Para isso, algumas delas instituíram um "coordenador de mobilidade", que analisa qual é a melhor forma de os membros da equipe fazerem o caminho até o trabalho.
No Brasil, os moradores da Grande São Paulo são os que mais demoram para chegar à empresa. Gasta-se, em média, 42,8 minutos nesse trajeto. É um dos mais altos índices do mundo, de acordo com uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicada neste ano. No Rio, a média é um pouco menor: 42,6 minutos. Em Porto Alegre, são 27,7 minutos; em Xangai, mais de 50.
O Banco Mundial está implementando um projeto-piloto em São Paulo e na Cidade do México para que as empresas passem a interferir mais no deslocamento de seus funcionários até o trabalho. "A meta é reduzir o número de pessoas dirigindo sozinhas", afirma Andréa Leal, da unidade de desenvolvimento sustentável da instituição.
O projeto propõe uma série de medidas a companhias com escritórios em dois conjuntos comerciais em São Paulo, o WTC (World Trade Center) e o Cenu (Centro Empresarial Nações Unidas).
Leal conta que 80 estabelecimentos com escritórios nesses conjuntos foram convidados a participar de palestras, e 20 aderiram.
Uma das sugestões é trocar o subsídio ao estacionamento por outro tipo de benefício -pagar uma mensalidade de academia, por exemplo.
O Banco Mundial também pede que as empresas adotem soluções de caronas -a sugestão é entrar no Caronetas, um site que permite aos funcionários das empresas cadastradas descobrir quem são os colegas que moram perto e, assim, dividir carros e custos.
Também há medidas que interferem na forma de organizar o trabalho, com o objetivo de reduzir deslocamentos. Uma delas é que cada pessoa trabalhe de casa uma vez a cada 15 dias, pelo menos. Outra estratégia é adotar a chamada semana comprimida, ou seja, elevar a carga horária do funcionário em determinados dias da semana para que ele ganhe uma folga em outro.
O hotel Hilton, um dos que aderiram ao projeto, iniciou um plano de mobilidade para os novos funcionários, conta Suzana Cardoso, 32, a gerente de marketing da empresa.
A equipe de Cardoso é responsável por um estudo que oferece dicas sobre os melhores trajetos utilizando o transporte público, explicações de como funciona o Caronetas e outras sugestões.
Os funcionários que recebem o plano ficam "aliviados", ela diz. "Há uma insegurança ao entrar em um novo trabalho e a questão de como chegar contribui para isso. Apresentamos os dados de uma maneira simples e em um lugar só, e eles agradecem bastante."
Uma das dicas é o contato dos Bike Anjos, uma ONG que auxilia interessados em fazer o trajeto pedalando -eles dão palestras sobre como enfrentar o tráfego em grandes cidades e também acompanham, individualmente, pessoas que têm receio de utilizar a bicicleta como meio de transporte.
Não é o caso do arquiteto de solução Igor Osch Simões, 32, que trabalha nas imediações da avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, na zona sul de São Paulo, onde a mensalidade de um estacionamento custa cerca de R$ 500.
Há dois anos, ele faz o caminho de casa para o trabalho pedalando. O trajeto é de até 12 quilômetros, dependendo da rota escolhida.
"Acham que sou 'anormal' por me propor a andar de bicicleta, mas muita gente quer saber como é, como faço", afirma.
Hora do banho
Simões conta que tenta convencer os colegas a usar a bicicleta para ir trabalhar, mas não consegue. A maior resistência, ele diz, é pela falta de chuveiros -mais ainda do que o medo de acidentes.
"Todo mundo sabe que [a empresa] não tem um bom vestiário, com chuveiro. Eu explico que trago a camisa dobrada."
A empresa de Simões, a Compuware, aderiu ao programa do Banco Mundial.
As impressões dele batem com os dados da organização. Leal destaca que uma pesquisa apontou que 20% dos funcionários do conjunto iriam de bicicleta caso houvesse infraestrutura para isso. As empresas estão estudando como melhorar os vestiários.
Os porquês
Para implementar o programa, o Banco Mundial chamou o consultor norte-americano Peter Valk, especialista em gestão de demanda por viagens.
Ele explica que, nos EUA, há cidades que obrigam os empregadores a ter um plano de mobilidade para os funcionários.
Para ele, as companhias também se beneficiam desses planos. Valk aponta que, se quiserem manter os bons funcionários, as empresas precisam "agradá-los", e essa é uma maneira de fazer isso. Há ainda redução de custos com estacionamentos.
Outro motivo que faz com que o empregador se preocupe com a viagem do funcionário é a produtividade, diz Felipe Moura Xavier, 26, dono de uma cantina de comida italiana em Itapecerica da Serra e de uma escola de inglês em Cotia, ambas na Grande São Paulo.
Ele afirma ter usado o site de recrutamento TrabalhandoPerto.com para contratar um barman, um garçom e um professor que moram a, no máximo, 10 quilômetros dos estabelecimentos.
O site cruza dados de empregadores e candidatos que estão próximos. "A justificativa para atrasos era quase sempre o trânsito. E, se tem um acidente [no caminho], eles perdem metade do dia de trabalho", afirma Xavier.
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