirúrgica Roseli Bellon, 37 anos. No final da tarde da última quarta-feira, ela pedalava no ziguezague da pista. O desenho do circuito é um dos efeitos criticados por cicloativistas, mas divertia o filho dela, Luiz Manoel Sales de Souza, de 3 anos.
“Estou criando meu terceiro filho no Fanny [bairro vizinho da Linha Verde] e antes tínhamos de pedalar nas ruas, no meio de carros e ao lado de terrenos com mato alto. Agora, pedalo com segurança”, afirma.
Mesma segurança que atrai Jonatas Costa Aguiar, 19, usuário diário da ciclovia no trajeto entre a empresa na qual trabalha e sua casa. Ele, porém, faz ressalvas em relação à sua utilização. “Pedalo só 3 km. Por isso prefiro evitar a canaleta, que é muito perigosa”, afirma.
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